Olimpíada de Inverno perde candidatos a sede
Por CHRISTOPHER CLAREY
PARIS - Como se os Jogos Olímpicos de Inverno já não enfrentassem ameaças suficientes à sua existência, com o aumento das temperaturas e o derretimento de geleiras, agora ninguém está muito interessado em sediar a competição enquanto resta neve suficiente no planeta. O que, no passado, era uma disputa para sediar a Olimpíada de Inverno de 2022 se tornou uma corrida para encontrar a saída de emergência.
Munique e um projeto suíço que combinava Davos e St. Moritz desistiram de sua candidatura depois de referendos. Estocolmo, uma das seis cidades que apresentou candidatura formal ao Comitê Olímpico Internacional (COI), retirou-se da disputa em dezembro, principalmente por conta da preocupação quanto a custos. Mais recentemente, as autoridades de Cracóvia, na Polônia, anunciaram que a cidade sairia da competição depois que quase 70% dos eleitores locais rejeitaram o plano.
Das quatro candidaturas restantes, Oslo também tem posição menos firme, devido à perda de apoio político. Lviv, na Ucrânia, é vista como desistência quase inevitável por conta da crise no país.
O COI anunciará a lista final de candidatos em breve, mas é bem possível que só tenha duas opções quando a votação acontecer, no ano que vem: Pequim, que sediou a Olimpíada de 2008, e Almaty, no Cazaquistão, cidade de 1,4 milhão de habitantes em um país de governo autocrático e com histórico dúbio quanto aos direitos humanos, que já sediou os Jogos de Inverno da Ásia, mas nunca um evento de magnitude olímpica.
"O ciclo é difícil para o COI", disse Terrence Burns, consultor de candidaturas olímpicas que até recentemente estava trabalhando para Lviv. "Mas acredito que um diálogo honesto sobre como e por que chegamos a isso -e o que faremos no futuro para garantir que essa situação não se repita- seria uma discussão bem-vinda".
A Olimpíada de Sochi, que custou US$ 51 bilhões, influenciou a situação, ainda que esse cálculo de custos seja enganoso, por incorporar investimentos de infraestrutura não relacionados aos Jogos. "As pessoas pensam que sediar uma Olimpíada de Inverno é caro demais agora", diz Gerhard Heiberg, membro norueguês do COI que presidiu o comitê organizador dos Jogos de Lillehammer, em 1994, e é uma das principais forças por trás da vacilante candidatura de Oslo.
"Algumas pessoas sentem que quantias dessa ordem deveriam ser gastas em estradas e hospitais", acrescentou Heiberg. "Existe uma reação ao que as pessoas sentem como exagero nos Jogos da Rússia. Elas acreditam que precisamos voltar às raízes, se posso usar a palavra, o que significa que a Noruega certamente deveria estar na disputa. Mas algumas pessoas dizem que não, é tarde demais".
Há quem acredite que a Europa Ocidental, onde os Jogos de Inverno nasceram, precisa se manter na disputa. "Se Oslo desistir, creio que não será bom para o COI", disse Heiberg.
A crise nas candidaturas aos Jogos de Inverno também tem origem na extensão das obrigações, no perfil e no alcance mais discretos das Olimpíadas de Inverno comparadas aos Jogos de Verão e na desaceleração econômica da Europa. Mas se relaciona igualmente à imagem do COI nos países ocidentais.
Burns, norte-americano que viveu na Alemanha e na Rússia, trabalhou em diversas candidaturas olímpicas vitoriosas, entre as quais as de Pequim, Sochi e Pyeongchang, na Coreia do Sul, que sediará os Jogos de Inverno de 2018. Ele acredita que o COI deveria desenvolver uma equipe permanente para se envolver muito mais que as comissões de coordenação que fiscalizam projetos em nome do comitê. O COI enviou reforços de emergência ao Rio de Janeiro para ajudar a sustentar os esforços vacilantes da cidade para sediar a Olimpíada de 2016, mas Burns acredita que o comitê deveria ter estado presente desde 2009.
Ele também acredita que o COI deveria identificar cidades e regiões que seriam as melhores respostas de longo prazo às suas necessidades e dialogar com elas primeiro, em vez de entrar em um "jogo de azar" e ponderar candidaturas apenas depois que elas se apresentam.
Heiberg acredita que Thomas Bach, o novo presidente do COI, já esteja inclinado nessa direção. "Acreditamos que isso deva acontecer para 2024, 2026 e assim por diante, mas pode ser um pouco tarde para adotar o sistema quanto aos Jogos de 2022", diz Heiberg.
As Olimpíadas seriam mais bem servidas por um lema de "menor, mais inteligente e mais enxuta", diz.
Mudar, ao que parece, não é opcional, como um olhar à lista cada vez mais curta de candidatos para 2022 deveria deixar claro.
Reportagem do The New York Times, reproduzida na Folha de São Paulo.
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