Coreias mantêm impasse
Por EDWARD WONG
PANMUNJOM, Coreia do Sul - O tenente-comandante [capitão de corveta] Daniel McShane, recorrendo a um intérprete, apresentou uma solicitação: um coronel norte-americano desejava se encontrar com sua contraparte norte-coreana. Ele estava falando com um megafone, e um soldado norte-coreano, diante dele, gravava em vídeo a solicitação.
Há mais de um ano, essa vem sendo a maneira pela qual McShane, oficial da marinha norte-americana que serve no Comando das Nações Unidas em Panmunjon, transmite mensagens aos norte-coreanos. Antes, os oficiais dos dois lados se comunicavam por uma linha de telefonia fixa.
Mas, quando a ONU impôs novas sanções econômicas, em março de 2013, depois do terceiro teste nuclear norte-coreano, os norte-coreanos pararam de atender as ligações, cuja função era ajudar a administrar a Zona Desmilitarizada (DMZ) que separa os dois países. O pessoal do Comando da ONU insiste em ligar para ver se os norte-coreanos abandonaram o boicote. "Tentamos quatro vezes por dia", diz o tenente-comandante McShane. "O telefone toca, mas ninguém atende".
E assim segue a vida em Panmunjon, a cerca de 50 quilômetros ao norte de Seul e localizada na linha de frente do que tecnicamente continua a ser uma guerra entre as duas Coreias. O complicado sistema de comunicações -reflexo do relacionamento gélido entre o norte e o sul- aumenta o estresse em uma zona de fronteira que é uma estranha mistura de alta tensão e de preocupações mais prosaicas.
Com a maior parte das Forças Armadas das duas Coreias alinhada ao longo da fronteira, ninguém se dispõe a baixar completamente a guarda. "É um paradoxo. Há tensão tanto real quanto forçada, dos dois lados", disse John Delury, historiador da Universidade Yonsei, em Seul.
A Zona Desmilitarizada, que foi estabelecida pelo armistício que encerrou os combates na península em 1953, é uma área de barreira, pesadamente minada, entre o norte e o sul, e se estende por 240 quilômetros de costa a costa, com quatro quilômetros de largura. Panmunjon fica no extremo oeste da linha.
Esse trecho da fronteira é protegido pelo Batalhão de Segurança do Comando das Nações Unidas para a Área Conjunta de Segurança, força composta em 90% por sul-coreanos e em 10% por norte-americanos. O coração da Área Conjunta de Segurança é um grupo de três salões de conferência instalados em edificações separadas. A fronteira corre pelo meio desses salões. No edifício central, ela corre pelo meio de uma mesa de conferência. Dois soldados sul-coreanos ficam de guarda na sala durante o dia. A guarda regular norte-coreana fica do lado de fora. Houve uma ocasião em que um soldado sul-coreano na sala teve de lutar contra norte-coreanos que tentavam arrastá-lo para o lado norte da linha.
Nas imediações fica a Ponte Sem Volta. Em 1976, dois soldados norte-americanos tentaram cortar uma árvore próxima à ponte para melhorar a visibilidade. Vinte e oito norte-coreanos correram de seu posto de vigilância e os mataram, usando o machado que os norte-americanos portavam. O ataque se tornou lenda e ainda é relatado em grande detalhe. Delury diz que os oficiais têm seus motivos para reforçar a sensação de perigo. "No geral, os comandantes precisam manter o moral e a prontidão", diz.
"Precisam de um perigo claro e imediato".
Reprodução do The New York Times, na Folha de São Paulo.
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