quinta-feira, 3 de julho de 2014

Após 65 anos, representante chinês faz visita histórica à Taiwan


A China está implacável em seus esforços de reaproximação com a ilha de Taiwan. Na quarta-feira (25), Zhang Zhijun, o chefe do departamento da China para questões taiwanesas, deu início a uma visita de quatro dias a convite de seu homólogo Wang Yu-chi, presidente do Conselho de Questões Continentais (chinesas). É o primeiro dirigente na categoria de ministro a ir até a República da China, nome oficial de Taiwan, separada da China continental desde 1949 e a fuga de Chiang Kai-shek.
"São menos de três horas para voar de Pequim até Taipé, mas levamos 65 anos para dar esse passo", declarou Zhang, a seu anfitrião. Um "passo" que foi comparado a um "salto gigantesco para as relações entre a China e Taiwan" pela agência oficial Xinhua.

Essa viagem, após a visita histórica de Wang à China, em fevereiro, ocorre apesar da desconfiança expressada durante a "revolução dos girassóis", conduzida pelos estudantes taiwaneses em abril. O episódio barrou o capítulo de "serviços" do acordo de livre-comércio sino-taiwanês, assinado em junho de 2013 e que deveria abrir aos investimentos chineses, domínios tão vulneráveis às pressões políticas quanto a cultura e a imprensa. Os manifestantes exigiram a adoção de uma lei-quadro de supervisão dos acordos com a China. Mas esta parece hoje estar em ponto morto.
Em frente ao hotel do aeroporto de Taipé, onde os dois emissários conversaram na quarta-feira, uma centena de manifestantes, mantidos à distância por cordões policiais, protestaram aos gritos de "O futuro de Taiwan pertence aos taiwaneses". O hotel foi o local de um incidente ocorrido na manhã do mesmo dia, quando as forças policiais expulsaram com ajuda militar os ocupantes de dois quartos que pretendiam estender faixas pela fachada.
A mobilização do mês de abril, que protestava contra a falta de transparência nas negociações com Pequim, revelou os limites do modelo de aproximação promovido pelo presidente Ma Ying-jeou (Kuomintang, KMT, nacionalista), desde que este chegou à presidência do país em 2008. Uma parte da população é contrária à ingerência nociva da China na democracia taiwanesa através do "cavalo de Troia" da economia, bem como às ambiguidades de Kuomintang, que sempre negociou com o Partido Comunista Chinês por baixo dos panos.

"O governo taiwanês está entre a bigorna e o martelo. Ele quer avançar nas relações entre as duas margens, mas não às custas da soberania da República da China. O KMT tampouco pode se sabotar", observa Stéphane Corcuff, pesquisador no Centro de Estudos Franceses sobre a China Contemporânea, em Taipé.
Status quo

As ambições a curto prazo do governo Ma e de Pequim são superar mais uma etapa institucional nas relações entre as duas Chinas, que por muito tempo permaneceram como apanágio exclusivo de duas agências semigovernamentais criadas para esse propósito, sem no entanto ir contra o status quo da "não-independência de Taiwan" e da "não-reunificação."

Um sinal de que Pequim entendeu, até certo ponto, o tamanho do desafio que sua visão da reaproximação entre China e Taiwan enfrenta é o fato de que a visita foi apresentada pela agência Xinhua como propícia à descoberta de um "amplo espectro da sociedade taiwanesa": o emissário chinês, cujo programa de visita cuidadosamente evita Taipé, em razão dos riscos de manifestações, encontrará especialistas, personalidades religiosas, estudantes, bem como políticos, entre eles Eric Chu, o prefeito (KMT) de Nova Taipé – uma personalidade em ascensão do partido nacionalista - , mas também Chen Chu, a prefeita de Kaohsiung, célebre figura do Partido Progressista Democrático (independentista), que tem como feudo histórico a grande cidade do sul da ilha.

Reportagem de Brice Pedroletti, para o Le Monde, reproduzida no UOL.

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