Em Israel, cresce o apoio a ofensiva militar
HARRIET SHERWOOD
ORLANDO CROWCROFT
DO "GUARDIAN"
ORLANDO CROWCROFT
DO "GUARDIAN"
Centenas de pessoas compareceram ao funeral de Moshe Malko, 20, no cemitério militar do Monte Herzl, em Jerusalém, parte da série de sepultamentos dos 13 soldados israelenses mortos em Gaza no domingo.
Seu caixão, envolto na bandeira israelense, foi transportado até o cemitério por um jipe militar, ao som dos lamentos e choro da comunidade judaica etíope, da qual Malko era membro. O caixão foi acompanhado ao local do sepultamento por uma falange de jovens soldados uniformizados, muitos deles chorando. Os líderes da comunidade, vestidos em mantos e turbantes brancos, assistiam da primeira fila.
Tomer Siyonov, 22, amigo do soldado morto, concluiu seu serviço militar dois meses atrás e tragava o cigarro com força, ouvindo os elogios fúnebres. "O Hamas matou meu amigo. Precisamos matá-los - não só os militantes do Hamas mas o povo de Gaza", ele disse.
"O que mais deveríamos fazer? Perder mais amigos? Não temos escolha. Se não combatermos até o fim, eles nos matarão", acrescentou.
Uma das três jovens que choraram o tempo todo durante o funeral foi colega de escola de Malko. Perguntada sobre o que deveria acontecer agora em Gaza, ela manteve a reserva. "É complicado", foi tudo que ela respondeu, antes de se voltar às amigas para tentar consolá-las.
Em outros locais de Jerusalém, o apoio à ofensiva militar parecia estar se firmando, a despeito das baixas crescentes de lado a lado.
"O nosso povo está todo unido", disse Gal Tuttnauer, 25, que estava comendo um shawarma no centro da cidade. "É claro que sou contra um cessar-fogo. Precisamos continuar. O Hamas tem de ser exterminado, e isso vai demorar".
A mídia internacional, disse ele, estava sendo iludida e levada a exibir imagens de crianças mortas em Gaza sem explicar o contexto do conflito. "Por que a mídia estrangeira não está falando do que está acontecendo na Síria? Israel é visto como a ovelha negra. Ninguém se incomoda com Israel, porque o Hamas e os palestinos são os mais fracos, e todo mundo torce pelos mais fracos. Eles têm foguetes e nós temos um grande exército, e por isso somos sempre os malvados", acrescentou.
Asher Dobol, 57, cujo filho está em combate na Faixa de Gaza, diz que "é claro que me preocupo com ele, mas - desta vez - todos acham que o governo não deve parar até destruir todos os túneis. [Invadir por terra] foi certo. Devemos destruir o Hamas e tomar Gaza".
Em contraste com conflitos anteriores, ele acrescentou, "desta vez o mundo está apoiando Israel. O mundo compreende que não podemos viver sob ataques de foguetes".
Os dois homens disseram lamentar as baixas civis palestinas, mas culpam o Hamas, e não o exército israelense, por elas. "Muita gente foi morta em Shujai'iya [um bairro residencial de Gaza] porque o Hamas usa as pessoas como escudos humanos", disse Tuttnauer, acrescentando que "os palestinos não ligam para a vida humana, enquanto nós apreciamos a vida. Queremos viver, e eles querem morrer".
O apoio à operação militar é forte mas não universal entre os israelenses. Manifestações e comícios pela paz atraíram pequeno número de participantes, mas uma delas, no sábado em Tel Aviv, reuniu cerca de mil pessoas. Como no caso de protestos anteriores pela paz, ativistas de direita atacaram os manifestantes, jogando ovos e garrafas plásticas.
Em Haifa, uma cidade onde vivem diferentes etnias, no mesmo dia, os manifestantes pela paz foram atacados por direitistas que bradavam "morte aos árabes". O vice-prefeito da cidade, árabe, e seu filho foram espancados.
Depois do banho de sangue em Shujai'iya, no domingo, os israelenses árabes convocaram um dia de luto e uma greve geral, que em geral teve forte adesão nas cidades árabes do norte do país. Avigdor Lieberman, o ministro do Exterior linha dura israelense, apelou aos judeus de Israel que boicotassem empresas árabes, em resposta.
Os defensores da paz, que no passado tinham espaço no discurso político israelense, vêm enfrentando dificuldades nos últimos anos, com a virada para a direita do centro de gravidade político, e o fracasso de sucessivas tentativas de intermediação de um acordo de paz entre israelenses e palestinos.
Os esforços da direita para limitar a capacidade das organizações e ativistas pró-paz para operar de forma efetiva também solaparam a confiança e o apoio da esquerda israelense.
Haggai Matar, 30, ativista e jornalista político israelense, diz que as ações e declarações de muitos políticos israelenses alimentam a extrema direita.
"Vimos políticos aprovando leis contra as ONGs de direitos humanos e políticos de alta patente dizendo que as ONGs e os esquerdistas são um câncer, traidores que tentam destruir a nossa sociedade –esses não são termos usados em um conflito democrático ou político regular", ele disse, acrescentando que os jovens de Israel em muitos casos são mais direitistas que os seus pais.
"Nossos pais recordam ir a cidades palestinas para fazer compras, ou de termos mais trabalhadores palestinos em Israel. O relacionamento nunca foi de iguais, mas era uma oportunidade de contato, e isso desapareceu há 20 anos ou mais", ele disse.
Rhoel Chaguel e sua filha Ron exemplificam a mudança de atitude geracional de muitos israelenses. Rhoel, mãe de três filhos, vem de família judia marroquina, que originalmente falava árabe, e recentemente teve a oportunidade de visitar seu filho Simon no hospital, onde conheceu famílias de Gaza que estavam recebendo tratamento. Ela conversou com as mães dessas famílias e lhes levou roupas e comida. "Elas têm medo do Hamas", disse Rhoel.
Ron, 17, que está a apenas três meses do serviço nacional obrigatório, que ela planejava passar trabalhando em um hospital e não servindo nas forças armadas, discorda: "Quando estiverem curados, esses meninos voltarão a Gaza", ela diz. "Crescerão para se tornarem terroristas".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Reprodução da Folha de São Paulo.
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