quarta-feira, 30 de março de 2011

Agrotóxicos no leite materno em Mato Grosso

Um lado:

Estudo aponta agrotóxico em leite materno

Pesquisa em cidade de 45 mil habitantes do MT detecta presença da substância em amostras coletadas de 62 mulheres

Em algumas, havia até seis tipos do produto; toxicologista diz que contaminação põe em risco saúde de crianças

NATÁLIA CANCIAN
MARÍLIA ROCHA
DE SÃO PAULO

O leite materno de mulheres de Lucas do Rio Verde, cidade de 45 mil habitantes na região central de Mato Grosso, está contaminado por agrotóxicos, revela uma pesquisa da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso).
Foram coletadas amostras de leite de 62 mulheres, 3 delas da zona rural, entre fevereiro e junho de 2010. O município é um dos principais produtores de grãos do MT.
A presença de agrotóxicos foi detectada em todas. Em algumas delas havia até seis tipos diferentes do produto.
Essas substâncias podem pôr em risco a saúde das crianças, diz o toxicologista Félix Reyes, da Unicamp. "Bebês em período de lactação são mais suscetíveis, pois sua defesa não está completamente desenvolvida."
Ele ressalta, porém, que os efeitos dependem dos níveis ingeridos. A ingestão diária de leite não foi avaliada, então não é possível saber se a quantidade encontrada está acima do permitido por lei.
"A avaliação deve ser feita caso a caso, mas crianças não podem ser expostas a substâncias estranhas ao organismo", diz Reyes.
A bióloga Danielly Palma, autora da pesquisa, afirma que a contaminação ocorre principalmente pela ingestão de alimentos contaminados, mas também por inalação e contato com a pele.
Entre os produtos encontrados há substâncias proibidas há mais de 20 anos.
O DDE, derivado do agrotóxico (DDT) proibido em 1998 por causar infertilidade masculina e abortos espontâneos, foi o mais encontrado.

MÁ-FORMAÇÃO
Das mães que participaram da pesquisa, 19% já sofreram abortos espontâneos em gestações anteriores.
Também relataram má-formação fetal e câncer, mas não é possível afirmar se os casos são consequência da ingestão de agrotóxicos.
Mais de 5 milhões de litros de agrotóxicos foram utilizados no município em 2009, segundo a pesquisa.


E outro lado:

OUTRO LADO

Associação afirma que danos à saúde não são provados

DE SÃO PAULO

A Associação Nacional de Defesa Vegetal, representante dos produtores de agrotóxicos, diz desconhecer detalhes da pesquisa, mas ressalta que a avaliação de estudos toxicológicos é complexa.
Segundo a entidade, faltam estudos que comprovem prejuízos à saúde provocados por produtos usados adequadamente. "Não há evidências científicas de que, quando usados apropriadamente, os defensivos agrícolas causem efeito à saúde".
A Secretaria de Saúde de Mato Grosso diz que problema semelhante foi detectado em uma pesquisa feita há cinco anos, quando multas foram aplicadas. O caso "não se tornou um problema de saúde" na época, diz a pasta.
O governo afirma que vai avaliar a situação atual.


Mas a indústria sempre vai negar que “existam evidências científicas” de malefícios causados pelo uso de agrotóxicos. O mesmo vale para a indústria tabageira, a de bebidas alcoólicas e a de alimentos trangênicos.


Como contraponto, foi publicado um texto contestando a pesquisa no blog do Luís Nassif. Confira aqui.  

Cerejeiras doadas pelo Japão aos EUA irão ajudar vítimas de tremor



Cerejeiras dadas pelo Japão há quase um século à cidade de Washington irão ajudar a obter recursos para socorrer o Japão --devastado por um tremor de terra ocorrido no dia 11 deste mês-- devido a um festival realizado anualmente, durante a época da florada das árvores.

A entrada para o festival -- que ocorre no dia 9 de abril, com participação de grupos de arte do Japão-- foi fixada em US$ 5.

"Uma parte dos preços do ingresso será revertida ao resgate das vítimas, e convidaremos também o público a fazer doações", informou John Malott, presidente da Japan-America Society, que organiza há 50 anos o festival, que dura apenas um dia.

"A expectativa para este ano é de 80 mil visitantes", acrescentou Malott.

Em 1912, o prefeito de Tóquio ofereceu, em sinal de amizade aos Estados Unidos, 3.000 cerejeiras que, a cada ano, apresentam um "espetáculo" durante a primavera, atraindo um milhão de visitantes ao longo do rio Potomac e de lagos que enfeitam Washington.

Oitenta das cerejeiras são originais. As 2920 árvores restantes foram substituídas ao longo dos anos.

Neste ano, as manifestações, espetáculos e visitas foram organizadas no período do desabrochar das flores brancas e rosas, entre os dias 26 de março e 10 de abril, com a florada antecipada em relação ao ano passado.


Notícia da Folha.com . Foto de Jewel Samad, para a AFP. 

terça-feira, 29 de março de 2011

Bye-bye, Liz

Bye-bye, Liz!


ASSIM QUE A morte de Liz Taylor foi anunciada, Raffaella Perucchi, artista e amiga querida, postou uma pergunta no meu Facebook: "Sua mãe ainda tem aquele "foulard" que a Liz deu a ela?"
Liz Taylor foi a maior de todas (embora Ava Gardner tenha sido mais bonita), símbolo absoluto do cinema do início ao fim da carreira.
As safiras que tinha no lugar dos olhos tornavam impossível qualquer conversa objetiva com ela, isso eu pude constatar pessoalmente. Sua voz era hipnotizante, sua simpatia convidava a uma festa, a mulher era um colosso. Mesmo pré-adolescente eu já conseguia sentir o peso da sua sensualidade.
Respondendo à pergunta da Raffaella, sim, minha mãe ainda tem o lenço de seda da Hermès que ganhou de Liz Taylor, nas cores branca, azul, bege e amarela. Acho que vou pedir que ela o deixe em testamento e um dia, quem sabe, eu não o converta em doação na luta contra a Aids, isso seria chique, que tal?
Nas primeiras vezes que cruzei Liz Taylor, ela ainda estava com Burton. Teve uma ocasião em que minha irmã e eu presenciamos uma briga entre os dois, na porta de um restaurante chamado Olden, em Gstaad, na Suíça, onde Liz era nossa vizinha e eu passei boa parte das férias da infância.
A cena foi um show. O dois praticamente secaram a adega do restaurante e, na hora de ir embora, trocaram catiripapos na calçada. Pena que não existisse celular para registrar o bailado.
Richard Burton não segurou a onda. Era um beberrão, sim, mas isso não quer dizer que estivesse disposto a viver tão intensamente.
Para Liz, naquela época, sentimentos eram multiplicados por zilhão. Ela tinha uma PA (personal assistant) chamada Chen que era mais exigida do que o anjo da guarda do Fernandinho Beira-Mar. Mulher fantástica a Chen, personalidade forte, era obrigada a monitorar os humores da atriz de perto a todas as horas do dia.
Richard Burton picou a mula com Suzy Hunt, mulher do campeão de F-1 James Hunt. Muito boazinha ela, com pinta e agilidade mental de modelo, foi contar a novidade de que iria deixar o piloto para ficar com um homem "muito famoso" em um nervoso chá das cinco com minha irmã Kika (sempre ela) no hotel Palace. Não sei, mas acho que dramas de estações de esqui são bem mais densos do que questões ocorridas em balneários. Creio que tenha a ver com os espaços fechados.
Liz levou anos e tonéis de álcool para se recuperar. Filhos e animaizinhos de estimação não arredaram pé, todos ali juntos no mesmo mafuá, em formação Tenenbaum de família disfuncional.
Minha mãe lembra especialmente de um gato preto, que era xodó. "Ela fazia questão de acariciar o gato com a mão em que usava o anel que ganhou de Burton", conta. Estamos falando do brilhante Krupp, de 33,4 quilates, que entrou para a história do romance no mesmo patamar de importância da adaga que matou Julieta.
Depois disso, Taylor casou-se com o senador republicano John Warner, um tipo capaz de deixar Sarah Palin parecendo Lênin, e que ressurgiu das trevas nos últimos anos para defender Bush e Cheney.
Deve ter sido uma tentativa da atriz de se enquadrar. Eu nunca vi, mas me contam que ela ficava muda na mesa em jantares na sua casa fazendo papel de gueixa, enquanto John parlamentava sobre política.
Durante esse casamento, Liz em nada lembrava a mesma pessoa que namorou o Peter, amigo do nosso professor de esqui, cujo blazer certo dia amanheceu todo rasgado. Queria ver a Gwyneth Paltrow ser capaz de paixão assim.



Isso é que é “high society”!...

A turistada diplomática de Obama

A turistada diplomática de Obama

BARACK OBAMA já havia deixado o Brasil, mas a poeira do "favela tour" que fez no Rio ainda estava nos seus sapatos quando a diplomacia brasileira fez questão de explicitar as diferenças entre Brasil e EUA sobre a questão líbia.
Talvez exceto para maníacos em diplomatês, a proposta brasileira sobre o que fazer na Líbia é uma desconversa inconsequente. Isto é, uma conversa irresponsável do ponto de vista de quem considerava necessário evitar o aniquilamento da revolta contra Gaddafi.
Não houvesse ataque de EUA e cia., o blá-blá-blá brasileiro a respeito "de mais negociações" seria irrelevante, pois não haveria o que negociar quando o coronel-ditador tivesse cortado todas as cabeças.
Porém, a diplomacia brasileira de fato não se ocupava de tomar alguma atitude consequente a respeito da Líbia. Estava fazendo dobradinha com a Índia, eventualmente outro Bric e países menos cotados, a fim de amolar os americanos.
Os brasileiros estavam fazendo política de desgaste contra os EUA e mais um manifesto crítico a respeito da distribuição de poder em instituições formais de "governança global", tais como a avacalhada ONU.
Essa micropendenga entre Brasil e EUA acerca da Líbia faz pensar de novo na visita de Obama ao Brasil.
A viagem de férias entediadas da família Obama ao Brasil não parece ter movido uma palha no celeiro em mau estado, abandonado, das relações entre os dois países.
Os EUA continuam a desconsiderar as aspirações megalomaníacas do Brasil de se meter em confusões geopolíticas, coisa para a qual não temos literalmente bala nem dinheiro para pagá-la. Isso fica claro na esnobada do "pleito" por uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU e em relação a todas as propostas brasileiras sobre conflitos internacionais mais sérios -ou até a respeito de Honduras.
Os EUA nem se amolam de pensar em reiniciar um diálogo sobre ampliação de comércio com o Brasil (aliás, especialmente depois da crise de 2008, os americanos estão congelando essa conversa com todo mundo). Os EUA sabotam sistematicamente o Brasil e os interesses das empresas brasileiras na Organização Mundial do Comércio.
A própria viagem de Obama teve muito de ridículo, de visita à taba. Na palavra exata de Jânio de Freitas nesta Folha, Obama fez "discursos de churrascaria", cheios de clichês e de demagogias fáceis. A diplomacia americana não fez o menor esforço de apresentar uma proposta nova, fazer um agrado maior. Nada.
Obama fez "favela tour". Sua família foi assistir a macumba para turistas e bater uma bolinha com o povo, de resto com cara evidente de tédio, o que, aliás, é perfeitamente compreensível.
A banalidade das palavras e do programa da visita é mais um indício da indiferença americana e de sua ignorância a respeito do Brasil. Pelo menos parte da elite brasileira considera de péssimo gosto essa turistada diplomática. Se o nível dos diplomatas americanos no Brasil não fosse tão ruim, já teriam aprendido tais coisas.
Mas o resumo da ópera é que tanto como evidenciado no "simbolismo" da visita como na prática das relações entre os dois países Brasil e EUA ainda não têm "agenda". E os norte-americanos não parecem ligar muito para isso.


Texto de Vinicius Torres Freire, na Folha de São Paulo, de 24 de março de 2011

O dilema de Zuckerberg


O dilema de Zuckerberg
 
Como se sente o Facebook, baseado no uso de informações verdadeiras, com a informação de que o exército dos EUA está criando centenas de perfis falsos para investigar suspeitos mundo afora? Seu criador reagirá?

A visita e o visto

A visita e o visto

OBAMA VEIO e foi embora, sem fazer o anúncio histórico que todo brasileiro estava a desejar.
Não me refiro à aceitação do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Belgas e suecos vivem bem sem isso, e não gostaria que o preço por uma "decisiva influência brasileira nas questões internacionais" fosse cobrado em mais gastos militares e em brasileiros morrendo e matando em algum cafundó ditatorial do Oriente Médio.
O que faltou na visita foi a decisão de abolir a exigência de visto para os brasileiros entrarem nos EUA. Aliei-me a Elio Gaspari, colunista da Folha, nessa expectativa, expressa em artigo recente.
Para mim a decisão já não serviria mais, em todo caso. Acabei de passar pela fila do consulado americano e, aparentemente, eles foram com a minha cara.
Cheguei lá às sete e pouco da manhã. Do lado de fora, a fila se estendia por um bom quarteirão. Estava "tranquila", avaliou, dando uma olhada pela janela, o despachante que me ajudava no processo.
O escritório dele, na mesma rua do consulado, faz parte da pequena indústria do visto americano que floresce por ali: ponto de táxi, guarda-volumes, lugares para tomar café da manhã e até floristas.
O escritório, ou "posto avançado", do despachante existe para você deixar guardado, num envelope pardo com seu nome, o telefone celular -que não é admitido nas dependências do consulado. Lá também você pega o seu passaporte, fotos e formulários que havia deixado anteriormente com a sede central do escritório de despachos. Tudo já foi conferido, para evitar surpresas.
Verifica-se, por exemplo, se está preenchido a contento o questionário final de sua requisição. As autoridades americanas perguntam seriamente: "Você faz parte de alguma organização terrorista?". Há uma casinha para o "sim", outra para o "não".
Pretende traficar drogas nos Estados Unidos? Não, certamente não. É sua intenção prostituir-se em território americano? No, I am not that type. Já torturou alguém? Não, por quê? Estão ainda precisando de gente em Abu Ghraib?
A irracionalidade de todos esses cuidados de segurança salta aos olhos. Mas há também o componente da humilhação.
Não sei o que faria se eu fosse ministro. Mas é duro engolir que autoridades de primeiro escalão do governo brasileiro consintam em ser revistadas antes de se encontrarem com Obama, assim como o chanceler nosso que teve de tirar os sapatos para passar pelo controle num aeroporto americano.
O melhor, em casos assim, seria dizer "não vou", e pronto. A frase serviria, de qualquer modo, para todos aqueles que, singelamente carregando nos braços a prova de possuírem carro e casa própria, esperam horas para obter seu visto.
Se quisessem arranjar algum tipo de emprego clandestino, não seria mais fácil viajar até a Inglaterra ou a França, que não pedem visto nenhum? Difícil imaginar que a lista de documentos e a entrevista sirvam de filtro eficiente para barrar os brasileiros ilegais.
No fundo, aquilo é pior para as pessoas do consulado do que para nós. É necessária uma grande quantidade de funcionários só para organizar a fila (uma só, não; quatro filas diferentes, conforme a etapa do processo).
Americanos reais, atrás de um grosso vidro, finalmente entabulam rápida conversação com os postulantes ao visto. O que me atendeu foi mais do que simpático: tinha um humor leve e feliz, como se não estivesse condenado a realizar centenas, talvez milhares de entrevistas daquele tipo por mês.
Óbvio que, em todos os graus da hierarquia, o pessoal do consulado não pode despertar a menor suspeita de estar sendo antipático. Quanto aos brasileiros, por outro lado, não querem de jeito nenhum parecer que estão criando caso.
Atrás de mim, um homem mais velho compreendia tudo: "Claro, eles vivem com ameaça de terrorismo... Claro, eles têm o maior problema com clandestinos... Claro, a fila é grande, com tanto brasileiro querendo viajar...".
Foi essa frase que me deu o clique. Humilhação? Mas não seria justo um sinal de força? Eis uma fila imensa de brasileiros, só agora neste horário das sete, em São Paulo. É uma invasão, a nossa. Cuidai-vos, califórnias, disneylândias: nossas forças, sem radares nem combates, avançam, num misto de desleixo e avidez.

Texto de Marcelo Coelho, na Folha de São Paulo, de 23 de março de 2011

Maioria das armas dos traficantes vem de dentro do País

Maioria das armas dos traficantes vem de dentro do País

A CPI das Armas, aberta no início de março na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), pelo deputado Marcelo Freixo (PSol), revisita um tema já investigado pela Câmara dos Deputados, em apuração concluída em 2006. Entre os principais representantes da sociedade civil que auxiliaram os parlamentares estava Antonio Rangel Bandeira, pesquisador do projeto de Controle de Armas da ONG Viva Rio. O sociólogo foi o primeiro a ser ouvido pela CPI fluminense, em sessão na segunda-feira 21. Coube ao acadêmico, autor de uma pesquisa sobre o tráfico de armas no Brasil, situar os deputados sobre os números e principais resoluções obtidas pela pesquisa e a CPI do Congresso.

Bandeira, em entrevista à CartaCapital, detalha os pontos e propostas apresentadas em sua fala na Alerj. Para ele, a Comissão deveria concentrar seus esforços em investigar o tráfico interno de armas, que corresponde a 93% do armamento ilegal do país. Pelo levantamento, 63% destas armas foram vendidas de forma legal antes de entrarem para o mercado negro. “Isso demonstra que não há controle interno. As armas saem dos fabricantes e caem na mão do crime organizado. Quem tem que responder por isso são as autoridades brasileiras de fiscalização. Jogam essa cortina de fumaça para dizer que as armas do narcotráfico vêm de fora.”

Nesta segunda-feira 28, a CPI das Armas ouve ex-delegado Carlos Oliveira, preso pela Operação Guilhotina da Polícia Federal (PF), o relator da CPI na Câmara, o ex-deputado Raul Jungmann (PPS-PE), e o diretor da Divisão de Fiscalização de Armas e Explosivos (Dfae).

Leia abaixo a entrevista do sociólogo dividida por pelos principais temas da organização do tráfico de armas, como o transporte e a fiscalização.


A CPI das Armas na Alerj

“Eu sou otimista em relação a CPI das Armas, porque a segurança pública no Rio de Janeiro está desempenhando um bom papel. Eles abriram uma frente de batalha na qual já estou há treze anos. A CPI da Câmara dos Deputados foi a primeira e mais abrangente análise do tráfico de armas no Brasil. Trabalhamos nisso durante um ano e meio. Saíram oitenta recomendações. Apenas 5% das resoluções alcançadas naquela ocasião, sendo otimista, foram efetuadas. O momento é muito bom para essa CPI. Acho que o governo do Estado, pela primeira vez, está cortando realmente na carne. Teve até comandante preso. Os maiores criminosos são os policiais, que é o que as nossas pesquisas sempre apontaram.”

A pesquisa

“A nossa pesquisa abrange todo o território nacional, mas apresentei na CPI algo mais específico sobre o Rio. Nós conseguimos rastrear cerca de 20 mil armas apreendidas na ilegalidade no RJ. Com informações dos fabricantes e com a ajuda da Polícia Federal e do Exército, constatamos que 68% tinham sido vendidas pelos fabricantes, antes de serem desviadas, para oito lojas no Rio. E 18% tinham sido vendidas para o Estado, ou seja, Forças Armadas (28%) e o resto (72%) para a polícia. Desta porcentagem, 59% para a Polícia Militar. A nossa pesquisa mostra que a banda podre da PM aparece disparada como a principal fornecedora de armas e munições para o narcotráfico.”

O problema das armas é interno

“O erro que eu vejo constantemente, inclusive das autoridades, é dizer que o problema da arma no Brasil é externo. Foram 494 armas ‘apreendidas’ no Complexo do Alemão nas operações do final de 2010, porque eles entregaram apenas parte do que encontraram. O resto venderam para a milícia. Destes, 66% eram revólveres brasileiros. Armamento que vem do exterior é de cano longo, calibre pesado, como metralhadora. O narcotráfico compra porque tem dinheiro para comprar e também porque precisa. O tráfico no Rio é dividido e eles estão sempre em guerra, diferente de São Paulo, onde está unificado. Para a polícia do Rio é muito importante a fiscalização deste contrabando internacional, porque esse armamento pesado vai ser usado contra ela. No entanto, nem todo membro do narcotráfico tem fuzil. Apenas aqueles que tem um cargo mais poderoso é que carregam armas de maior calibre. Os soldados do crime utilizam pistola e revólver. Mesmo onde tem a maior concentração de arma estrangeira, como no Alemão que é o QG do narcotráfico, é minoria. Nós apuramos que 95% das armas brasileiras são revólver e pistola. Disparado o 38 milímetros de produção nacional. Isso demonstra que não há controle interno. As armas saem dos fabricantes e caem na mão do crime organizado. Quem tem que responder por isso são as autoridades brasileiras de fiscalização. Jogam essa cortina de fumaça para dizer que vem de fora. A indústria de armas e munição alimenta o tráfico e precisamos fiscalizar isso. Mesmo o armamento estrangeiro utiliza munição brasileira para todo tipo, inclusive os de calibre pesado. Em termos de Brasil, a média de armamento estrangeiro é 7%. O Estado do Rio tem a maior quantidade de armamento estrangeiro, onde chega a 14%. Eu não sou contra uma maior fiscalização das fronteiras obviamente, mas sou cético. Eu morei nos EUA e cruzei a fronteira com o México, que é três vezes menor que a nossa fronteira seca. Os EUA com cerca, polícia especial, não conseguem fiscalizar aquilo direito. São 140 pontos de entrada de arma por essa fronteira, apenas as que a gente constatou. A nossa fronteira vão fiscalizar como? Não entra apenas por rios secundários, mas pela corrupção da polícia na fronteira. É uma fronteira de mais de 15 mil quilômetros com 10 países. É dificílimo. Nós temos que combater o nosso problema interno primeiro.“

Hipóteses para o tráfico interno de armas

“Primeira hipótese: o próprio lojista vende direto para o narcotráfico. A CPI do Congresso estourou uma loja enorme em Pernambuco chamada O Rei das Armas e comprovou que ela abastecia todo o crime organizado do Nordeste. Segunda hipótese: dos 68% das armas que entraram na ilegalidade por meio de venda em lojas, 25% a loja diz que vendeu para a segurança privada, que tampouco é fiscalizada. Responsabilidade da PF. Terceira hipótese: repasse por pessoa física. A loja pode vender para várias diferentes pessoas, mas pode vender uma grande quantidade para uma única pessoa. Essa pessoa é o que chamamos de corretor. É o cara que intermedeia. Ele compra legalmente e revende para as organizações criminosas. Todas essas hipóteses teriam que ter sido testadas pela polícia e se chegaria aos culpados por esse sistema.“

Fiscalização do comércio legal de armas

“São 3 mil lojas de armas no Brasil. Imagine a festa. A quem cabe controlar o comércio? O Exército, pelo Departamento de Fiscalização de Produtos Controlados (DFPC). Herança da ditadura. Tentamos mudar isso no Estatuto do Desarmamento, mas os militares não deixaram e os políticos abriram as pernas. Por que o exército tem interesse em continuar fiscalizando o comércio de armas? É muita grana. Cabe ao Exército fiscalizar a loja e à Polícia Federal fiscalizar se vendeu para alguém que não devia. No entanto, uma instituição não fala com a outra.”

Transporte do tráfico de armas

“O Exército também é o responsável por fiscalizar o transporte de todas as armas que vão das fábricas para as lojas. Um general me falou: ‘É claro que controlamos. A própria Taurus (fábrica de armas) dá a maior importância ao transporte das suas armas. Eles têm um controle absoluto do transporte. ’ Eu o questionei: ‘A Taurus controla a Taurus? ’ Por lei, todo o transporte de arma, seja por terra, mar ou ar, tem que ter controle militar. Outro militar me disse: ‘transporte de armas é que nem de tomate, no caminho você perde alguns. ’ É a taxa do contrabando. A Baía de Guanabara, à noite, é uma loucura. Isso ficou claro no depoimento de narcotraficantes na CPI das Armas. A Baía está cheia de falso pescador. Eles passam o dia dormindo, à noite eles vão aos navios atracados dentro e fora da Baía, contrabandeiam tudo que possa imaginar e vão direto para as favelas. Em princípio, quem controla seria a PF, que tem umas duas lanchinas que às 18 horas se recolhem porque acabou o expediente. O que faz a Marinha para ajudar nessa fiscalização? Nada. Por norma eles não podem fiscalizar carga, mesmo se a carga for fuzil de guerra, ficam apenas vigiando iate clube. Na CPI na Câmara, ficou muito claro que em todos os portos, em Santos, em Paranaguá, entram todo o tipo de contrabando com a complacência da Polícia Federal, que leva em cima na alfândega. É outro buracão do enorme queijo suíço que é o comércio e o tráfico de armas no Brasil.”

Banco de dados das armas

Todas as polícias do Brasil devem informar ao Sistema Nacional de Armas (Sinarm) sobre todas as armas apreendidas. Esse seria um grande banco de dados para a PF poder cumprir seu papel de investigar o tráfico de armas. Só que as Forças Armadas têm outro banco, que se chama Sigma. Neste banco não estão só o registro sigiloso das armas das Forças Armadas, como o também está o registro do CAC (Colecionadores, Atiradores Esportivos e Caçadores). Tem muito traficante que se inscreve em clube de tiro para poder importar e comprar armas que um cidadão comum não pode fazer. Vários colecionadores foram presos transportando armas do Paraguai para cá, ou seja, bandido com carteirinha de colecionador. Isso tudo foi descoberto pela Operação Planeta, do próprio Exército, liderada pelo coronel Diógenes Dantas, que descobriu que colecionadores e atiradores são um grande biombo para o tráfico de armas. A CPI descobriu que tinha um clube de tiro em São Paulo que abastecia o PCC. A PF não tem acesso ao registro destas armas. O Estatuto do Desarmamento determinou que o Sigma se conectasse ao Sinarm para a PF poder fazer o rastreamento de armas completo. Passados oito anos do Estatuto, até hoje as Forças Armadas não cumpriram a lei federal ao não integrarem o Sigma.


Notícia da CartaCapital, via blog do Luís Nassif

segunda-feira, 28 de março de 2011

Será Obama ainda pior do que Bush?

Será Obama ainda pior do que Bush?
Por David Swanson
Quando defendi o impedimento de George W. Bush, eu o fiz a despeito da animosidade que a proposta gerou por parte de apoiadores desse dispositivo constitucional, e não por causa dela. Eu não estava interessado em retaliações, e sim queria deter a continuidade e repetição dos crimes e abusos do então presidente. Especificamente – e de longe esse era meu objetivo mais importante, conforme já disse incontáveis vezes –, eu tencionava negar a todos os presidentes futuros os poderes que Bush arrogara para si. Abusos pontuais podem ser catastróficos, mas instituir o poder para repeti-los pode multiplicar o dano original muitas vezes, especialmente quando um dos poderes que se alega ter é o poder de criar novos poderes.
Há uma tendência bastante comum de confundir a política com aqueles espetáculos televisivos supostamente baseados na vida real, ou de imaginar que os políticos são, ainda mais do que no caso de heróis de ficção, nossos amigos íntimos. Essa tendência apenas se amplifica com o arcabouço bipartidário em que somos instruídos a imaginar que metade dos políticos é puramente má e a outra metade, essencialmente boa. Portanto, serei claro: há pouquíssima dúvida de que Barack Obama fala com maior eloqüência do que Bush, e de que Obama (mais quando era candidato do que como presidente) expressa sentimentos muito mais afáveis e sábios do que Bush. Parece-me bastante provável que, caso Obama tivesse se elegido presidente em 2000, ele teria causado bem menos danos até 2008 do que Bush. Obama é provavelmente um cara com quem é possível se divertir jogando basquete, enquanto pode se esperar de Bush que dê cotoveladas, chute os oponentes e lhes puxe as bermudas para baixo. Todavia, estou aqui interessado em algo mais importante do que esse cotejo espetaculoso de personalidades. Penso que Obama seria maravilhoso no papel daqueles chefes de estado que possuem pouco ou nenhum poder real, e gostaria muito que esse fosse o caso. Penso ainda que os estadunidenses claramente precisamos de uma personagem dessas.
Grosso modo, três maneiras de se avaliar um presidente poderiam ser definidas como se segue. Primeiro, na circunstância inimaginável em que um presidente encontrasse um sem-teto na rua, ele o convidaria a morar na Casa Branca, o ajudaria a encontrar um lar, seria gentil e lhe daria um dólar, o ignoraria, ralharia com ele e o mandaria arranjar trabalho, lhe daria um chute no estômago, ou o arrastaria para dentro de um furgão e o despacharia para ser torturado em algum lugar? Não vejo muito mérito nessa forma de avaliar presidentes. A segunda forma seria nos perguntarmos: as políticas públicas postas em prática pelo presidente resultam em quantidades maciças de pessoas perderem ou lar ou coisa pior? Uma terceira seria nos perguntarmos: as políticas públicas postas em prática pelo presidente conferem a futuros presidentes poderes que lhes permitam fazer que incontáveis multidões sofram horrivelmente? A alegação que defenderei neste texto é que Obama ainda não causou tanto dano quanto Bush no que se refere à segunda forma, mas que já fez pior do que ele, de certa maneira, com respeito à terceira.
Um dos Conselheiros da Casa Branca de Richard Nixon, John Dean, em dado momento da presidência de Bush, previu que seu sucessor seria uma de duas coisas: ou o melhor ou o pior presidente da História. Ele ou ela ou desfaria os danos e processaria os perpetradores criminalmente, ou os protegeria e daria continuidade aos abusos. Obama protegeu os criminosos, continuou muitos dos abusos, consolidou o poder de cometê-los e expandiu poderes abusivos para além daquilo que Bush jamais tentara. Não pretendo aqui fazer quantificações e determinar se Obama se assenhoreou de “mais” novos poderes abusivos do que Bush. Quero apenas demonstrar que, assim como ocorreu com presidentes anteriores, Obama reteve os poderes que recebeu e acrescentou mais alguns.
É preciso que embarquemos num exercício de especulação para determiner se a terceira forma de avaliar presidentes (os poderes que eles legam a seus sucessores) é mais importante, e quanto mais, do que a segunda (o dano imediato que eles causam ao mundo). Quando William McKinley enviou tropas para o estrangeiro sem aprovação do Congresso, morreu gente. Mas morreu muito mais gente quando presidentes posteriores fizeram a mesma coisa. A maior parte dos assassinatos e torturas empreendidos pela CIA ocorreu muito depois de Truman ter deixado o cargo (e ainda ocorre). O padrão que emerge é o de poderes que, uma vez estabelecidos, são sempre ampliados, e nunca podados; e eles são usados, nunca negligenciados. Um padrão não prediz o futuro, mas permite que se determinem perigos em potencial.
No ambiente politico dos EUA, o debate, as discussões, a organização popular, o ativismo e as campanhas têm foco principal em questões domésticas – mesmo nas discussões em torno de um orçamento federal que devota mais da metade de nosso dinheiro para atividades militares. E é em questões domésticas que se encontram as maiores divergências entre os dois partidos e seus líderes (e é por isso que o debate tende a parar por aí). Obama parece ter indicado ministros menos malucos para a Suprema Corte, indivíduos mais sãos da cabeça para Conselho Nacional de Relações Laborais, etc.. A lei de saúde de Obama pode ter sido desapontadora, mas pelo menos há uma lei. No entanto, tal visão é muito condescendente. Presidentes que controlam o processo legislativo de acordo com negociações secretas com cartéis corporativos criam um precedente ruim de um Executivo entrincheirado; a reforma da saúde, pode-se argumentar, faz mais mal que bem (incluída aí a exigência de que o cidadão adquira um produto corporativo), e a lei em questão torna muito difícil aos estados executar soluções reais para o problema da saúde, como Vermont vem tentando fazer – e os impedimentos a essas iniciativas foram incluídos na lei por insistência pessoal de Obama.
O Departamento de Educação propugna soluções corporativas e privatistas, com ênfase exclusiva em exames. Os acordos comerciais são todos corporatistas. Obama vêm promovendo a idéia de ampliar a geração nuclear de energia e o “carvão limpo”. Os danos do furação Katrina ainda estão onde sempre estiveram, e foram acrescidos do vazamento marinho da British Petroleum, um período em que a prioridade da Casa Branca parece ter sido enganar o público a respeito da verdadeira extensão dos danos. Pode-se dizer que o meio ambiente é mais do que uma questão doméstica, mas também aí residem receitas para o desastre. Conforme marchamos em direção a uma era de clima mais inclemente e desastres “naturais” mais corriqueiros, é razoável que se culpe progressivamente mais cada sucessivo presidente que se recuse a tentar garantir nossa sobrevivência (e muito mais um que vá a conferências internacionais e sabote possíveis acordos globais, como fez Obama em Copenhague). E ainda nem começamos a falar do orçamento.
O presidente Obama pegou o orçamento dos anos Bush, aumentou a fatia das Forças Armadas, e cortou ou congelou todo o resto. A crise orçamentária em governos estaduais e nos lares das pessoas continua a piorar. O resgate financeiro de Wall Street e das corporações, que Obama ajudou Bush a nos empurrar goela abaixo, tão somente continuou a crescer fora de controle desde que Obama se mudou para a Casa Branca. Porém, Obama ainda quer que tudo que não seja militar, e que possa tirar o dinheiro de seu rumo natural aos bolsos dos mais nababescos entre os senhores modernos, seja congelado, sofra cortes ou desapareça. Quando Bush tentou cortar o aquecimento dos pobres durante o inverno, a ACORN (nota do tradutor: acrônimo inglês para Associação de Organizações Comunitárias para uma Reforma Imediata) fez um escarcéu e o deteve. Quando Obama fez isso, a ACORN já fora eliminada antes. Agora Obama quer eliminar o que restou de impostos corporativos.
Obama não aumentou tanto o orçamento militar quanto Bush, mas ele fez acréscimos ao maior dos orçamentos militares de seu antecessor, tratando de o aumentar a cada ano – e com ativistas e relatos noticiosos a demonstrar uma tendência de alegar falsamente que ele o está cortando. Isso resultou em mais dinheiro para guerras, menos dinheiro para o povo, e menos ativistas dispostos a protestar contra essas políticas públicas no exato momento em que muito do que restou do movimento pacifista optou por se concentrar em questões orçamentária ao invés de tentar pôr fim a guerras. Os orçamentos de Bush eram piores do que pareciam porque ele usou leis suplementares sem respeito pelos procedimentos naturais para liberar mais dinheiro para guerras. Obama fez campanha contra essa prática. Desde que se tornou presidente, Obama fez exatamente como Bush, o que teve o efeito de tornar gastos bélicos irregulares uma prática normal que goza do favorecimento de ambos os partidos, e de quebra transformar o ato de mentir em campanha em norma.
Durante algum tempo, Obama teve mais tropas e mercenários em campo do que Bush jamais tivera. Agora ele não tem mais, como resultado de uma retirada parcial do Iraque. Porém, Obama abraçou o mito de que uma escalada tática do conflito em 2007 logrou reduzir a violência naquele país, e aplicou esse mito ao Afeganistão, com escaladas em cada um dos últimos dois anos que previsivelmente provocaram mais violência. Obama pegou uma guerra de baixa intensidade no Afeganistão e a piorou dramaticamente. Ele ignorou e acobertou crimes de guerra a perder de vista, e tratou de desviar a responsabilidade para outrem. Ele expandiu radicalmente o uso de aeronaves de ataque não-tripuladas, inclusive em território paquistanês. Ele mandou tropas para o Paquistão e, em certo ponto, de acordo com relatos noticiosos, para um total de 75 nações, quinze a mais do que Bush. Quer se conte o emprego de míni-esquadrões da morte como “guerras”, quer não, o bombardeio não-tripulado do Paquistão certamente parece bem bélico, e vêm ocorrendo sem sequer um fingimento de autorização por parte do Congresso, e perante uma condenação por ilegalidade por parte das Nações Unidas. Obama criou mais bases militares estadunidenses em mais países, ampliou as vendas de armamentos para nações contra as quais um dia poderemos ter a oportunidade de guerrear, e deu seguimento à privatização das forças armadas e ao recurso às mais notórias corporações da era Bush – ajudando assim a lhes conferir imunidade.
“Tudo bem, tudo bem, mas ele fechou Guantánamo!”
Obama jamais teve a menor intenção de libertar os prisioneiros ou de julgá-los. O tempo todo, ele trabalhou para os manter na prisão sem direito ao devido processo legal. Ele tão somente achou que poderia fazer parte do serviço com igual efeito em Illinois ao invés de Cuba. Ele ainda não conseguiu concretizar essa última parte, mas francamente, quem liga? A questão não é quantas pessoas aprisionamos ilegalmente no Afeganistão e quantas, na Virgínia. A questão é se vamos aprisionar pessoas ilegalmente. Parece que vamos. Os abusos secretos de Bush se tornaram políticas públicas formais na gestão Obama. A decisão de trancafiar ou não alguém, ou mesmo de o torturar ou não, tornou-se uma questão de preferência por esta ou aquela política pública, e não da lei. Até o poder de assassinar quem quer que seja, inclusive estadunidenses, agora se tornou – por decreto de Obama – uma questão puramente de capricho presidencial, sem que se exija autorização de qualquer corte ou legislatura.
Obama anunciou o fim da tortura, e não o indiciamento legal dos responsáveis; mas ele continua a se reservar o privilégio de torturar caso decida por esse curso de ação, conforme Leon Panetta e David Axelrod deixaram bem claro. E ele declarou abertamente ter o poder de abdução extraordinária, ou seja, o poder de raptar pessoas e as enviar para serem torturadas em segredo alhures. Não sabemos se tal coisa tem acontecido; mas jamais saberíamos, de qualquer modo. Não sabemos que a tortura continua a ocorrer em Guantánamo, em Bagram, e nas masmorras do governo iraquiano que sustentamos. A espionagem de indivíduos sem mandado judicial, da mesma forma, não só persiste como cresce e, no ínterim, Obama assegurou imunidade a co-conspiradores corporativos.
Na verdade, Obama instruiu publicamente o Departamento de Justiça a não indiciar os torturadores da CIA, e seu Departamento de Justiça tem trabalhado noite e dia para proteger os artífices de incontáveis crimes de guerra, inclusive com a instituição de privilégios de sigilo e imunidade que Bush sequer tentou conseguir. Esse Departamento de Justiça, assim como nossas cortes, têm revestido altos funcionários de um direito à imunidade contra processos civis ou penais que possam trazer à tona o que eles tenham feito enquanto a serviço de nosso governo. Obama também tem pressionado várias nações européias a não indiciar os crimes de seu predecessor. E muito disso vem ocorrendo sem que sequer demos bola. O que se manifestara com ultraje com relação aos crimes cometidos por Bush se torna um vago desinteresse quando se conta que Obama tem atormentado a Espanha a não processar judicialmente aqueles mesmos crimes.
Essa é a mágica, a desastrosa mágica, que se vê quando se passa a bola para um presidente do outro partido. Obama proferiu um discurso de aceitação do Prêmio Nobel da Paz em que glorificou a guerra. E proferiu um discurso sobre guerras direto do Salão Oval em que deu fé de uma sucessão de mentiras sobre o Iraque. Ele se postou diante da constituição dos EUA nos Arquivos Nacionais e jogou o habeas corpus na lata do lixo. O leitor consegue imaginar o ultraje ininterrupto e infernal que haveria caso Bush tivesse feito qualquer uma dessas coisas? O processo de normalizar crimes não é puramente um mecanismo de repetição e expansão. Também é um de fazer que os crimes se misturem ao plano de fundo e esmaeçam, e assim os tornar parte da mobília nacional, quando por fim esquecemos coletivamente que um dia vivíamos sem eles.
Mencionei antes o poder de criar novos poderes. É aí que nos arriscamos a danos exponencialmente piores – ao nosso sistema de governo e ao mundo – nos anos vindouros. Não há garantia de que será assim, mas o risco persiste. Escapar a esse desfecho exigiria atos de restrição e reversão sem precedentes. Obama chegou ao cargo que ocupa montado na promessa de que seria o presidente da transparência e da candura, um raio de sol. A era dos segredos chegava ao fim! Não pretendo medir Obama com a régua de suas promessas de campanha, embora pareça justo fazê-lo. Meço-o pela régua de Bush, e noto que parte do modus operandi de Obama é por meio de propaganda enganosa. Obama se recusou a liberar os registros de visitantes da Casa Branca referentes ao período em que se reuniu com representantes das empresas de serviços de saúde, reservou para si o direito de esconder tantos outros registros quanto lhe aprouver, mas liberou alguns deles e anunciou isso como se fosse um avanço. Enquanto isso, ele manda funcionários para se reunirem com lobistas fora do terreno da Casa Branca para evitar ter de escrever qualquer coisa nos registros de visitantes.
Isso é sigilo no nível de Bush e Cheney, só que com a pretensão de que não é. E é pior. Obama bateu todos os recordes de pedidos rejeitados de acesso a documentos pela Lei de Liberdade da Informação, e de indiciamento de delatores de malfeitos – sem mencionar o aprisionamento ilegal e tortura do suposto delator Bradley Manning, uma política que Obama tem defendido com base em normas de sigilo não-declaradas estabelecidas pelas forças armadas. Assim como Obama intensifica guerras quando e da maneira como o Pentágono publicamente lhe instrui a fazer, ele assume a responsabilidade por torturar um prisioneiro porque os militares assim querem. Essa retórica não é só retórica. Ela ameaça o poder civil.
Obama fez campanha com base na idéia constitucional de que é o Legislativo quem cria leis. Ele denunciou publicamente a prática de Bush de alterar leis por meio de interpretações presidenciais escritas*. Já como presidente, Obama, durante algum tempo, lançou mão dessa prática da mesma forma como fizera Bush, ou seja, para arrogar mais poderes para o presidente (e todo futuro presidente), inclusive o poder de se arrogar ainda mais poderes. E então, Obama estabeleceu a prática de presumir que documentos executivos prévios, tais como interpretações presidenciais escritas, decretos-leis e memorandos jurídicos secretos, poderiam ser usados no lugar de novas interpretações. Isso é ainda pior, e mais furtivo, do que a prática de Bush de anunciar previamente que leis ele pretendia violar. Obama anunciou que passaria em revista as interpretações assinadas por Bush e decidiria quais seriam mantidas, mas não disse se tais decisões seriam públicas, e não ofereceu explicação alguma sobre como exatamente tal curso de ação respeitaria mais a constituição do que o de Bush. Obama também deu para fazer suas próprias leis, inclusive a “lei” de aprisionamento ilegal por decreto-lei. Parlamentares republicanos como Bruce McKeon querem tornar essa lei em particular ainda pior, e por isso fizeram objeções ao anúncio imperial de Obama. Porém, não se imagine que eles pretendam lutar pelo equilíbrio entre os poderes com muito afinco.
Ambos os partidos transformaram em heróis imaculados gente que praticou alguns abusos desse tipo. E quem quer que se siga a Obama terá dificuldades sequer em chamar esses abusos de abusos, caso ele ou ela, por milagre, deseje fazê-lo. A Suprema Corte do EUA aceita como poderes presidenciais estabelecidos poderes empregados sem oposição por múltiplos presidentes. Decretos-leis são, agora, um desses poderes.
Como é a beligerância sigilosa e imperial. John Kerry e John McCain querem bombardear a Líbia. John Yoo, que ainda não foi processado por ter “legalizado” guerras de agressão, concorda com eles. Obama, para seu grande mérito, ainda não agiu nesse sentido. Contudo, o debate é sobre escolhas políticas, e não sobre leis. O fato de que bombardear outro país é ilegal não é mais considerado um fato em Washington, D. C.. Trata-se de um posicionamento marginal, apenas. E isso é o que me assusta.
Assim, por que não declarar Obama impedido? Clamei pelo impedimento de Bush. E agora, afirmo que Obama é tão ruim quanto ele ou pior. Por que sou um hipócrita corrupto de tal caliber que ainda não criei um movimento para impedir Obama? Bem, vou lhes dizer, perdi a conta das vezes em que conversei com outras pessoas a respeito. Obama deveria ser impedido, condenado e tirado do cargo. Obama deveria ser processado por seus crimes. Assim como seus subordinados. Assim como seu antecessor, os subordinados dele, e todos os co-conspiradores corporativos. A razão por que não consigo reunir 20 pessoas que sejam para sairmos às ruas a exigir o impedimento de Obama (e, se conseguisse, elas o quereriam impedido por ter nascido na África de pais alienígenas oriundos do planeta Socialismo) é que ninguém no Congresso sequer finge ligar a mínima. Conseguimos criar um movimento considerável pelo impedimento quando Bush estava no cargo porque uma porção de Democratas no Congresso, especialmente nos anos de 2005 e 2006, fingia estar do nosso lado. Digo “fingiam” como forma não de sugerir que eles não concordassem intimamente conosco, mas que eles não estavam determinados a se esforçar muito nesse sentido.
A abolição da escravatura começou quando uma pessoa disse que era um erro e exigiu mudança. É isso o que temos de fazer quando se trata de acabar com uma presidência imperial e estabelecer um república representativa. Quero ver qualquer um que pratique os abusos discutidos acima impedido, processado, expulso do cargo por meio do voto e coberto de infâmia. Somos obrigados a perseguir justiça por quatro ou oito anos com os liberais a se ressentir de nós, e por quatro ou oito anos com os direitistas a se ressentir de nós, e assim por diante, nesse vai-e-vem. Isso quer dizer aplicar toda nossa força em qualquer ponto em que a máquina implacável aparente um pouquinho de fragilidade. Quer dizer expor continuamente a tortura de Bradley Manning e apoiar qualquer coisa que o congressista Dennis Kucinich faça para expô-la e qualquer coisa que quaisquer outros membros do Congresso façam caso um deles resolva um dia se juntar a ele. Quer dizer exigir um completo fim às guerras no Iraque, e no Afeganistão, e no Paquistão. E quer dizer construir movimentos de resistência civil viáveis em nível estadual como Wisconsin está fazendo. Junte-se a nós em frente à Casa Branca no próximo dia 19 de março. Tome parte aqui:http://warisacrime.org/content/upcoming-events
David Swanson é o autor de War Is A Lie. (A guerra é uma mentira)
==
*(Nota do tradutor: escolhi “interpretação presidencial escrita” para traduzir signing statement, comentário à lei por parte do Executivo que vem sendo usado nos EUA, embora exista como dispositivo teórico há muito tempo, de forma perniciosa por administrações recentes como forma de legitimar abusos e evitar supervisão do Congresso sobre atos do Executivo. Essencialmente, o presidente logra legislar e decidir a aplicabilidade da lei – prerrogativas, em teoria, do Legislativo e do Judiciário, respectivamente – ao simplesmente escolher a maneira de aplicar o texto legal vigente que seja de seu interesse.)

Tradução de H.C. Paes.

Vitória abolicionista nos EUA renova esperança

Vitória abolicionista nos EUA renova esperança

Por Aline Cunico, da IPS

Nova York, Estados Unidos, 11/3/2011 – Após tentar durante anos criar um sistema infalível para aplicar a pena de morte sem risco de executar inocentes, o governador do Estado de Illinois, Pat Quinn, finalmente optou por promulgar esta semana uma lei que aboliu esse castigo. Isto representa uma importante mudança nos Estados Unidos, onde a pena capital ainda é aplicada em 34 Estados, financiada com extraordinárias somas de dinheiro dos contribuintes.
Em entrevista à IPS, Richard Dieter, diretor-executivo do Centro de Informação sobre a Pena de Morte, explicou o que significa esta nova vitória para o movimento abolicionista norte-americano e a necessidade de a pena de morte também ser eliminada em outros Estados.

IPS: O que isto representará para o movimento abolicionista nos Estados Unidos?

RICHARD DIETER: É um marco importante em uma longa tendência de abandonar a pena de morte neste país. Nenhum Estado estudou esse castigo e seus problemas mais cuidadosamente do que Illinois. Que seus habitantes e representantes concluam que a pena capital simplesmente não pode ser aplicada, e que se deve chegar ao seu fim, é uma forte mensagem para o resto do país, de que o castigo pode estar em sua fase final. Em outros Estados, as execuções e as sentenças de morte estão diminuindo. Porém, enormes quantias de dinheiro continuam sendo investidas em programas que não dão nada à sociedade.

IPS: Por que alguns Estados ainda aplicam esse castigo?

RD: A pena de morte tem uma longa história nos Estados Unidos, de mais de 400 anos. É difícil erradicar uma tradição de uma só vez. Contudo, muitos Estados estão examinando legislações para a abolição, e é claro que outros seguirão o exemplo de Illinois. Os Estados que têm muitas execuções poderão se colocar na defensiva. Poucos acreditam que a pena de morte seja efetiva. O principal argumento para mantê-la é a ideia de que certos crimes só podem ser punidos dessa forma. Na medida em que mais Estados demonstrarem que mesmo diante de crimes horrendos se está melhor sem a pena de morte, a força desse argumento diminui.

IPS: O que é mais caro para o Estado: manter presos pelo resto da vida ou aplicar a pena de morte?

RD: O sistema da pena de morte é de longe muito mais caro do que aquele que pune os piores criminosos com prisão perpétua. As despesas legais para preparar um caso para a pena capital, o julgamento em si, as apelações e os altos gastos no corredor da morte superam os custos de 40 anos em prisão. Uma sentença de morte, contando todos os gastos relacionados, custa aos contribuintes cerca de US$ 3 milhões, enquanto a prisão perpétua custa US$ 1 milhão.

IPS: Ainda pode haver execuções em Illinois, já que a lei não é retroativa. O que poderá acontecer com os presos que esperam no corredor da morte por tanto tempo?

RD: A lei em Illinois não será retroativa e os atuais prisioneiros enfrentam a execução. O governador poderia comutar suas sentenças para prisão perpétua, ou os tribunais poderiam considerar que suas condenações à morte são desproporcionais já que o Estado decidiu pela abolição da pena de morte. Em todo caso, seguramente permanecerão na prisão o resto de suas vidas.

Envolverde/IPS
(IPS/Envolverde)

http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=87781&edt=1


Via blog do Luís Nassif.

Comentário rápido: Pois é. Agora só faltam mais 34 estados...

sexta-feira, 25 de março de 2011

Embarcações


Fernando Gonsales, na Folha de São Paulo, 22/03/2011.

Amarelinho Fechado

AMARELINHO FECHADO

Já o tradicional bar Amarelinho, na Cinelândia (centro), fechou ontem pela primeira vez em seus 90 anos.
Vistoria da Delegacia do Consumidor apreendeu 100 kg de alimentos com o prazo de validade vencido, sem etiqueta da Vigilância Sanitária e armazenados em local impróprio. Segundo a polícia, os agentes acharam baratas mortas no chão da cozinha.
O gerente José Lorenzo Lemos, 74, foi detido e autuado sob suspeita de crime contra as relações de consumo. Pagou fiança de R$ 6.000 e foi liberado. Ao sair, Lemos não concedeu entrevistas.
O Amarelinho ficará fechado para limpeza, higienização e obras. Na semana passada, o bar quase fechou pela primeira vez devido à visita do presidente americano, Barack Obama, que discursaria na Cinelândia. Como o evento passou para o Teatro Municipal, o bar ficou aberto.


Curiosamente no domingo passado, o jornalista Elio Gaspari havia informado em sua coluna na Folha de São Paulo que, após o comício do presidente dos Estados Unidos ser transferido da Cinelândia para o Teatro Municipal, o Amarelinho havia se tornado o restaurante que nem o presidente dos Estados Unidos havia conseguido fechar. Agora a vigilância sanitária fechou...

Che Gaddafi

Perigo à vista: a criação do Che Gaddafi

OUTRO DIA, UM CURIOSO estava em cima de um camelo nas ruínas de Petra. Saíra da pracinha onde Indiana Jones matou o beduíno fanfarrão, quando três sujeitos apareceram no caminho. Eram ladrões.
Um deles vestia camiseta com a imagem do Che Guevara. Das selvas da Bolívia, a lenda do Guerrilheiro Heroico chegara à cidade perdida dos nabateus.
Ninguém pode prever o que acontecerá com Muammar Gaddafi, mas os Estados Unidos estão no caminho da construção de mais um personagem lendário. Daqui a meio século, alguém poderá cruzar com um plantador de coca do altiplano boliviano vestindo uma camiseta do "Rei Filósofo" líbio.
Os mitos são construídos pelos inimigos. Se a Inglaterra tivesse mandado Napoleão para Boston, talvez ele tivesse morrido comerciando vinhos com o ervanário que entesourou. Seu mito deve muito aos seis anos de confinamento na ilha de Santa Helena, onde morreu.
Muitos são os guerrilheiros latino-americanos lembrados -Jorge Masetti, Camilo Torres ou mesmo Sandino-, mas só Guevara tem camisetas até em Petra.
Se Guevara tivesse ido a julgamento, certamente teria sido anistiado pela Bolívia e seria hoje um octogenário reminiscente em Havana. Em outubro de 1967, as forças da coalizão americano-boliviana que o capturaram decidiram executá-lo num casebre do vilarejo de La Higuera. A ordem foi dada pelo comando boliviano e transmitida por um agente da CIA que lhe tungou um Rolex.
A execução de Guevara e a exposição de seu corpo sobre tanques de lavar roupa, numa cena evocativa do Crucificado, abriram o protocolo da lenda. (No YouTube há dezenas de vídeos sobre esse episódio, para todos os gostos.) A casa virou museu e ao lado dela há um enorme busto de Che, à frente de um crucifixo.
Em 1997, seus restos mortais foram transladados para Cuba e estão num mausoléu. As execuções que ordenou tornaram-se justiçamentos, seu fanatismo, coerência, e suas aventuras, desassombro.
Os personagens de cenas como a de La Higuera raramente percebem a dimensão histórica dos episódios de que participam. O general americano que comanda o bombardeio da Líbia acredita que a choldra é boba, manda explodir o conjunto onde se supunha que estivesse Gaddafi, e diz que não se pretende matá-lo.
Exatos sete anos depois do bombardeio de Bagdá, transformou-se uma operação militar que se diz destinada a proteger civis numa ofensiva que incluiu o lançamento de bombas sobre a capital líbia.
(Nunca é demais lembrar o primeiro verso do hino dos fuzileiros americanos: "Dos salões de Montezuma às praias de Trípoli".)
À diferença de Che, Gaddafi é um oligarca larápio, mas há nele um ingrediente messiânico ausente no DNA do tunisiano Ben Ali ou do egípcio Hosni Mubarak. Como eles, soube seduzir empreiteiros, petroleiros, políticos e professores.
Parece um fanfarrão, mas é possível que fale sério quando diz coisas assim: "Gaddafi não é uma pessoa comum, que você possa envenenar ou armar uma revolução contra ele. Eu lutarei até a última gota de meu sangue".
Imagine-se um cenário catastrófico: Gaddafi sai do seu esconderijo e, em vez de se esconder numa cafua, como Saddam Hussein, desaparece, como d. Sebastião, durante um combate num oásis do Saara.


José Simão vê a Hora do Planeta

E a Hora do Planeta! No sábado vários monumentos serão apagados por uma hora. Para salvar o planeta! Então a Eletropaulo é a maior adepta da Hora do Planeta. São váááárias horas de luzes apagadas! Em São Paulo, toda hora é Hora do Planeta! Rarará!
E tem monumentos que deveriam ser apagados. Pra sempre! Ou melhor, derrubados! Como aquele monumento do Borba Gato em Santo Amaro. Não apaga, derruba! Tem um leitor de Pindamonhangaba que quer derrubar aquele monumento que fica no trevo: Monumento ao Jeca Tatu!
E derruba também aquele monumento de Niterói: Monumento a Arariboia. Que fica de bunda pra cidade. Tira o monumento que fica de bunda pra cidade e faz logo um Monumento da Mulher Filé! Rarará. E se derrubarem toda as estátuas, onde as pombas vão cagar? Rarará! E sabe o que o planeta falou sobre essa Hora do Planeta? "Não me encham o saco! Me deixem morrer em paz!". Rarará!

Da coluna dele, José Simão, o Macaco Simão, na Folha de São Paulo, de 23 de março de 2011.

Atualização - 28/03/2011: Notícia da Folha.com tenta dar uma perspectiva do ue foi a "Hora do Planeta" em 2011.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Plano B: Microsoft processa Barnes & Noble e outras pelo uso do Android

A Microsoft foi uma das pioneiras dos sistemas móveis para PDAs, com o Windows CE, que chegou a ocupar uma posição relativamente confortável no mercado de palmtops no início da década passada, desbancando a Palm, mas acabando por se tornar obsoleto, perdendo espaço primeiro para o Symbian e em seguida também para o iOS e o Android.

Percebendo a inviabilidade do sistema, a Microsoft resolveu jogar tudo na lata do lixo e começar tudo de novo, desenvolvendo o Windows Phone 7 a partir de uma página em branco e em seguida injetando uma soma generosa na Nokia, para que o adotassem como sistema principal. Ainda precisaremos esperar mais quase dois anos até saber se o casamento com a Nokia dará certo ou não, mas no momento a posição da Microsoft é bem clara: o percentual de participação do Windows Phone 7 no mercado de smartphones mal se aproxima de 1%.

Incapaz de competir em relação aos méritos técnicos, a empresa adotou a previsível estratégia da guerra de patentes, para intimidar e extrair algum dinheiro das empresas que estão usando o Android. Depois da HTC e a Motorola, a Microsoft está agora processando a Barnes & Noble (fabricante do Nook), a Foxconn e a Inventec devido ao uso do Android, alegando que o sistema infringe várias de suas patentes:

"A plataforma Android infringe diversas das patentes da Microsoft, e as empresas produzindo e vendendo dispositivos com o Android precisam respeitar nossos direitos de propriedade intelectual. Para facilitar isso, nós estabelecemos um programa de licenciamento de patentes para os fabricantes de dispositivos com o Android. (...) A HTC, uma das fabricantes líderes de smartphones com o Android obteve uma licença sob este programa. Nós tentamos por mais de um ano obter contratos de licenciamento com a Barnes & Noble, Foxconn e a Inventec. Suas recusas em obter licenças nos deixaram sem outra escolha senão iniciar uma ação legal para defender nossas inovações e cumprir nossas responsabilidades para com nossas consumidores, parceiros e acionistas para proteger os bilhões de dólares que investimos todos os anos para produzir grandes softwares e serviços ao mercado".

Apesar da linguagem florida usada no comunicado, as patentes de software são o que existe de mais nojento dentro do atual mercado de tecnologia. O sistema arcaico pelo qual o escritório de patentes dos EUA opera levou os fabricantes a entrarem em uma corrida do ouro, submetendo milhares de aplicações de novas patentes para os conceitos mais esdrúxulos, na esperança de que algumas delas sejam aprovadas. Sempre que um concorrente começa a incomodar (como no caso do Android), a empresa consulta seu portfólio de patentes, em busca de qualquer coisa que possa ser usada para intimidar ou extorquir o concorrente.

Se não é possível tirar os produtos do mercado, podem pelo menos cobrar uma "taxa de proteção", obrigando o concorrente a pagar um valor por cada unidade vendida e assim tirando a competitividade de seus produtos.

A HTC foi uma das primeiras a cair no esquema. Como resultado, cada vez que você compra um telefone da HTC com o Android, parte do dinheiro vai parar nas mãos da Microsoft. A "taxa de proteção" é usada então como um argumento de vendas para o Windows Phone 7, já que os vendedores podem argumentar que o Android também não é gratuito, uma vez que os fabricantes precisam pagar a taxa de proteção ou lidar com as consequências, arcando com os custos de uma longa e complicada disputa judicial.


Este texto foi escrito por Carlos Morimoto e é originário do Guia do Hardware

Cuba liberta últimos dissidentes condenados em 2003

HAVANA (Reuters) - Cuba concluiu na quarta-feira a libertação dos 75 presos políticos condenados em 2003, aliviando as críticas ao governo por violação dos direitos humanos no país, de regime comunista. Mas a Anistia Internacional pediu às autoridades maiores garantias para os opositores.

Cuba tinha acusado os 75 dissidentes de conspirar com uma potência estrangeira para desestabilizar o governo. O processo foi encerrado na quarta-feira com a libertação dos dois últimos.

"Continuarei a luta pacífica, não violenta, para contribuir para a reivindicação de uma mudança em Cuba pela via democrática e buscando que o governo admita a oposição pacificamente", declarou Félix Navarro, um dos dissidentes libertados, em uma conversa telefônica com a Reuters.

Tanto Navarro como José Daniel Ferrer, ambos condenados a 25 anos de prisão, chegaram a suas casas na quarta-feira.

"A luta agora será com mais veemência, mas também com mais maturidade", acrescentou Navarro, pouco depois de ser solto.

As libertações se deram após um inédito acordo mediado no ano passado pela Igreja Católica com o governo do presidente Raúl Castro, que ganhou impulso após crescentes críticas internacionais sobre violações de direitos humanos por causa da morte do preso político Orlando Zapata durante uma greve de fome.
Gerardo Ducos, um especialista da Anistia Internacional, instou na quarta-feira as autoridades a garantir a atuação da oposição na ilha, segundo informou a entidade em seu site (www.es.amnesty.org).

"O que queremos agora é que as autoridades cubanas não obriguem os ativistas a se exilarem como condição para deixá-los livres, que todos os ativistas pró-direitos humanos possam levar adiante seu trabalho legítimo sem medo de ameaças, intimidação, novas prisões ou julgamentos injustos", disse a entidade.
O governo da ilha sustenta que não responderá a pressões nem chantagens e que a libertação "foi uma decisão soberana."

No momento do acordo com a Igreja permaneciam na prisão 52 opositores do grupo inicial de 75 condenados em 2003 a penas entre 6 e 28 anos de detenção. O restante havia sido solto por razões de saúde.

Quarenta aceitaram a proposta do governo de viajar para a Espanha com sua família e 12 negaram-se a ir para o exílio.

A Igreja também anunciou na terça-feira a libertação em breve do dissidente Néstor Rodríguez Lobaina, cuja soltura havia sido pedida recentemente pela Anistia Internacional.

(Reportagem de Nelson Acosta e Jeff Franks)


Notícia da Reuters, publicada no UOL

Fama e beleza escondiam a grande atriz Elizabeth Taylor

Fama e beleza escondiam a grande atriz Elizabeth Taylor

RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA



Beleza e fama nunca foram um fardo para Elizabeth Taylor. Mas, em sua carreira, a combinação desses fatores talvez tenha atrapalhado o reconhecimento de Liz como a grande atriz que foi.
Estrela mirim que estreou no cinema aos nove anos e que nunca teve um treinamento formal, Taylor se definia como uma atriz intuitiva. Mas isso nunca impediu que ela se tornasse uma intérprete versátil, que se arriscava em papéis que exigiam muito mais que beleza.
Em seu currículo, há uma mulher rechaçada sexualmente pelo marido ("Gata em Teto de Zinco Quente"; 1958) e outra que enlouquece ao ver sua paixão platônica ser literalmente canibalizada ("De Repente, no Último Verão"; 1959).
Existem ainda uma "call girl" com um trauma de infância que pula de um caso para outro ("Disque Butterfield 8"; 1960) e uma intelectual alcoólatra que, em uma noite, decide descer ao fundo do poço ("Quem Tem Medo de Virginia Woolf?"; 1966).
PAPEL SOCIAL
Embora tenha engordado para este papel e de ter passado de menina inocente a mulher voluptuosa ao longo dos anos, Taylor não era uma atriz camaleônica.
Seu método era emprestar um pouco de sua atribulada história pessoal a cada um desses personagens.
O sujeito ia ao cinema ver a beleza de Taylor e acabava trombando com aqueles personagens densos dos dramas psicológicos de Tennessee Williams ou Edward Albee.
Ou seja, ela também cumpriu uma função social: ajudou a popularizar esses e outros grandes autores.
Durante 15 anos de carreira, Taylor foi a encarnação mais concreta de um conceito abstrato: a estrela de cinema. Alguém com uma beleza quase sobre-humana, que sabia atuar, que escolhia bem os filmes e que arrastava multidões aos cinemas com seu carisma.
Claro, houve vários filmes ruins no caminho, sendo "Cleópatra" (1963) o mais problemático deles. E o fato é que, a partir de "Virginia Woolf", os momentos de brilho se tornaram mais raros.
Mas basta voltar para seus grandes filmes das décadas de 50 ou 60, os anos de ouro de sua carreira, para lembrar como a combinação de beleza e talento pode chegar à potência máxima no cinema.


Texto da Folha.com . A foto tem créditos para a AP (Associated Press, eu presumo), e é parte do filme "Disque Butterfield 8", de 1960. 

Corrida...



Do Laerte, na Folha de São Paulo, 21/03/2011.

Paranoia e arte

Paranoia e arte

RIO DE JANEIRO - A paranoia é contagiosa. Em suas idas e vindas pela cidade, no fim de semana, os helicópteros do presidente Obama passaram tantas vezes por cima do meu terraço, no Leblon, com ou sem ele dentro, que, em certo momento, achei que estava sendo investigado pelo serviço secreto americano. O aparato de segurança de um presidente dos EUA não pode correr riscos.
Apesar de os aviões, helicópteros e limusines que transportaram Obama pelo Rio serem resistentes a bombas, mísseis, ataques bioquímicos e até a explosões atômicas, não ficou um telhado, janela, marquise, laje ou bueiro sem revistar em cada percurso presidencial. Imagine se, de repente, um morador de alguma cobertura na orla carioca resolvesse bradar palavrões e dar bananas para a comitiva aérea quando ela passasse sobre sua cabeça -como eles iriam se explicar?
Um quiproquó na preparação da segurança de Obama envolveu os atiradores de elite postados nos telhados para prevenir possíveis atentados. O FBI exigia que fossem americanos. Mas as autoridades brasileiras não podiam admitir que atiradores americanos fuzilassem brasileiros em território idem -esse privilégio deveria caber a atiradores brasileiros. O FBI, que não gosta de ser contrariado, cedeu.
Já quanto aos cães farejadores, eles não abriram mão: tinham de ser cães americanos. Da mesma forma, os tamborins, cuícas e reco-recos da Unidos da Tijuca foram inspecionados um a um antes da visita da primeira-dama Michelle Obama à Cidade do Samba. E uma maçã foi confiscada da bolsa de uma repórter -sabe-se lá o que conteria?
Não quer dizer que eles não confiassem em nós. É que não confiam nem em si próprios -quando Obama viaja pelos EUA, sua segurança é tão doentia quanto. E não é verdade que a tradição de eliminar governantes tenha começado com eles. Apenas fizeram dela uma arte.



quarta-feira, 23 de março de 2011

Setenta e sete pessoas diferentes



Liniers, na Folha de São Paulo, de 18/03/2011

Espiões Sociais

Espiões sociais

Já o "Guardian" destacou que o comando militar dos EUA para o Oriente Médio contratou uma empresa da Califórnia e "está desenvolvendo software para manipular os sites sociais Facebook e Twitter", através de identidades falsas, "sock puppets".


Israel na Encruzilhada

Israel na encruzilhada

No mesmo momento em que o mundo árabe se une em um amplo movimento para a democracia, em Israel as instituições democráticas estão em crise. Enquanto os árabes cobram responsabilidade de seus líderes, os líderes de Israel estão, frequentemente, enfrentando investigações e acusações de corrupção. Os manifestantes invadiram as praças das grandes cidades árabes, mas a Praça Rabin, em Tel Aviv, permanece silenciosa. Onde estão os que exigem mudanças que tragam a paz e a prosperidade para todos os israelenses? O artigo é de Reginaldo Nasser.

Tal como seus antecessores, Binyamin Netanyahu sempre ponderou que Israel não poderia estabelecer acordos diplomáticos confiáveis com os Estados Árabes a não ser que estes passassem por um efetivo processo de democratização. No entanto, desde o primeiro momento em que a revolução democrática no mundo árabe emitiu seus primeiros sinais na Praça Tahrir, no Cairo, o mesmo Netanyahu usou todos os esforços diplomáticos para manter Mubarak no poder, alegando que sua queda ocasionaria conseqüências desastrosas para toda a região. A democracia que os líderes israelenses sempre apregoaram aos seus vizinhos é agora vista como uma séria ameaça. O silêncio dos lideres Palestinos não foi menos revelador. A Autoridade Palestina, do presidente Mahmoud Abbas, perdeu o seu principal apoiador, Mubarak, em sua luta política contra o Hamas.

Apesar das nações com os quais Israel deveria fazer a paz (Líbano, Síria e Palestina) não estarem sendo atingidas pelas revoluções que hoje varrem a região, a situação agora é diferente, pois o tratado de paz com o Egito é crucial para seus cálculos de segurança. Provavelmente os novos governos formados no Egito e em outros países, vão refletir o descontentamento interno e, mais cedo ou mais tarde, promoverão ajustes nas questões de política externa. Acostumados a olhar apenas para os problemas de Israel em suas relações exteriores (Palestinos, Irã, Hezbolah ou Síria), a opinião pública internacional deverá observar com atenção, a partir de agora, as movimentações que poderão acontecer na sociedade civil israelense e que definirão, em grande medida, a orientação que o Estado deverá adotar nos próximos anos.

Alon Ben-Meir alerta para o fato de que, no mesmo momento em que o mundo árabe se une em um amplo movimento para a democracia, em Israel as instituições democráticas estão em crise. Enquanto os árabes cobram responsabilidade de seus líderes, os líderes de Israel estão, frequentemente, enfrentando investigações e acusações de corrupção. Os manifestantes invadiram as praças das grandes cidades árabes, mas a Praça Rabin, em Tel Aviv, permanece silenciosa. Onde estão os que exigem mudanças que tragam a paz e a prosperidade para todos os israelenses? pergunta Ben-Meir (Israel, Where Are You? Jerusalem Post, 25/02/11. ver também do mesmo autor And if Not Now, When? , The Huffington Post.com, 7/03/2011)

O fato é que a tão alardeada democracia israelense vaza água por todos os lados. O poderoso movimento dos colonos está em franca expansão, ocupando terras palestinas e construindo cidades. Segundo a organização israelense de direitos humanos B’tselem, são 500.000 colonos (cerca de 130.000 são militantes armados) que controlam 42% do território da Cisjordânia.

A nova imigração russa tem sido fator fundamental nas eleições. Em 2009, a grande maioria dos russos que imigraram para Israel, depois de 1989, votaram no partido da ultra-direita, Yisrael Beitenu (Israel é o Nosso Lar) liderado pelo atual ministro de relações Exteriores, Lieberman, que sempre faz questão de dizer que nunca existirá um Estado Palestino. Os árabes-israelenses são uma comunidade marginalizada nas estruturas políticas, econômicas e educacionais de Israel. Formam 20% da população, mas contribuem com apenas 8% do PIB e 60% de seus membros vivem abaixo da linha da pobreza.

Oficiais israelenses e unidades de combate estão ficando cada vez mais ideológicos e religiosos. Em 1990, 2,5% dos oficiais de infantaria eram religiosos. Esse número saltou, em 2007, para 31,0%. Pesquisa conduzida pelo instituto israelense Maagar Mochot indicou que quase 50% dos estudantes do ensino médio de Israel não acreditam que os árabes devam ter os mesmos direitos que os judeus do Estado de Israel.

No que se referem à economia israelense os dados não são tão animadores, apesar do crescimento de 5,4% em 2010. De acordo com o mais recente relatório do Instituto Nacional do Seguro Social, 23% da população vivem abaixo da linha da pobreza. Em 1988, a classe média representava 33% da população de Israel. Em 2009 caiu para 26,6% e Israel já é considerado um dos paises mais desiguais do mundo.

Em contundente artigo escrito no Haaretz (When did it become illegal to be a Leftist in Israel? 06/01/2011) Gideon Levy denuncia que “não é mais legítimo ser de esquerda em Israel”. O Knesset ( parlamento israelense) resolveu criar uma comissão de inquérito sobre as atividades dos grupos de esquerda sob a acusação de “ações de deslegitimação” contra o Estado de Israel". Fazer campanha pelos direitos humanos, se opor à ocupação ou investigar crimes de guerra tornou-se ilegítimo.

Mas, é justamente em momentos de instabilidade e incertezas como esse que o governo de Israel precisará do apoio da comunidade internacional e de seus cidadãos. Entretanto, Netanyahu prefere virar as costas para essa nova ordem regional em formação. E se a turbulência chegar aos territórios palestinos, qual será a resposta de Israel? Mesmo com todas as limitações e obstáculos que apontamos acima, Israel será obrigado a passar por mudanças profundas sob pena de ficar ainda mais isolado devido às campanhas internacionais. Os atuais governantes não terão mais a desenvoltura diplomática anterior quando era possível fazer acordos diplomáticos com os ditadores árabes corruptos.

Gideon Levy advertiu apropriadamente que se os lideres políticos israelenses não mudarem sua forma de agir levando em consideração a complexidade de sua sociedade “eles vão acordar um dia, seja em 10 ou 20 anos, como os líderes da Líbia, Egito e Tunísia, no meio de um pesadelo”. Resta acreditar e torcer para que a rua judaica dê seu recado no devido momento.

(*) Professor de Relações Internacionais da PUC (SP) e Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (Unesp, Unicamp e PUC-SP)

Texto publicado na Agência Carta Maior

The fog of war at 1600 Pennsylvania Avenue

The White House clearly has a problem on its hands. The launch of the military intervention with Libya has been messy at best. The fog of war is supposed to be restricted to the battlefield, but for the moment it seems to have settled in over the White House. Here are just a few of the contradictions and confusions swirling about at the moment:
National Security Advisor Tom Donilon was on the record as saying the U.S. had no strategic interests in Libya. Now, he must coordinate an American involvement that would be irresponsible unless indeed such interests existed.
The President and his team made it clear through their early remarks that America would not be in lead in this mission. But the Pentagon over the weekend let it be known that Americans were indeed in command but plans were being discussed for a hand-over at some unspecified point in the future.
The involvement of the Arab League was allegedly a critical catalyst for U.S. support, but military support has been slow to materialize, minimal when it has, and political opposition to key components of the mission -- like bombing to neutralize threats on the ground -- has emerged.
The involvement, according to the President and his team would be short, limited to protecting the Libyan people from Qaddafi. While the quick dispatch of Qaddafi would be the best protection for the Libyan people, other possible paths are just as likely at this point: a short involvement that leaves Qaddafi in place and Libya divided, which would be a very unsatisfactory outcome strategically and politically, or a long one that ends up in Qaddafi going to ground, resisting the rebels thanks to his considerable resources, and ultimately requiring a much more extensive international involvement than is currently contemplated.  In short, the involvement is unlikely to be as neat nor its outcome as clear-cut in its benefits as was advertised.
The principle underlying the involvement was the protection of the Libyan people from abuse at the hands of their government. Syrian troops fired into crowds of their people this weekend: will the same principle soon apply there? In Yemen? In Bahrain? In Iran? In the Palestinian territories? It is impossible to imagine that it will apply in any of these places thus undercutting the idea that any principle was involved at all.
The President has argued he has consulted with Congress on his actions. The disagreement with this idea seems to begin on Capitol Hill where in one of the few bipartisan displays in recent months, both Democrats and Republicans have complained that what consultation that did take place was perfunctory and inadequate.
The President's men are very agitated that the New York Times narrative that they were led to war by Hillary Clinton, Susan Rice, Samantha Power, Gayle Smith and are now arguing the President was the leader of the move to act. While the final decision clearly rested with the President, the Amazons In-Charge narrative is going to be hard to dial back because these strong, capable women did actually drive the decision process against the opposition of Gates, Donilon, Brennan and others. Worse, the delay between the initial instance in which Secretary Clinton advocated the idea and the time it was ultimately implemented have created many complications that make the involvement much more difficult...and those delays are traceable to uncertainty on the part of the President and his close White House advisors.
The move to multilateralism was belied by a trip to Brazil in which the President effectively rebuffed Brazilian desires to win his support for their candidacy for a permanent seat on the U.N. Security Council -- support he has already given to India.  All the Brazilians got was a non-committal "we'll look into it" and were left to digest why India was treated differently. The U.S. had wanted a more compliant Brazil on issues like Iran's nuclear program, but the message to the Brazilians is that the Indians were rewarded strategically for undertaking a nuclear weapons program while the Brazilians who avoided this step were penalized for having a different opinion on nuclear issues.
Both India and Brazil abstained on the UN vote on Libya making the distinction between the two even more hard to defend. This issue by the way offset within Brazil's government whatever perceived "success" the Obama trip has had via photo ops for the President in Rio favelas. Combine this with the forced resignation of the US Ambassador to Mexico this weekend and you have a pretty lousy week for U.S. Latin relations coinciding with a presidential trip to the region that was optically very difficult given the entire Libya issue.                                                                 
The White House needs to be decisive and move quickly to undo the problems of the past few days. The President began the process of trying to address these issues during his press conference in Chile, but the real heavy lifting will begin when he arrives again in Washington. At that point, both he and the American public will have a clearer picture of the situation on the ground in Libya.

Texto de David Rothkopf, na Foreign Policy



O Google Tradutor oferece uma tradução muito razoável para a língua portuguesa. É só seguir o linque.

Não colei a tradução aqui também porque o Google Tradutor traz junto as sentenças originais, misturando as frases. O primeiro parágrafo, por exemplo, ficou assim:

"A Casa Branca tem claramente um problema em suas mãos. The launch of the military intervention with Libya has been messy at best. O lançamento da intervenção militar com a Líbia tem sido confuso na melhor das hipóteses. The fog of war is supposed to be restricted to the battlefield, but for the moment it seems to have settled in over the White House. A névoa da guerra deveria ser restrita ao campo de batalha, mas no momento parece ter-se estabelecido em mais de a Casa Branca. Here are just a few of the contradictions and confusions swirling about at the moment: Aqui são apenas algumas das contradições e confusões sobre a roda no momento:"



Confuso não? Por isso que eu digo, siga o linque.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Um convite à ação - no dia internacional de combate ao racismo

Um convite à ação

LUIZA BAIRROS

O dia 21 de março evoca o massacre ocorrido em Sharpeville, que vitimou dezenas de manifestantes que protestavam contra a lei do passe, limitadora da livre circulação da população negra na África do Sul, no ano de 1960.
O episódio mobilizou a opinião pública mundial e, em 1966, em Brasília, os participantes de seminário promovido pela Organização das Nações Unidas escolheram o dia para ampliar a solidariedade internacional contra o apartheid.
Desde então, a data foi incorporada ao calendário do movimento negro do nosso país, que instava o Brasil a romper relações diplomáticas com o governo sul-africano.
Estes esforços de solidariedade culminaram no repúdio ao racismo nas relações internacionais como um dos princípios fundamentais da nossa Constituição Federal de 1988 (Artigo 4º, inciso VII).
Portanto, a criação da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir/PR), em 21 de março de 2003, inspirou-se em embates históricos que sempre estimularam a luta por direitos de cidadania dos negros brasileiros.
Neste ano de 2011, em que se comemora oito anos de criação da Seppir e dez da 3ª Conferência Mundial contra o Racismo (Durban), outra resolução da assembleia da ONU pode induzir grandes avanços na superação do racismo e das desigualdades raciais.
Trata-se do Ano Internacional dos Afrodescendentes, proclamado com o objetivo de fazer de 2011 um marco no desenvolvimento de ações efetivas, destinadas a assegurar que as populações de ascendência africana "possam gozar plenamente de direitos econômicos, culturais, sociais, civis e políticos".
Tal decisão, apoiada pelo governo brasileiro deve, de fato, ser acolhida por amplos setores da sociedade, assim potencializando as prioridades definidas pela presidente Dilma Rousseff: ao lado da meta de erradicação da pobreza extrema, que penaliza mais a população negra, a melhoria da qualidade da educação, da saúde e da segurança pública, fundamentais na garantia dos direitos de cidadania.
Neste ano especial, a Seppir lança uma campanha intitulada "Igualdade racial é pra valer", convocando empresas públicas e privadas, organizações não-governamentais, associações patronais e de trabalhadores, entre outros, a assumir a responsabilidade de fazer da inclusão uma prática permanente.
Por mínima que seja a iniciativa que cada um consiga materializar, em diferentes esferas da vida social, ao final do ano vamos celebrar a verdade de que todos podem contribuir para a superação dos indicadores sociais e econômicos em que se expressa a exclusão de mulheres e homens negros.
Para que todos, sem restrições, sejam motivados a participar ativamente desta campanha, é crucial acreditar que a promoção da igualdade racial é condição, e não impedimento, para que o Brasil aprofunde a dinâmica de desenvolvimento dos últimos anos.
Aderir ao Ano Internacional dos Afrodescendentes com ações concretas implica vencer a inércia, assumir coletivamente responsabilidades, encontrando saídas para as desvantagens sociais resultantes de processos históricos, contribuindo para a construção de um país sem pobreza e desigualdades.
A Seppir, segundo sua missão institucional e como órgão essencial da Presidência da República, coloca-se à disposição dos que se propõem a aderir a esta campanha, dando suporte técnico, apontando fontes de recursos, formulando ideias de fácil execução, que poderão fazer valer a igualdade racial para além de um direito formal.

LUIZA BAIRROS é ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial