quinta-feira, 3 de julho de 2014

Confusão e cristianização gerais na política


Eleições 2014. Muita coisa para dizer. Tem aquele poema do Drummond: “João amava Teresa que amava Raimundo/
que amava Maria que amava Joaquim/ que amava Lili/que não amava ninguém”. Tem aquele título de Marcel Proust: “Em busca do tempo perdido”. E tem aquele livro de Roger Bastide: “Brasil, terra de contrastes”. E tem o bordão popular: em ano de eleição ninguém é de ninguém. Vejamos o quadro. Os partidos vem fazendo alianças de todos os tipos. O PT, que promete corrigir o rumo, apertou de novo a mão de Paulo Maluf em São Paulo. O PP, que se apresenta no Rio Grande do Sul como uma alternativa séria contra a corrupção federal, não pensa em pedir a expulsão de Maluf, tido como decano dos corruptos, e divide-se quanto ao apoio à Dilma Rousseff em convenção com ar de comédia pastelão.
O PSB quer ser a terceira via, o caminho para a mudança, com seu candidato à presidência da República, Eduardo Campos, que até outro dia era cabo eleitoral de Lula e de Dilma. Estranhamente, no Rio Grande do Sul, o PSB vai junto com o PMDB, que, nacionalmente, continua com Lula e Dilma. Em São Paulo, o PSB vai com o PSDB, principal adversário do petismo. Já no Rio de Janeiro, o mesmo PSB vai com o PT. Durma-se com uma confusão dessas. O PDT gaúcho, que até dezembro estava no governo de Tarso Genro, vai com o DEM, inimigo mortal do petismo. Vieira da Cunha, candidato ao governo pelo PDT, disse no Esfera Pública, que não pode apoiar o PT em nível nacional por causa do vínculo desse partido com a corrupção, embora Carlos Lupi, presidente nacional do PDT, ame Dilma Rousseff e o PT. O prefeito de Porto Alegre, o pedetista José Fortunati, que votará em Vieira, participará do comité suprapartidário da campanha de Dilma. Vai cristianizar geral! Em 1950, o PSD lançou Cristiano Machado à presidência da República. Os seus eleitores votaram em Getúlio Vargas, que concorreu pelo PTB. Criou-se o verbo cristianizar. Nunca mais saiu de moda. Vai emplacar de novo.
O PDT tem como candidato ao senado o antipetista Lasier Martins. A tendência é que o eleitor do PP cristianize o seu candidato ao senado e vote em Lasier, estabelecendo uma aliança informal mais coerente ideologicamente entre Lasier e Ana Amélia, mas entre PP e PDT. O eleitor de Lasier Martins, por outro lado, que não é pedetista, cristianizará Vieira da Cunha e votará em Ana Amélia. Lasier e Ana Amélia têm em comum o jornalismo, a RBS, a oposição ao PT e uma visão de mundo liberal-conservadora. Já o eleitor pedetista mais à esquerda, insatisfeito com as apostas do partido para deixar de ser coadjuvante, poderá cristianizar o midiático Lasier Martins e votar no petista Olívio Dutra.
Beto Albuquerque dificilmente escapará da cristianização. O seu eleitor, poderá, pelo voto útil para barrar Lasier, correr para Olívio. As certezas são: petistas irão de Tarso e Olívio. Antipetistas desencantados com a política e encantados midiaticamente irão de Ana Amélia e Lasier. A campanha poderá fabricar surpresas. Os candidatos acreditam nas suas capacidades de convencer. No país dos contrastes, onde um mensalão é petista e o outro, o tucano, é mineiro, ficamos entre Proust, Drummond e Bastide. Em busca da coerência. Tempo perdido? O PMDB gaúcho vai de Campos e de Aécio. Cristianizará Michel Temer, presidente nacional da sigla, candidato à vice-presidência na aliança com o PT.
Nem o moderado José Ivo Sartori, candidato do PMDB ao governo do RS, escapará da cristianização. Muitos peemedebistas irão, por ideologia, atalho ou admiração pela celebridade, direto de Ana Amélia Lemos.
Políticos querem que se vote em partidos, mas se aliam com pessoas. Por razões pessoais e de poder.

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