quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Manipulação prejudica Petrobras e o país

Não é preciso acreditar em conspirações internacionais para entender as mudanças recentes no mercado do petróleo e as dificuldades enfrentadas pela Petrobras para consolidar a posição do Brasil como um grande produtor mundial, possibilidade aberta pela exploração do pré-sal.

Graças a um editorial publicado pela Folha de S. Paulo em 28/12/2015, é possível constatar que os fatos ocorrem à luz do dia, sem disfarce nem pudor. Diz o jornal:

”A guerra de preços no mercado de petróleo continua. A Opep, organização que reúne grandes produtores, reafirmou na semana passada sua política, vigente desde meados do ano passado, de não restringir a oferta do óleo no intuito de sustentar o preço.

O impacto foi imediato. O barril, que custava US$ 100 em setembro de 2014, foi negociado a US$ 36 na semana passada, o menor patamar em uma década.

A Opep busca derrubar o preço para expulsar do mercado competidores que têm utilizado novas tecnologias de custo mais elevado.”

Então está combinado.

O chamado “mercado” de energia não se movimenta pela velha mão invisível imaginada por Adam Smith, pai dos ideólogos atuais da atual pós-modernidade, mas pela manipulação política de quem tem força para defender seus interesses e impor a própria vontade em escala global.

A ação coordenada da Opep é instrutiva, mas não chega a configurar um comportamento novo. Realiza, se possível por vias pacíficas, um movimento que, em outras circunstâncias, inclusive anos bem recentes, já produziu uma formidável coleção de golpes de Estado, guerras e intervenções estrangeiras para garantir o controle político e militar sobre regiões ricas em petróleo.  

Entre os alvos do atual esforço destrutivo da Opep, o jornal menciona um único caso, dos produtores do xisto norte-americano.

Caberia mencionar, na mesma condição, o pré-sal brasileiro, já que sua importância no mercado mundial é uma evidência de doer nos olhos.

A dificuldade em reconhecer o interesse brasileiro faz parte do momento político que vivemos.

Para quem está prioritariamente empenhado no enfraquecimento a qualquer custo do governo Dilma, não convém apontar para nenhum fator externo capaz de ajudar a entender racionalmente as dificuldades atuais da maior empresa brasileira.

Tenta-se explicar – única e exclusivamente – a situação da Petrobras pela ação de quadrilhas corruptas em seu interior, apoiadas por supostas medidas imprudentes, de caráter demagógico, do governo Lula. Este é o foco, a linha.

Nada deve ser feito para estimular uma visão adequada da Lava Jato e apontar para seus efeitos daninhos para o país, capazes de produzir uma regressão econômica ainda difícil de avaliar.

Se estamos falando de uma investigação necessária, cabe reconhecer um retrocesso econômico e político já visível.

Basta recordar que o economista Gesner Oliveira, insuspeito de qualquer simpatia pelo PT ou por Dilma, calcula que a operação deve produzir um rombo de R$ 200 bilhões na riqueza nacional e eliminar 2 milhões de empregos.

São números que dizem a mesma mensagem dos dados oficiais do Ministério da Fazenda.

Eles desmentem a noção forjada pelo pensamento único de que a corrupção é o principal escoadouro de recursos que deveriam ser empregados no desenvolvimento do país.

Mostram a importância da reconstrução de nossos espaços democráticos, para permitir um debate real sobre as medidas necessárias a retomada do crescimento.

O desagradável é que já sabemos como será a próxima cena do filme da Opep. Quando os possíveis concorrentes estiverem de joelhos, incapazes de reagir, o barril do petróleo irá subir de novo – provocando mais um agravamento na crise mundial, em particular nos países que não tiverem sido capazes de assegurar sua autonomia para enfrentar as vacas magras.

Aí, os brasileiros irão lembrar do pré-sal – da mesma forma que, anos atrás, lembravam do pró-álcool, também ridicularizado pelos observadores que adoram fingir que acreditam na “economia de mercado” e não enxergam movimentos de potencias imperiais por trás dos turbantes dos príncipes feudais da Arábia Saudita.

Cabe esperar, sinceramente, que não seja tarde demais e que a Petrobras não tenha sido inteiramente comprometida até lá.


Reprodução de texto de Paulo Moreira Leite no Brasil 247, via Jornal GGN.

O ano Sartori

Termina 2015. Foi o ano Sartori. O governador do Rio Grande do Sul patrolou a oposição e o funcionalismo. Por alto, deve ter aplicado uns 28 a 1. Aprovou tudo o que quis, durante o jogo e na prorrogação, inclusive o que os seus aliados rejeitavam quando eram oposição.
O ano Sartori caracterizou-se por parcelamento de salários do funcionalismo, reforma da previdência, com a implantação de uma aposentadoria complementar, sonho rejeitado do PT, aumento de impostos, sonho de todos os governos anteriores e promessa de campanha do atual governador de que não ocorreria, e diminuição dos valores pagos como RPVs, outro sonho petista que não se realizou.
Na linguagem da oposição e dos insatisfeitos, o ano Sartori teve um tripé matador: atraso de salários, aumento de impostos e calote. A estratégia adotada pelo governo Sartori funcionou: focar no pânico para colher reformas consideradas amargas. A cereja do bolo foi a aprovação, no apagar das luzes do ano devastador, da lei de responsabilidade fiscal estadual. Uma coisa é certa: o governo aparelhou-se para gastar menos. Resta saber se vai conseguir oferecer os serviços esperados pela população. Se teve uma área caótica em 2015, foi a da segurança. Nem tudo o que o governo fez foi ruim. A reforma da previdência era necessária. Pena que a Assembleia Legislativa não siga o mesmo modelo e tenha se presenteado antes com aposentadoria especial. O governo arrancou nacos dos chamados “privilégios” dos funcionários do executivo. Será que mudou muito no mundo encantado do funcionalismo do legislativo e do judiciário? Ou, mais exatamente, mudará algo no mundo encantado dos magistrados?
Em ano duro, medidas duras. Para aprovar certas reformas foi preciso cercar militarmente a Assembleia Legislativa e até manter suas galerias vazias. O aumento de impostos era inevitável e não vai gerar os efeitos catastróficos anunciados pelos apocalípticos interesseiros. A transformação de RPVs em precatórios é uma maldade que gestores de todos os horizontes aplicam nos credores sem perder o sono. Definição de Estado: ente político-administrativo que pode escolher quais leis vai deixar de cumprir. A exemplo do governador Tarso Genro, Sartori não paga o piso do magistério. Mas isso não gera processo de impeachment.
O ano terminou com o décimo-terceiro salário sendo pago com empréstimos fakes dos funcionários no Banrisul. É uma pedalada – banco público emprestando ao seu dono – autorizada pelos deputados com o beneplácito de todos os poderes. A prova é que o tomador do empréstimo tem os juros pagos ressarcidos pelo Estado.
Sartori teve razão ao longo do ano em mostrar que não se pode governar só com o dinheiro dos depósitos judiciais, operação que criticava no governo Tarso, mas que também praticou. Moral do ano Sartori: o que é ruim no governo do oponente pode ser a solução quando se chega ao poder. A política é a arte de gerir contradições. José Ivo Sartori pode alegar que fez o possível numa situação grave. O governo Sartori elegeu um alvo: o funcionalismo. Crivou-o de reformas. Ficou um resto de mudanças para 2016. Com todos os seus projetos aprovados, o que fará o governador a partir de agora? O ano de 2015 foi sartoriano. O tempo dirá se foi bom.

A campanha anticorrupção e a indústria do compliance


Na esteira da campanha mundial anticorrupção promovida pelo Departamento de Justiça dos EUA , tem grande crescimento a indústria do "compliance", um setor de atividades que cuida de proteger as empresas para que não sejam processadas por leis anticorrupção e leis de lavagem de dinheiro.
O faturamento dessa indústria é estratosférico, a PETROBRAS sozinha vai gastar centenas de milhões de Reais com a tarefa que faz tudo para não terminar. Quanto mais problemas melhor para essa "indústria" que é basicamente anglo-americana e está nadando de braçadas com faturas milionárias que não representam qualquer geração de riqueza real.
 
Os departamentos de "compliance" das grandes corporações tomam uma dimensão incrivel, em bom número de empresas é o MAIOR DEPARTAMENTO DA EMPRESA, é uma atividade gerada pelo pavor da empresa ser processada e portanto não se medem custos. Os executivos atraídos para essa atiidade são de perfis "procuradores-investigadores-auditores" tipos chamados "cris-cris" com prazer em procurar pelo em ovo em todas as transações.
 
Além dos departamentos internos já super custosos vem as consultorias de vários tipos, as de investigação interna e externa, checagem e cópias de arquivos, leitura de e-mails, verificação de contas de hoteis, restaurantes, telefones, que podem ser empresas de auditoria, de investigação tipo Kroll, escritórios de advocacia que exploram esse grande filão de faturamento, tambem estão se criando consultorias específicas de compliance.
 
Toda esse grande atividade é ECONOMICAMENTE ESTÉRIL, não agrega valor nem para a empresa e nem para a sociedade.
 
Os custos somados dessa "indústria" superam dezenas de vezes o potencial de corrupção que visam combater.
 
Mais do que os custos diretos, exise um custo ainda maior, aquele que se agrega a todas as operações da empresa para evitar riscos, novos tipos de formulários a preenher, declarações em bancos e corretoras, ginásticas que pessoas e empresas tem que fazer para diminuir o risco de serem importunadas por esses controles.
 
Um quarto custo é o maior de todos: o grande número de negócios e tentativas de negócios que deixam de ser feitas pelo potencial de risco, mesmo pequeno, que as pessoas querem evitar de correr. Projetos não são levados adiante, empresas deixam de expandir, TUDO SE TRAVA em nome do COMPLIANCE, essa atividade absolutamente inútil que importuna empresas e cidadãos em nome de um objetivo moral que sequer toca de relance as grandes organizações criminosas.
 
O "COMPLIANCE" não evita e nem minimamente incomoda o grande tráfico de drogas, de armas, de contrabando, de madeiras, de animais silvestres, de pessoas, de orgãos, de pornografia, não impede terrorismo, ISIS, corrupção na África e no Oriente Médio. Não consegue nada disso mas PERTURBA TODA A ECONOMIA MUNDIAL, TRAVA NEGÓCIOS E INVESTIMENTOS, reduz o dinamismo da economia por excesso de controles, o mundo inteiro está se paralisando em nome dessa alucinação de controlar tudo e todos para resultados que parecem importantes mas cuja relação custo benefício é totalmente negativa para a economia e para a sociedade.
 
Se houvesse COMPLIANCE na era das ferrovias, na era da navegação, na era do grande crescimento industrial, não existiriam os aventureiros, empreendedores como Gulbenkian, Onassis, Stanford, Rockefeller, Deterding, Mattei, Thyssen, Ford, Carnegie, nem sequer começariam suas aventuras pessoas de inovação, empreendimentos e criatividade.
 
Casos anedóticos ocorrem todos os dias. Um colega advogado enviou de presente de Natal uma garrafa de vinho a um executivo de companhia americana. Dez dias depois veio um motoboy trazer o vinho de volta. Um telefonema esclareceu o problema: o beneficiário do presente mandou a secretaria à loja onde o vinho foi comprado e lá verificou que a garrafa tinha custado 77 Reais, o limite para receber brindes e presentes nessa empresa era de 50 Reais, então o mimo ultrapassou aquilo que o "compliance" permite e por isso estava sendo devolvido.
 
Eu mesmo tenho sido vítima de uma absurda burocracia de Banco ao receber honorários do exterior, pequenos, coisa de três mil Euros, a liquidação do câmbio que no passado era feita no dia, hoje pode levar 50 dias para checagem para ver se não é "lavagem de dinheiro", esse caso relatei aqui em artigo específico há uns oito meses, o altíssimo custo para mim, para o banco e para o país dessa "verificação" de uma transação onde nas duas pontas estão firmas antigas e cadastradas, ao mesmo tempo que em São Paulo foi preso um traficante com 1.600 quilos de cocaína cujo pagamento deve ter sido feito sem nenhum problema e ainda o elemento, conhecido como "Capuava" foi solto dois dias depois por um Habes Corpus, segundo o despacho, por "falta de provas".
 
A lógica do "compliance" é incomodar 10.000 pessoas honestas para pegar um eventual criminoso, quando pegam.
 
Enquanto isso sustentam imensas burocracias oficiais e privadas, geram incalculáveis custos nas empresas e para os cidadãos, criou-se no mundo um verdadeiro HOSPÍCIO que reflete a cabeça paranoica dos procuradores americanos que estão se lixando para os efeitos econômicos de sua cruzada para puriticação do mundo.
 
Um certo grupo religioso no passado conhecido como INQUISIÇÃO pensava a mesma coisa.
 
Em algum momento esse manicômio de "controles" precisa ser desmontado para que o mundo possa crescer.


Texto de André Araújo, no Jornal GGN

Feliz 3016

Cristãos, judeus e muçulmanos se cruzam e entrechocam no Oriente Médio há mais de mil anos.
"O mundo inteiro se acotovela/ se juntando por aqui", diz um dos personagens de "Nathan, o Sábio", obra-prima teatral de Gotthold Ephraim Lessing (1729-1781), que sai agora no Brasil com tradução de Marcelo Backes. Faz parte do livro "Três Peças", da editora Topbooks.
A história se passa no tempo das Cruzadas, e quem constata o "acotovelamento" geral das religiões é um cavaleiro templário que "milagrosamente" escapou de uma execução de guerreiros cristãos ordenada pelo sultão Saladino.
Há certa ironia na fala do cavaleiro. Sim, com tantas religiões juntas, Jerusalém não poderia deixar de ser uma "terra de milagres". Salvo por Saladino, o templário fica sem eira nem beira pelos arredores da cidade.
A casa de um homem rico pega fogo. O judeu Nathan estava em viagem de negócios. O templário corre até o lugar do incêndio e salva a filha do comerciante. A bela Recha demora a acreditar que foi resgatada por mãos humanas.
"Deus acenou", diz ela, "para que meu anjo/ visível me carregasse/ (e) sobre suas penas brancas/ através do fogo eu passasse".
O pai da moça, voltando de viagem, duvida dessa interpretação. Tem início um dos muitos debates de ideias que, em versos rápidos e concisos, Lessing sabe expor como ninguém.
"As penas brancas!/ Sim, sim!", sorri Nathan. "O casaco branco aberto/ Do templário, por certo."
A filha insiste: "Vós mesmos não me ensinastes/ Que existem anjos,/ Que Deus também pode/ Fazer milagres/ Por aqueles que o amam?/ E eu O amo".
Nathan prefere um raciocínio mais complicado e mais bonito. Transcrevo em prosa. "Só porque soa bem natural que um verdadeiro templário te salve, seria por isso menos um milagre? O mais sublime nos milagres é que os milagres verdadeiros, genuínos, podem, devem, se tornar cotidianos para nós."
A peça mistura uma história de amor, claro, com algumas questões morais e filosóficas típicas do século 18, como a da verdade relativa das diversas religiões. Supérfluo dizer que, neste fim de 2015, continuam atualíssimas.
Em especial, Lessing destaca um problema que não deixa de nos dar dores de cabeça hoje em dia: como sustentar, ao mesmo tempo, a universalidade de princípios como a tolerância, e o respeito à diversidade das culturas e religiões?
Comovido pelos atos generosos de Nathan, um monge se exalta: "Por Deus, sois um cristão!/ Melhor cristão jamais houve!". O sábio responde: "Assim seja!/ Pois o que faz de mim/ Um cristão para vós,/ Faz de vós um judeu para mim!"
A passagem mais famosa da peça é a história dos três anéis, reelaborada por Lessing a partir de um conto de Boccaccio (1313-1375).
Que seja resumida aqui, como mensagem de ano novo.
O sultão Saladino desafia a inteligência de Nathan. Cristãos, muçulmanos e judeus têm fés diferentes. Mas apenas uma pode ser verdadeira. Como escolher a certa?
Nathan fala de uma pedra preciosa, uma opala, que tinha o dom de "tornar agradável/ Diante de Deus e dos homens" quem a usasse no dedo. O feliz possuidor desse anel deveria, ao morrer, dá-lo a seu filho preferido.
E assim foi feito, ao longo de gerações, até que aconteceu de um pai amar igualmente seus três filhos. Sem saber para quem dar o anel, procurou um ourives que fabricou duas cópias perfeitas do anel mágico.
Cada filho ficou com um anel, sem saber se possuía o verdadeiro. Foi solicitada a opinião de um juiz. Só se o pai ressuscitasse, ou se o anel fosse capaz de falar, seria possível resolver essa pendência, disse o magistrado. E deixou as coisas do seguinte modo.
O anel verdadeiro tinha o poder de tornar seu possuidor querido por Deus e pelos homens. Esperemos, portanto. A mágica da opala genuína haverá de manifestar-se, para quem agora a tem nos dedos, e nos seus descendentes.
"Eu voltarei a convidá-los", concluiu o juiz, "em mil anos/ Para virem até aqui de novo./ E então um homem/ Mais sábio do que eu/ Estará sentado sobre esta cadeira/ E irá falar./ E agora, ide!"
Passaram-se quase mil anos desde o tempo em que transcorre a peça de Lessing. É razoável acreditar que outras cópias, igualmente perfeitas, do anel original tenham sido feitas por aí.
Esperemos mais mil anos, portanto. E feliz 3016.


Texto de Marcelo Coelho, na Folha de São Paulo

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Japonês eremita toma conta de cidade abandonada na selva amazônica

A cidade de Airão Velho, no Estado do Amazonas, teve seu auge há mais de 100 anos e sua decadência econômica traduziu-se na partida dos moradores. Hoje, um único homem vive ali e tornou-se o guardião do local. 

Shigeru Nakayama tem 62 anos e chegou ao Brasil há mais de 50 anos. Nasceu em Fukuoka, no sul do Japão, e mudou-se durante o grande fluxo migratório de japoneses no começo dos anos 1960. 

O Japão, à época, passava por dificuldades econômicas e o Brasil precisava de mão de obra na agricultura. Sua família, então, assentou-se no Pará. 
No início dos anos 70, ele e um grupo de amigos partiram para a Amazônia em busca de trabalho, e estabeleceram-se às margens do Rio Negro. 
Chegou a Airão Velho em 2001, quando a cidade já estava abandonada havia quase 70 anos. O vilarejo teve seu auge econômico durante o período do Ciclo da Borracha, quando a região era movida pela exploração do látex.

Com o declínio da produção, aos poucos, quem morava ali se mudou para outras regiões. 
Airão Velho, a 180 km de Manaus, também foi berço da colonização portuguesa, como pode ser visto no único cemitério do local, onde estão enterradas gerações inteiras.

A família lusitana Bizerra "mandava" na cidade e um de seus últimos membros viveu ali até meados do século 20. Foi um deles que pediu, pessoalmente, a Nakayama que cuidasse dali. E ele aceitou.

"Meu sonho desde criança era viver na floresta amazônica", diz ele, em seu carregado sotaque japonês. "Se eu sair, a história morre". 
Nakayama diz ter tido ajuda de dois amigos para avançar sobre o mato que havia tomado Airão Velho.

"Tudo estava completamente abandonado havia mais de 40 anos", diz.

Hoje, recebe e guia turistas, a maioria estrangeiros, mas recusa-se a cobrar entrada. Em troca, recebe comida e doações dos visitantes. 
Em sua pequena casa de madeira, de apenas três cômodos e chão de terra, montou um pequeno museu onde reuniu objetos históricos recolhidos nas imediações.

Dorme em uma modesta cama de solteiro, gasta pelo tempo. Planta o que come - longe dali, diz, já que a área é de preservação ambiental. E, todos os dias, cuida de "sua" cidade, andando sempre com um facão - ou terçado, como dizem amazonenses - como forma de proteção.

A tecnologia quase não existe por ali, a não ser pelo pequeno televisor movido por um gerador de energia e um antigo rádio de pilhas.

"Airão é um patrimônio histórico. Plantação, roçar, derrubar floresta, é completamente proibido. Do jeito que está, tem que deixar assim. É área de patrimônio".

E diz temer que um dia o local seja esquecido e novamente abandonado: "Se eu sair, a história daqui morre. Todo mundo sabe disso". 

Reportagem da BBC Brasil, reproduzida no UOL.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

A esperança de Pandora

A esperança é o último dos "males" escondidos na caixa de Pandora. Mas quem é Pandora?
Pandora é a mulher criada por Zeus para nos castigar. Pandora é uma espécie de Eva grega, com a diferença de que o culpado por ela ter sido criada para nos fazer sofrer é um "homem": Prometeu.
Sabemos que Prometeu foi aquele que nos deu a "técnica do fogo", contra a vontade de Zeus. Este, para castigar Prometeu, o teria pregado a uma pedra para ter seu fígado comido por uma ave pela eternidade. Zeus parecia acreditar que com essa "técnica do fogo" nós faríamos bobagens. Mary Shelley, no século 19, chamará seu doutor Frankenstein de "o Prometeu Moderno", numa referência clara à desmedida ("hybris") técnica do homem moderno, representada pelo médico Frankenstein, que "cria um homem", se igualando a Deus.
Na Grécia, portanto, já apareceria esse "medo" de querermos saber o que os deuses sabem. E que sofreríamos com isso. Mary Shelley, a romântica, revela o medo da ciência como ferramenta de desmedida. Esse assunto (medo da ciência) dá o que falar, mas não vou falar dele hoje. Entretanto, não tenho dúvida de que podemos arrebentar nossa vida e o mundo com essa marca de sermos seres "sem medida".
Mas voltemos a Pandora. Pandora é criada com um traço de personalidade: ela era uma curiosa. Sabendo disso, quando Zeus dá para ela a caixa e diz para não abri-la, sabe que ela o fará. E, quando o fizer, deixará escapar as misérias que atormentarão o mundo. A curiosidade de Pandora também é uma face da desmedida. Mas, pergunto eu: até onde podemos ser curiosos sem nos causar problemas? Ninguém sabe. Muita curiosidade mata, mas é sinal de vida. Pouca curiosidade faz de você uma pessoa mais cuidadosa, mas, talvez, sem vida. Um pouco de sangue nos olhos é necessário para gozar a vida?
A curiosidade de Pandora, assim como a técnica, são faces da mesma desmedida. Esse é nosso destino, segundo a visão trágica. Acho que os gregos tinham razão. Sempre andaremos em círculos, num eterno retorno do mesmo destino sem medida. Não há avanço acumulativo na história, pois o "avanço" pode ser, ele mesmo, a desmedida.
A ideia de um avanço acumulativo da história humana ou progresso em direção a um fim que revelará o sentido último da história e da vida (a "escatologia" em teologia) é fruto do mundo bíblico. Por isso a esperança como traço humano é tão diferente se compararmos Jerusalém com Atenas.
Na terra de Israel, a esperança é, justamente, o que sustenta a vida em tensão para o futuro. Um futuro que dará sentido a tudo que vivemos. Impossível não deduzir daí um sentido para a história e para a vida.
Na terra de Pandora, a esperança é um dos males que nos faz sofrer. Como a esperança pode ser um mal?
Não estou aqui pensando nesse conceito pseudopolítico e picareta conhecido como "utopia", que é, sim, um mal. Mas, como viver sem esperança? Mesmo Viktor Frankl, psiquiatra sobrevivente do Holocausto, dizia que a experiência de sentido (e a esperança é irmã do sentido) era essencial para suportar o espaço por excelência onde os judeus viveram a "utopia nazista", os campos de extermínio.
No mundo trágico, "ter esperança" é uma forma da desmedida. Eis a tragédia numa de suas representações máximas. Se, por um lado, sem esperança somos seres destruídos em nossa espinha dorsal espiritual e psicológica, por outro, "ter esperança" é uma profunda ilusão com relação ao destino humano. A esperança é uma forma de tortura justamente porque não há nenhuma esperança. Como dizia o oráculo de Delfos: somos mortais.
Vemos aqui como não se pode dizer que desmedida e pecado sejam a mesma coisa. A esperança no mundo bíblico nos aproxima de Deus e o pecado nos afasta Dele. No mundo grego, a esperança nos torna ainda mais vítimas de nosso destino sem saída e, assim, se revela como mais uma forma de castigo divino.
Afora a religião ou a filosofia, talvez a esperança seja mais uma questão de "índole", como diria nosso antropólogo Roberto DaMatta. Alguns são filhos da esperança, outros, do desespero. Enfim, bom 2016.


Texto de Luiz Felipe Pondé, na Folha de São Paulo

Mais seguro com biografias, mercado editorial prepara novidades para 2016

Mais seguro com biografias, mercado editorial prepara novidades para 2016

Após decisão no STF, editoras devem publicar biografias de Roberto Carlos, Silvio Santos, entre outros no ano que vem
A melhor notícia de 2015 na área cultural será levada para 2016 e já se reflete no dia a dia de pesquisadores e editores, que se sentem mais seguros para tocar adiante projetos de biografias ameaçados, até a vitória por unanimidade no Supremo Tribunal Federal, pelos biografados e seus herdeiros. Desde junho, não é mais necessário pedir autorização prévia dos biografados ou dos detentores de seus direitos. A responsabilização por erros, injúria ou difamação segue garantida.

Na esteira da vitória da liberdade de expressão – a ministra Carmen Lúcia, do STF, chegou a usar a expressão “Cala a boca já morreu” em seu parecer – livros estão saindo da gaveta. O lançamento mais emblemático, previsto para 2016, será o da biografia de Roberto Carlos, escrita por Paulo Sérgio de Araújo, pelo Grupo Record. Não se trata, dizem autor e editora, daquele mesmo título tirado de circulação em 2007 depois de acordo entre o cantor e a editora Planeta.

Para o segundo semestre, a Companhia das Letras planeja obras sobre Silvio Santos, por Ricardo Valadares; Roberto Civita, por Carlos Maranhão, e Roberto Marinho, por Leonêncio Nossa, repórter do Estado. A editora também pensa numa biografia de Renato Russo. Esses são apenas alguns dos títulos planejados para o próximo ano.

A decisão do STF foi, possivelmente, o único motivo de alegria para o mercado editorial em 2015. Cada vez mais dependentes das compras governamentais, as editoras viram a crise que vinha se desenhando nos últimos anos se agravar agora, com adiamentos e cancelamentos de editais de compra de prefeituras, Estados e governo federal e com atrasos no pagamento. Editoras e gráficas demitiram, e o horizonte é sombrio.

Com base nos dados da mais recente pesquisa Produção e Venda do Mercado Editorial (Fipe), é possível dizer que o caminho leva à recessão. "Estamos diante de um ano muito desafiador e me preocupo com a saúde dos canais de venda", diz Marcos da Veiga Pereira, presidente do Sindicato Nacional de Editores. Por isso, a política do preço fixo do livro voltou a ser bandeira. E, com a alta do dólar, que interfere nos adiantamentos, muitas editoras foram às redes sociais em busca de best-sellers. Entre os destaques, dois nomes que estão na lista da Nielsen dos 10 autores brasileiros que mais venderam e que levaram uma pequena multidão à Bienal do Rio: Christian Figueiredo de Caldas e Kéfera Buchmann.

Livro de colorir foi o mais vendido no ano em que a Cosac Naify fechou

Com 1,2 milhão de exemplares vendidos, segundo a Sextante, Jardim Secreto foi o livro (aliás, discutiu-se muito sobre essa denominação) mais vendido do ano, de acordo com a Nielsen. Dezenas de editoras aproveitaram o embalo e lotaram as livrarias com livros para colorir. A moda fica em 2015.

Neste cenário, causou enorme comoção o anúncio do encerramento da Cosac Naify quase 20 anos depois de sua criação. Ironicamente, enquanto Charles Cosac tornava pública sua decisão - pessoal - um de seus livros, Tempo de Espalhar Pedras, de Estevão Azevedo, ganhava o Prêmio São Paulo de Literatura.

A Cosac Naify fez escola e elevou a qualidade da produção gráfica no País. Fará falta. Mas é importante registrar o esforço, com resultados (basta ver a lista do Jabuti), que as independentes têm feito no sentido de apresentar novos nomes. E é importante destacar duas estreias: da Carambaia, que lança obras em domínio público em boas traduções e edições caprichadas, e da Zazie Edições, idealizada para fazer da produção editorial um meio de intervenção no debate crítico, teórico e artístico contemporâneo. Ela só publicará obras digitais e a distribuição será gratuita.

Cancelamento da Jornada de Passo Fundo foi sentida

Além do fim da Cosac Naify, outra notícia que causou consternação foi o cancelamento da Jornada de Literatura de Passo Fundo, mais importante projeto de formação de leitores do País, e do afastamento da idealizadora Tânia Rösing da organização. R$ 2,5 milhões pagariam o evento, mas não houve apoio.

Em 2015, celebramos o centenário de A Metamorfose, de Kafka, os 150 anos de Alice No País das Maravilhas, de Carrol e os 50 anos da editora Perspectiva. E nos despedimos de Eduardo Galeano, Günther Grass, Nicolau Sevcenko, Peter Gay, Oliver Sacks, Ruth Rendel, Tomas Transtromer, Hélio Pólvora, Herberto Helder, Francisco Gonçalvez Ledesma, Carlos Urbim, Assia Djebar, Fausto Castilho, Pedro Lemebel - e do Museu da Língua Portuguesa, destruído por um incêndio.

Reprodução do Correio do Povo

sábado, 26 de dezembro de 2015

O incrível mundo político do Rio de Janeiro

O Rio de Janeiro é um enigma. Capital federal por muito tempo, cidade mais internacionalizada do país desde sempre, a política interna do Rio sempre foi de uma pobreza extrema.
As grandes vocações públicas rumaram para a área federal. Durante muito tempo o Rio se considerava uma espécie de farol do país rumo à modernização. Abrigou a mais brilhante geração de homens públicos brasileiros que, a partir dos anos 50, ajudou a desenhar o país. O fato de se tornar sede da Petrobras e do BNDES, da Universidade do Brasil (futura Universidade Federal do Rio de Janeiro), a convivência com empresários e investidores internacionais que por aqui aportaram durante a guerra, tudo isso contribuiu para a glória do Rio.
Mas no plano interno repetia o cenário da Proclamação da República, quando já possuía uma câmara de vereadores dominada pelo jogo do bicho.
Alguns dias no Rio é suficiente para perceber os três temas preferenciais dos cariocas: futebol, escolas de samba e política.  Qualquer cariosa tem opiniões definitivas sobre os três temas.
Qual a razão, então, do baixíssimo nível da política carioca?
Durante muito tempo a política carioca foi dominada por Chagas Freitas, em cima do jornal O Dia. Aliás Chagas Freitas era um “laranja” do governador paulista Ademar de Barros quando, com seus bônus rotativo, montou a maior máquina de corrupção da história política do país. Espalhou seus bens por dezenas de laranjas. Quando Ademar caiu em desgraça, Chagas não devolveu O Dia. Jornal sangrento, versão carioca do Notícias Populares, mesmo assim ajudou a criar uma geração de políticos, como Miro Teixeira.
Ao longo das décadas, o Rio logrou eleger apenas dois políticos de expressão nacional, Carlos Lacerda e Leonel Brizola. O restante ou se dividia entre a mediocridade mais obtusa ao exibicionismo mais desmoralizante.
No centro dessa crise estão os grupos de influência na política carioca, a começar da imprensa.
No seu auge, o Jornal do Brasil importava-se apenas com temas nacionais. Ao contrário do que se imaginava, Roberto Marinho, da Globo, não tinha cabeça internacionalizada. Fez ótimas escolhas, quando se associou ao grupo Time-Life e quando profissionalizou a TV. E sempre se cercou da maior escola de lobistas que o país já conheceu, aquela que se formou no Rio a partir dos anos 50 e manteve sua influência na máquina pública pelo menos até a década de 90.
A escola de lobby carioca se formava em torno de novas formas de negócio e do aparelhamento continuado da máquina pública, da Petrobras ao Itamarati. Os lobistas dispunham de visão ampla e conviviam com alguns dos fundadores do Brasil moderno, como Roberto Campos, Raphael de Almeida Magalhães, Eliezer Batista, Dias Leite.
Marinho conviveu com esse grupo, aprendeu a se valer de sua influência, mas seu horizonte cultural e político era restrito. Importava-se com o jornal, com a pesca submarina e com os investimentos imobiliários. Por aí se definia a blindagem ou a guerra implacável ao prefeito ou governador de plantão. Quem atendia a seus interesses imobiliários era poupado.
O segundo grupo de influência eram os bicheiros patronos de escolas de samba. O terceiro, os cartolas de clubes de futebol reunidos em torno da CBF, em estreita parceria com a Globo. O quarto, que surgiu mais recentemente, o dos pastores evangélicos.
A esse ambiente diversificado e rarefeito soma-se certa permissividade de uma cidade de praia lindíssima, mas que jamais perdeu o clima da corte, da celebração do prazer seja dos playboys desocupados que se reúnem no Leblon, seja de governadores e empreiteiros se expondo em restaurantes de Paris.
Esse clima foi favorecido pela própria formação dos grupos empresariais cariocas, a maior parte dos quais se fez com importação e representação de grupos estrangeiros, ou com estratégias no mercado financeiro e de lobby.
É lá que Aécio Neves convive com Ricardo Teixeira, que o filho do usineiro vai aproveitar o ócio, que Paulo Roberto Costa torna-se corretor imobiliários dos Marinho. E lá que o PT foi amarrar o seu burro.
O atual sistema político do Rio é uma coisa só, com Sérgio Cabral, Pezão, Eduardo Paes, Francisco Dornelles e Eduardo Cunha. E a oposição, com o filho de César Maia e Garotinho, é de chorar.
Ao longo de diversos governos federais e estaduais, a banda carioca do PMDB logrou criar uma metodologia imbatível de apropriação da coisa pública. E, em quase todos os momentos, estava a presença ostensiva de Eduardo Cunha.
Quando Ministro da Previdência, por exemplo, Dornelles levou como assessor Eduardo Cunha. Em alguns dos inquéritos contra Cunha, ele próprio logrou cooptar o Procurador Geral do Estado e agentes da Polícia Federal.
A crise do sistema de saúde do Rio de Janeiro não é mais do que consequência desse modelo, a pior síntese de um sistema político que apodreceu.
Quando se vê e estabilidade da República entre o oportunismo de Michel Temer, a falta de limites de Eduardo Cunha e a frente política do PMDB carioca, constata-se que definitivamente o modelo acabou. 

Reprodução do Blog do Luís Nassif

Seletividade

O pagamento de R$ 60 milhões por parte da Alstom, como indenização por uso de propina no mandato do pessedebista Mário Covas em São Paulo (Folha, 22/12), a revelação de que a dobradinha Nestor Cerveró-Delcídio do Amaral remonta ao tempo em que ambos serviam ao governo Fernando Henrique Cardoso (Folha, 18/12) e a condenação do ex-presidente tucano Eduardo Azeredo a 20 anos de prisão (Folha, 17/12), por esquema análogo ao que levou José Dirceu à cadeia em 2012 (condenado à metade do tempo), confirmam que há dois pesos e duas medidas no tratamento que a mídia dá aos principais partidos brasileiros.
Enquanto o PT aparece, diuturnamente, como o mais corrupto da história nacional, o PSDB, quando apanhado, merece manchetes, chamadas e registros relativamente discretos. O primeiro transita na área do megaescândalo, ao passo que o segundo ocupa a dimensão da notícia comum.
Isso não alivia a situação do PT, o qual, como antigo defensor da ética, tinha compromisso de não envolver-se com métodos ilícitos de financiamento. No entanto, o destaque desequilibrado distorce o jogo político, gerando falsa percepção de excepcionalidade do Partido dos Trabalhadores. A salvaguarda do PSDB pelos meios de comunicação reforça a tese de que o objetivo é destruir a real opção popular e não regenerar a República.
Note-se que o acordo feito pela Alstom não inclui os processos "sobre o Metrô, a CPTM e as acusações de que a multinacional francesa fez parte de um cartel que agia em licitações de compra de trens", diz este jornal. Os 60 milhões de reais ressarcidos dizem respeito só ao "contrato de fornecimento de duas subestações de energia". Será que o montante completo dos desvios, caso computado, não chegaria a proporções petrolíferas?
Se a mídia quisesse, de fato, equilibrar o marcador, aproveitaria o gancho para mostrar que juízes, procuradores e policiais, vistos em conjunto, têm sido parciais. Enquanto a máquina investigatória avança de maneira implacável sobre o PT, o PSDB fica protegido por investigações que andam a passo bem lento. Aposto que se uma vinheta do tipo "e o metrô de São Paulo?" aparecesse todo dia na imprensa, em poucas semanas teríamos importantes novidades.
O problema, contudo, pode ser mais grave. Hipótese plausível é que os investigadores poupem o PSDB exatamente porque sabem que não contariam com a simpatia da mídia se apertassem o cerco aos tucanos. Conforme deixa claro o juiz Sergio Moro no artigo de 2004 sobre a "mãos limpas" na Itália, a aliança com a imprensa é crucial para o sucesso desse tipo de empreitada. Trata-se de um sistema justiça-imprensa, que aqui tem agido de modo gritantemente seletivo.


Texto de André Singer, na Folha de São Paulo

É bom, mas é ruim

Há no Rio um restaurante simples, mas com comida fantástica, um dos programas mais agradáveis de se fazer na cidade. Cariocas da zona sul desconhecem ou ignoram porque fica na Barra da Tijuca. Para os cariocas da zona sul a Barra não é o Rio.
Meus pais estão na cidade para as festas de fim de ano e hoje, enquanto você lê esta coluna, devo estar a caminho do Bar do Cícero, esse achado na Ilha da Gigoia, na Lagoa da Tijuca, no começo da Barra.
Todo mundo que eu arrasto sai maravilhado com os pasteizinhos de camarão, de lagosta e de siri, as moquecas e peixes grelhados, cervejas geladíssimas, caipirinhas saborosas e preços que não provocam azia.
O caminho feito de barquinho (R$ 4) mostra casas luxuosas entre moradias simples, uma vista espetacular da pedra da Gávea, espaços de festas, clubes náuticos, tudo banhado pela luz do sol que reflete na água e deixa tudo com jeitão de paraíso.
Seria maravilhoso, não fosse um detalhe: as águas fétidas. Cocô para todo lado. Então, sempre me vejo avisando de antemão que o passeio é bom, mas tem esse porém. Percebi que ao me deparar com certas situações me baixa o santo do Tom Jobim e lá estou repetindo que tal coisa é boa, mas é uma merda.
Essa região fazia parte do compromisso de despoluição assumido pelo governo estadual, assim como o Complexo Lagunar de Jacarepaguá, a Lagoa Rodrigo de Freitas e a Baía da Guanabara. Você sabe o que aconteceu.
As pessoas continuam morando à beira do cocô, praticando esportes no meio do cocô, passeando de barco sobre o cocô. Porque a maioria das coisas no Rio de Janeiro ou é abandonada ou feita nas coxas.
Viver no Rio é resumidamente isso, bom, mas uma merda. E eu me vejo o tempo todo me desculpando pelas cagadas que transformaram a cidade nesse caos paradisíaco.
Queria muito acreditar que um evento como a Olimpíada deixará legado maior do que uma região revitalizada, um novo museu, complexos esportivos. De que adianta tudo isso se o básico não é resolvido?
Os hospitais estaduais colapsam, e o governo, o mesmo que disse que limparia as águas da cidade, diz que a culpa é da desaceleração da economia. Mas, veja só, no ano de grana curta o mesmo governo aumentou de 613 para 689 o número de cargos comissionados, onerando a folha de pagamento em R$ 324 mil, segundo reportagem do RJTV.
Na mesma semana, o Museu do Amanhã abre as portas e a imagem que fica da inauguração é que um dos maiores problemas do brasileiro é a educação –ou a falta dela.
Passando pela favela da Rocinha, meu pai, que não vinha ao Rio fazia 35 anos, diz que cresceu, mas continua igual. Conto que a área ganhou complexo esportivo, passarela desenhada por Niemeyer, unidade pacificadora. Bom, não é mesmo?
Bom, mas continua com o "valão" de esgoto numa das vias principais, que deságua todinho na praia de São Conrado. Deve ser inaugurado um teleférico. Quem precisa de esgoto quando se ganha um teleférico?
E assim a gente segue, entre um museu moderno aqui, uma estação nova de metrô acolá, hospitais falidos, praias que fedem, povo mal educado, pobres de um lado do túnel, ricos do outro, cervejas geladas, corridas na orla, pôres do sol, enquanto o evento esportivo mais importante do mundo bate a nossa porta.
Vai ser bom? Vai. Mas as coisas aqui vão continuar uma merda.


Texto de Mariliz Pereira Jorge, na Folha de São Paulo.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Natal nas Estrelas

Estou em Nova York e acabo de assistir a "O Despertar da Força", sétimo episódio de "Star Wars", num dos cinemas populares da rua 42 (salas grandes, pipoca e nachos fartos e plateia barulhenta, que adora se expressar).
Não sei por que alguns críticos afirmam que o episódio é o melhor da série. A atuação é dificilmente sofrível (essa é uma tradição, em "Star Wars"); a história é a mesma da primeira trilogia; a direção chega a ser careta. Ninguém pensou em correr um risco, por mínimo que fosse: serviram exatamente o que a gente parece pedir desde o começo, sempre o mesmo prato.
E a plateia aprovou: quando apareceram os veteranos do filme de 1977 (a princesa Leia, Han Solo, Luke Skywalker), todos aplaudiram.
O que é esse prazer da continuidade, que nos torna especialmente bom público para trilogias, sequelas, prequelas e, hoje, seriados de televisão com temporadas sucessivas? Ou mesmo para novelas que duram meses?
Não é o caso de acusar os produtores hollywoodianos ou a televisão: no século 19, os fiéis de Alexandre Dumas, que o liam no jornal, em folhetim, esperavam não só o capítulo do dia seguinte, mas também o romance seguinte, com o que aconteceria, por exemplo, "Vinte Anos Depois".
O mesmo vale para as aventuras de Sherlock Holmes, para os piratas de Emilio Salgari, para Hercule Poirot, Perry Mason etc. É uma moda recente? Nem tanto. Talvez Homero seja o nome genérico dos que recitavam os mesmos cordéis 27 séculos atrás, pelo Mediterrâneo afora. E, sei lá, "Orlando Furioso" (1516), de Ariosto, era a sequela de "Orlando Innamorato" (1483-95), de Boiardo.
Não é de hoje: a gente sempre gostou de uma história que tenha a permanência e a consistência de uma espécie de realidade paralela. Tudo bem, essa aventura terminou, mas é como quando apagamos nossa telinha: a programação continua, os heróis e vilões estão num mundo que tem vida própria e que sobrevive à nossa eventual distração. Um dia desses, não é que os heróis voltarão, é que nós daremos uma espiadela num outro trecho da vida deles (a qual nunca parou).
As ficções são mais que um amontoado de casos e histórias: elas são outras dimensões do mundo. E os romances, a tela da TV e a do cinema são frestas, janelas e portas entre essas dimensões. Servem para enxergar o que acontece lá; e, às vezes, servem também para transitarmos de uma dimensão à outra.
Curiosidade: para onde vão os personagens de um seriado entre uma temporada e outra?
Enfim, no mundo de "Star Wars", existe uma diversidade infinita de espécies que convivem nas galáxias, mas há só uma luta que importa: entre o lado escuro e o lado luminoso da Força, que competem pelas almas de todos.
Deus e o demônio se enfrentam por nós e pelo controle do mundo. Nós às vezes temos coragem, outras vezes, não. É que a Força funciona como a Graça: ela ajuda os que realmente acreditam nela. Sempre vai ser assim.
Não pare de acreditar, viu?
O Natal é como a Força; para que aconteça, é preciso acreditar nele.
O Natal é também como "Guerra nas Estrelas": uma história que volta (no caso, a cada ano) marginalmente diferente, mas com os mesmos bons sentimentos (um pouco melados e estereotipados), o mesmo cenário (luzinhas, árvores, vermelho e verde),e com a mesma trilha, mas que, por isso mesmo, não para de fazer sucesso.
Domingo, na esquina da Mercer com Prince, a uma quadra da entrada da "delicatessen" de Dean and Deluca, um saxofonista negro tocava insistentemente "Noite Feliz". Eu o reconheci e me lembrei dele de outros Natais. Deixei US$ 1 no prato, que estava surpreendentemente vazio: a performance pagaria melhor se a temperatura não fosse quase de primavera –o frio nos torna mais generosos, contrariamente à regra (errada) de que, no frio, ninguém enfia a mão no bolso (que é de acesso difícil, por baixo do sobretudo).
O pessoal do Salvation Army, tocando seu sino na frente do terminal de ônibus da Port Authority, tampouco parece muito convincente sem o frio. Ando pelas ruas e tento encontrar, pelo cheiro, um quiosque de castanhas assadas; acho que, sem o frio, o pessoal ficou em casa; talvez amanhã as castanhas apareçam.
Em compensação, o cheiro da maconha é onipresente. Parece que o Papai Noel aderiu à descriminalização.
Feliz Natal e paz na terra aos homens de boa vontade. E aos de má vontade também.


Texto de Contardo Calligaris, na Folha de São Paulo

‘Eu acho que o PSDB é bandido': é de Chico a Frase do Ano.

Chico é autor de muitas das mais lindas e pungentes frases em língua portuguesa.
Algumas:
A felicidade morava tão vizinha que de tolo até pensei que fosse minha.
Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu.
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego.
Mas foi longe de sua atividade de compositor que ele produziu sua melhor frase em muitos anos.
Eu acho que o PSDB é bandido.
Foi de improviso, sem reflexão, sem um caderno e uma caneta nas mãos, num fim de noite no Leblon. E não foi no silêncio ideal para juntar palavras, mas diante do alarido agressivo e atrevido de jovens analfabetos políticos que se sentiram no direito de importuná-lo depois de um jantar.
Era preciso que alguém, enfim, juntasse essas duas palavras: PSDB bandido. Como foi Chico, isso imediatamente se espalhou pelas redes sociais. Mesmo a mídia tão amiga do PSDB foi obrigada a dar, contrariada, a sentença de Chico.
Ao contrário dos vociferantes analfabetos políticos, Chico não ergueu a voz. Manteve o sorriso amistoso nos lábios, em vez da carranca dos que o cercavam. Ele poderia estar dando boa noite a eles, paternalmente.
Mas disse que para ele o PSDB é bandido.
A importância da frase reside na contestação da ideia, insuflada tenazmente pela mídia, de que o PT é bandido e o PSDB mocinho.
Nunca ninguém, muito menos alguém com a estatura de Chico, dissera tão claramente que o PSDB é bandido.
Não que seja: muito mais que bandido, o PSDB é reacionário, atrasado, golpista e péssimo perdedor. Chico estava apenas mostrando a insignificância desprezível deste clichê – PT bandido – que tanto contribui para a existência hoje de dois Brasis, um dos quais, o representado pelos antipetistas que o assediaram, odeia o outro.
Chico deu, de bônus, outra frase soberba, a que associou aquele tipo de comportamento feroz à leitura da revista Veja.
Leia a Veja e você se transformará num idiota como aqueles que abordaram Chico. Repetirá mentiras, dirá asneiras, se encherá de preconceitos: será, enfim, um perfeito idiota brasileiro.
Do alto de sua grandiosa estupidez, você se achará em condições de dizer para provavelmente o maior compositor da história da música brasileira: “Você é um merda!”
Chico, a seu jeito, contribuiu para o retorno do Brasil a um grau de civilidade perdido com a proliferação de analfabetos políticos.
Se a discussão fosse futebolística, e não política, Chico teria ouvido o seguinte: “O Fluminense é um horror.” E teria respondido: “Pois para mim o Flamengo que é um horror. E daí?”
E daí que podemos ter nossos gostos e preferências sem agredir os outros. A tolerância pode triunfar sobre a intolerância, a civilização sobre a barbárie, os bons modos sobre a grosseria, o bom humor sobre a rispidez. (Em sua página no Facebook, Chico postou, com seu humor de carioca, a música Vai Trabalhar, Vagabundo!)
Numa palavra, o mundo de Chico – e não estou falando de ideologia — pode triunfar sobre o mundo dos desordeiros que perturbaram sua paz no Leblon. Por tudo isso, é de Chico a frase do ano.
Eu acho que o PSDB é bandido.


Palavras de Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Solstício: chega a noite mais curta do ano, e a mais longa

Solstício: chega a noite mais curta do ano, e a mais longa

Noite de 21 a 22 de dezembro é o solstício: será a mais longa de 2015 no hemisfério norte, e a mais curta no hemisfério sul


O segundo solstício de 2015 será em 22 de dezembro (às 5h48, no horário peninsular espanhol, três horas à frente do horário brasileiro). Os solstícios são os momentos do ano nos qual o Sol alcança sua maior ou menor altura aparente no céu, e a duração do dia ou da noite é a maior do ano, respectivamente. Além disso, esse comportamento é inverso em cada hemisfério, por isso esse será o solstício de inverno no hemisfério norte, e de verão no hemisfério sul.

Assim é porque as estações dependem da inclinação do eixo de rotação daTerra em relação ao plano de sua órbita, e não da maior ou menor distância entre nosso planeta e o Sol. Por isso, as estações estão invertidas nos hemisférios, pois quando temos o dia mais longo em um (e, portanto, mais horas de radiação, e mais concentrada), sucede o oposto no outro.
Os solstícios não ocorrerem exatamente no mesmo dia e à mesma hora a cada ano porque o período orbital terrestre não é exato: o planeta leva 365,2425... dias para realizar um giro completo ao redor do Sol. Em grande parte isso é compensado mediante a introdução dos anos bissextos (2016, aliás, assim é), mas continuam existindo pequenas diferenças de horário que em ocasiões requerem um salto de um dia.
Apresentamos algumas questões extremas que podem ser ilustrativas. Por exemplo: o que aconteceria se o eixo de rotação da Terra fosse perpendicular ao plano de sua órbita? Ora, o Sol sempre sairia exatamente pelo leste e se poria exatamente a oeste, e as noites e os dias durariam sempre o mesmo. No caso da Terra, isso só ocorre dois dias por ano, os que chamamos de equinócios. Outra consequência notável é que não teríamos estações.
No entanto, a Terra está inclinada uns 23 graus e meio e, portanto, os dias e as noites se sucedem variando sua duração de forma progressiva. Nos equinócios, a duração do dia e da noite é exatamente igual, e o Sol sai exatamente pelo leste e se põe exatamente pelo oeste. Depois o Sol sairá mais ao norte ou ao sul, até alcançar uma posição extrema na qual nossa estrela parece parar e regressar de novo à posição original. Isso é o que se denomina solstício, do latim solstitiumou “Sol quieto”. O processo se repete de forma análoga no sentido oposto. É precisamente esse efeito o que permitiu a Eratóstenes determinar o raio da Terra
Em uma data tão definida estarão ocorrendo coisas curiosas no planeta. Na região ao norte do Círculo Polar Ártico não sairá o Sol, enquanto na região ao sul do Círculo Polar Antártico o Sol não se porá e permanecerá no céu girando ao redor do observador. Nos polos (de forma alternada) o Sol não sairá até o equinócio, sendo dia durante seis meses seguidos de outros seis meses de noite. Outro lugar menos frio, mas igualmente único, neste caso, é o Trópico de Capricórnio. Nele, o Sol passará exatamente pela vertical ao meio dia do próximo solstício, o que ocorrerá no Trópico de Câncer no solstício seguinte, dentro de seis meses.
Não é necessária altíssima tecnologia para determinar os solstícios e equinócios. Um pedaço de pau e umas pedras, além de nossa metódica observação do céu (o Sol, neste caso), são suficientes para estabelecer a data. As civilizações mais antigas (incluindo as extremamente isoladas, como pode ter sido a da ilha de Páscoa) já conheciam essas efemérides perfeitamente. Existiram festejos relacionados com eles em quase todas as civilizações. Há até quem proponha que na Idade da Pedra poderiam ter tido já esse conhecimento. A astronomia costuma estar relacionada com grande número de festividades em nossa cultura. Do mesmo modo que a Lua cheia marca as datas da Semana Santa e do Carnaval, pode ser que a noite de Natal ou a noite de São João estejam relacionadas com os solstícios, festas possivelmente herdadas de festividades pagãs. Será difícil confirmar ou desmentir esse ponto.
Permitiam-me aproveitar esta ocasião para desejar-lhes um feliz solstício e uma próspera nova órbita.

Texto de Alfred Rosenberg González, astrofísico, no El País

domingo, 13 de dezembro de 2015

A Folha mostra o legado social do PT que ela própria sempre escondeu

A Folha, depois de anos de pesquisas e levantamentos da mais extraordinária inutilidade, descobre enfim o seguinte.
Vou usar as palavras do próprio jornal“Em 13 anos de PT no poder, o Brasil distribuiu sua renda como em nenhum período da história registrada pelo IBGE. Todos ganharam. Quanto mais pobre, melhor a evolução. Foram 129% de aumento real (acima da inflação) na renda dos 10% mais pobres. Nos 10% mais ricos, 32%.”
Quer dizer: num país em que a desigualdade social é o maior e mais arraigado dos males, um real câncer, são números que merecem aplausos de pé.
Nenhum desafio para o país é maior do que o de reduzir a iniquidade. O abismo entre os poucos ricos e os muitos pobres é uma chaga muito mais deletéria do que a corrupção.
Quanto mais igualitária uma sociedade, menos corrupta ela é. Os países nórdicos estão invariamente na ponta nas listas de países com menor grau de corrupção, e o motivo é exatamente o igualitarismo. Você proporciona boa educação gratuita às crianças, ensina a elas noções vitais de ética, dá a todos boas oportunidades, protege os mais desfavorecidos e cria uma cultura segundo a qual praticar corrupção é um horror. Sonegar na Escandinávia, como faz abertamente a Globo, por exemplo, transforma você num pária.
Por mais pecados que o PT tenha cometido em 13 anos, e não são poucos, o fato de ter dado foco aos desvalidos o redime.
Você tira muitas conclusões dessa reportagem da Folha.
Uma é que isso – a redução – foi escondido estes anos todos, o que é um absurdo, quase um crime de lesa pátria, dado o tamanho abjeto e histórico da desigualdade.
Era algo que a Folha deveria ter feito na campanha de 2012, para ajudar seus leitores a entender melhor o que estava em jogo.
Outra é a inépcia do PT em se defender: como o partido não levantou, ele próprio, este tipo de coisa?
Estudos dessa natureza jogam luzes onde existem sombras, o que é a tarefa mais nobre do jornalismo.
Mas a imprensa brasileira faz exatamente o oposto, ou por má fé ou por incompetência: joga sombras até onde existe luz.
E então você entende o paradoxo do trabalho da Folha.
Mesmo com fatos acachapantes, apenas 31% dos brasileiros acreditam que sua vida melhorou nestes 13 anos de PT.
Ora, ora, ora.
Com o massacre cotidiano da imprensa sobre primeiro Lula e agora Dilma, a percepção das pessoas é que nestes 13 anos só houve corrupção.
Avanços sociais foram censurados numa mídia partidarizada, aparelhada pela direita e frequentemente desonesta.
E denúncias de corrupção, verdadeiras ou imaginárias, foram estupidamente ampliadas – não genericamente, mas contra um alvo específico: o PT.
Isso quer dizer o seguinte: é fácil, é simples explicar o paradoxo. As melhoras não são sentidas porque elas são soterradas por um noticiário envenenado.
E é exatamente pelo combate à desigualdade que a mídia – a voz da plutocracia predadora – tanto luta para derrubar o governo.
Não há propósitos moralistas na campanha da imprensa contra Dilma e Lula. O que existe é apenas a mesma lógica que a levou, no passado, a investir contra Getúlio e contra Jango.
A lógica das empresas de jornalismo é esta: defender seus interesses e os da classe que representa, a plutocracia.
Para sorte da sociedade, apareceu o jornalismo digital, com sites independentes e livres que funcionam como um contraponto potente ao esforço da mídia em manter o Brasil como um dos recordistas mundiais em desigualdade social.
Modestamente, nos orgulhamos de pertencer a este bloco de sites.

Reprodução de texto de Paulo Nogueira do Diário do Centro do Mundo