quarta-feira, 16 de julho de 2014

Em Gaza, "para matar um membro do Hamas, Israel elimina uma família inteira"

São 21h30 do sábado (12), no bairro de Al-Sheja'iya, leste da cidade de Gaza. Os homens saem da mesquita, em pequenos grupos, após a prece da noite. Entre eles, o comandante da polícia do Hamas, Taysir al-Batsh, se dirige lentamente para a casa de seu primo. De repente, com um estrondo retumbante, mísseis partindo de aviões F-16 caem pulverizando a casa do clã Al-Batsh. Do meio de uma nuvem cinza de partículas de concreto e pedaços de carne humana, emerge o chefe da polícia, que cambaleia, com o rosto queimado, e depois desaba.

Diante desse desastre, Ahmad, seu sobrinho, mal consegue acreditar: "Não foi dada nenhuma mensagem de alerta para evacuação e, de repente, tudo desmoronou". Três casas foram riscadas do mapa, três outras mal param em pé. O saldo é assustador: pelo menos 18 mortos – todos da família Al-Batsh – e mais de 50 feridos. Os restos de várias vítimas não foram encontrados. Foi o bombardeio israelense com o maior número de vítimas desde o início da operação Margem Protetora. O alvo declarado da aviação israelense, Taysir al-Batsh, sobreviveu ao ataque – atualmente ele está internado em estado grave no hospital Al-Shefa. Mas toda uma parte de seu clã foi aniquilada, em sua maioria mulheres e crianças.
Majed al-Batsh, primo do chefe de polícia, se encontrava dentro da casa alvejada, junto com sua mulher e cinco filhos, de 13 a 28 anos, bem como sua netinha de 2 anos. "A última vez que os vi eles estavam rezando no térreo", lembra Na'ama, a avó, em seu leito de hospital. Sua casa, vizinha à de seu genro, Majed, foi cindida pelo impacto.

80% de vítimas civis entre os palestinos

Ao seu lado, Om-Hamza, a irmã de Majed, sufoca sob seu hijab preto: "As crianças não tinham nada a ver com a resistência. Duas delas tinham acabado de prestar o Tawjihi [exame final]". Entre as 18 vítimas, houve pelo menos quatro mulheres e seis crianças.

Para os palestinos, a escolha de Israel de recorrer a bombardeios a casas particulares – independentemente de qual seja o alvo militar visado – parece uma punição coletiva. "O massacre da família Al-Batsh prova que Israel está atacando civis. Para matar um membro do Hamas ou do Jihad Islâmico, a aviação elimina uma família inteira", acusa Mkhaimar Abusada, professor de ciências políticas em Gaza.

O recurso a esse tipo de operação de alvo específico, que mata principalmente civis, aumentou muito em relação ao episódio anterior de confrontos entre Israel e o Hamas, em novembro de 2012. Este havia resultado em 163 mortos palestinos, sendo 71 civis, ou seja, 43% das vítimas. Em comparação, no domingo (13) a ONU contou 168 mortos, sendo 133 civis, ou 80% das vítimas.

Em Khan Younès, no dia 8 de julho – primeiro dia do conflito - , a aviação israelense já havia reduzido a pó a casa do clã Al-Kaware, fazendo oito mortos, entre eles uma criança de 8 anos. O míssil havia sido lançado contra o imóvel quando a família retornava para sua casa, depois de ter sido obrigada a sair de lá uma primeira vez, após uma mensagem telefônica de Israel. Até o momento, foi o único "erro" reconhecido pelo exército israelense.

Texto de Hélène Proudhon para o Le Monde, reproduzido no UOL

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