Morre aos 80 o escritor e educador Rubem Alves
Autor de mais de 120 livros, defendia que escola se tornasse mais prazerosa
Intelectual havia sido internado com infecção respiratória no dia 10 deste mês; presidente lamentou a morte
Se um dia a escola deixar de ser chata, terá se tornado realidade um dos principais objetivos da vida do escritor e educador Rubem Alves, 80, que morreu na manhã de sábado (19), em Campinas (a 93 km de São Paulo) por falência múltipla de órgãos.
Alves havia sido internado no Centro Médico de Campinas no dia 10 deste mês, com insuficiência respiratória decorrente de uma pneumonia.
Desde a década de 80, pelo menos, ele pedia por meio de livros, colunas e entrevistas que os colégios deixassem de massacrar os estudantes com conteúdo do vestibular e que mostrassem o que os jovens verão na vida.
Como exemplo, sugeria uma aula que começasse com uma casca de caramujo vazia, que "ninguém presta atenção", mas "é um assombro de engenharia". A função do educador, disse à "Revista Nova Escola" em 2002, é fazer o jovem notar a complexidade da casca e entendê-la.
"O que ele deixa de melhor é essa visão da educação como fonte necessariamente de prazer e não de dor", afirma o jornalista Gilberto Dimenstein, que escreveu "Fomos Maus Alunos" com Alves.
Em sua página oficial no Facebook, a presidente Dilma Rousseff lamentou a perda de "um dos intelectuais mais respeitados do Brasil".
Nascido em Boa Esperança, sul de Minas Gerais, em 15 de setembro de 1933, formou-se teólogo no Seminário Presbiteriano de Campinas e doutor em Princeton (EUA), além de psicanalista pela Sociedade Paulista de Psicanálise.
Publicou mais de 120 títulos, sobre filosofia, educação, literatura infantil e teologia. Um deles, "A Theology of Human Hope", de 1969, é considerado o lançamento de uma linha de pensamento que depois seria definida como Teoria da Libertação --que defende uma Igreja próxima dos movimentos sociais.
Academia
Alves foi professor na Universidade de Birmingham (Inglaterra) e na Unicamp, onde ocupou cargos de direção e se aposentou, nos anos 90. Continuou em Campinas, onde fundou instituto com seu nome, dedicado à educação.
Para Carlos Vogt, linguista e ex-reitor da Unicamp (1990-1994), a morte de Alves "é uma perda para a literatura e também para universidade."
Alves achava que o vestibular é um dos grandes problemas da educação, pois as escolas concentram-se em conteúdos do exame. Ele queria trocá-lo por um sorteio.
Foi colunista da Folha de 1982 a 1985, no caderno "Educação e Ciência"; de 2002 a 2005, no "Sinapse"; e entre 2005 e 2011, em "Cotidiano".
Num de seus últimos textos na Folha, disse que não queria uma morte repentina, pois desejava conversar com as pessoas de quem gostava.
Velado na Câmara de Campinas, seu corpo deve ser cremado neste domingo (20), no Crematório Primavera, em Guarulhos. Segundo Carlos Rodrigues Brandão, 74, antropólogo e amigo de Alves, as cinzas serão colocadas no pé de um ipê amarelo, como ele teria pedido. (FÁBIO TAKAHASHI, HELOISA BRENHA, YURI GONZAGA E SABINE RIGHETTI)
Reprodução da Folha de São Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário