sábado, 19 de julho de 2014

Contas dos estádios para a Copa de 2018 geram choque na Rússia

Moscou quer tornar a Rússia o "centro do mundo esportivo", mas a conta será alta. Quatro anos antes da Copa do Mundo de 2018, os custos do próximo país anfitrião estão explodindo, com os dois estádios mais importantes custando cada um mais de US$ 1 bilhão de euros (em torno de R$ 3 bilhões).
Quando o árbitro italiano Nicola Rizzoli soprou o apito para iniciar a partida da final da Copa do Mundo no dia 13 de julho, um domingo à noite, no Rio de Janeiro, havia um homem sentado na seção VIP com apenas um interesse marginal no futebol: Vladimir Putin. O presidente russo não faz segredo do fato de não ser um grande fã. Ele prefere assistir hóquei no gelo.

Ainda assim, ele participou da final no Brasil porque seu país sediará a próxima Copa do Mundo, em 2018. Será o terceiro evento esportivo mundial sediado pela Rússia nesta década, após os campeonatos da Associação Internacional de Federações de Atletismo de 2013 e os Jogos Olímpicos de Inverno, realizados no início deste ano em Sochi. Além disso, a primeira corrida de Fórmula 1 da Rússia está agendada para outubro em Sochi. O ministro do esporte russo, Vitali Mutko, disse que quer fazer da Rússia o "centro esportivo do mundo".
Hospedar grandes eventos esportivos é uma forma de demonstrar a força do país, mas também oferece à Rússia uma oportunidade para atender a necessidade urgente de modernizar sua infraestrutura. Sete das 12 arenas previstas para utilização na Copa do Mundo devem ser construídas e duas precisam de uma restauração cuidadosa. O custo não será baixo. Depois de investir cerca de US$ 50 bilhões de euros nos Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi, o ministério de Mutko estima que a Rússia gastará US$ 30 bilhões de euros para sediar a Copa do Mundo de 2018. Isso é mais que o dobro do que o Brasil gastou para o torneio deste ano.

E isso se as coisas não ficarem ainda mais caras. Mas o mau planejamento e a corrupção começaram a elevar os custos. De fato, os pesquisadores da Universidade de Zurique concluíram que a Copa do Mundo da Rússia será a mais cara de todos os tempos, em termos de preço por assento.

A comparação é a seguinte:

Coreia do Sul/Japão 2002: custou cerca de US$ 6.000 por assento;

Alemanha 2006: US$ 3.200;

África do Sul 2010: US$ 5.000;

Brasil 2014: US$ 6.500;

Rússia 2018: US$ 11.500.

O estádio da Copa em São Petersburgo deve ser o mais caro, com um custo estimado em US$ 16.500 para cada um dos cerca de 70 mil lugares. O estádio está em construção desde 2007 e originalmente seria inaugurado no final de 2008, mas tem sido assolado por atrasos. E os custos dispararam: a estimativa inicial era de US$ 415 milhões, mas os relatórios atuais indicam que o preço subiu para até US$ 1,2 bilhão. A inauguração agora está prevista para 2016.  Para se garantir, a cidade de São Petersburgo até mesmo considerou construir um estádio de reserva com 25 mil lugares, caso seja preciso –após o torneio, este aparelho poderia ser utilizado pela segunda equipe do clube Zenit de São Petersburgo, da primeira divisão do futebol russo.
Os problemas com o estádio em São Petersburgo não são um caso isolado. Em dezembro, uma reportagem do diário "Vedomosti" surpreendeu o público com a notícia de que obras de renovação do venerável Estádio Olímpico de Moscou, originalmente estimadas em US$ 2,5 bilhões, poderiam ficar ainda mais caras. Os planos desde então foram reduzidos, e os custos agora devem ficar em torno de US$ 650 milhões.

Outro problema é que muitos estádios terão pouca utilidade após o torneio. A menor arena da Copa terá 42 mil lugares, enquanto que a média de público nos jogos da primeira divisão é de meros 12 mil espectadores. Além disso, quatro cidades que receberão jogos da Copa do Mundo nem têm times na primeira divisão. "Com as perspectivas econômicas para a Rússia piorando, a Copa do Mundo de 2018 deve se tornar um peso morto para o desenvolvimento econômico da Rússia pela má alocação de recursos escassos", escreveu Martin Müller, professor na Universidade de Zurique, em sua introdução ao relatório de junho.

Mutko, o ministro dos esportes, procurou recentemente conter o excesso de custos, afirmando que nenhum estádio deveria custar mais de 15 bilhões de rublos, ou cerca de US$ 440 milhões. Os donos das empresas de construção influentes já estão se rebelando contra sua demanda, em particular Gennady Timchenko, proprietário da empresa de engenharia e construção Stroytransgaz.

A Stoytransgaz está pedindo 35% a mais do que Mutko está oferecendo para a construção dos estádios. Ainda não está certo se o ministro do esporte conseguirá prevalecer. Timchenko entrou para o time de oligarcas russos durante a era Putin, e os membros da oposição política em Moscou não acreditam que isso seja apenas coincidência. Timchenko tem sido um bom amigo de Putin há anos.

Quando a Fifa concedeu a Copa do Mundo para a Rússia em 2010, um importante assessor do então presidente Dmitri Medvedev tweetou: "Dawaite bes otkatow", em russo. Livremente traduzido, significa: "Vamos tentar evitar a corrupção desta vez". Há muitos indícios de que não passava de uma vã esperança.

 

Texto de Benjamin Bidder, para a Der Spiegel, reproduzido no UOL. Tradutor: Deborah Weinberg

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