sábado, 31 de maio de 2014

Artistas


Adrienne Lecouvreur, tida como a maior atriz de seu tempo, morreu em 1730, aos 38 anos, em Paris. Lecouvreur passou mal enquanto interpretava Jocasta e faleceu logo após a apresentação. Boatos de envenenamento circularam na cidade-luz.
A moral não permitia o casamento na igreja e nem o enterro de comediantes no solo sagrado do cemitério. Para ser digno de receber os sacramentos, era preciso renegar a profissão.
Diante da recusa de maldizer sua vida em cena, o padre a ameaçou com o inferno. Lecouvreur preferiu a companhia de Satanás e foi enterrada numa quebrada do Sena, onde hoje se encontra o Champ de Mars.
Cinquenta e sete anos antes da diva, Molière conquistou seus sete palmos de terra santa graças à intervenção de Luís 14 junto ao arcebispo de Paris. Mas o gênio, ator e dramaturgo francês foi sepultado à noite e no espaço reservado às crianças pagãs e aos suicidas.
O teatro sempre foi marginal.
Minha mãe, que no início da carreira portou carteirinha de prostituta para poder circular à noite, deu uma aula inaugural para jovens atores da CAL (Casa das Artes de Laranjeiras), no fim dos anos 1980. Destaco um trecho.
"Foi e é mais fácil para a história, para a cultura oficial, colocar sempre o autor como espinha dorsal do fenômeno teatral. Sem a figura digna do autor --mesmo os denominados malditos-- não seria possível narrar com segurança a grandeza do teatro. Embora se diga sempre, e através dos tempos, que sem o ator, não há teatro."
"É que um fato é a literatura dramática, e outro fenômeno, ou mistério mesmo, é a mutação que se processa quando o ator vivencia em si mesmo o verbo."
"O ator, e unicamente o ator, é o começo e o fim da arte teatral. Somos provedores."
Provedores. É uma distinção importante.
Quando escrever se tornou uma possibilidade para mim, ouvi de alguém, como se fosse uma grande notícia, que eu estava deixando de fazer parte do mundo dos que só decoram.
A afirmação demonstra a falta de conhecimento do ofício do ator. Decorar não é um ato mecânico, é uma ciência. A ciência da consciência. A procura da voz. A mesma que busca o escritor.
Depois de uma sabatina que realizei no dia 9 de maio para a Folha, no Masp, recebi alguns pedidos de entrevista para que eu falasse sobre o fim da minha carreira de atriz. O resumo do encontro deixou a impressão de que eu estaria me despedindo da ribalta para me dedicar às letras.
Não estou. Assim como Lecouvreur, não tenho como negar minha origem. Faço teatro quando escrevo, faço teatro quando filmo, quando acordo, faço teatro mesmo quando não faço teatro. Ele é a base de tudo que sou desde a infância.
As dez horas de trabalho físico e intelectual em um estúdio de TV, a rotina da temporada de uma peça e os longos dias de filmagem exigem disciplina atlética de quem os enfrenta.
Escrever é menos exposto, mais solitário e mental. Mas é em cena, com outros atores e lidando com autores diversos, que fomento o que está em volta.
Volto à aula.
"Na verdade, nenhuma atuação teatral viva pode ser arquivada, gravada ou exposta, como, por exemplo, um texto de Ésquilo, uma partitura de Beethoven ou um quadro de Da Vinci."
"Nossa caminhada pelos séculos se fez através de uma trajetória subliminar, subterrânea e, até mesmo, subversiva. Um ator, que viu um ator, que trabalhou com um ator, que foi discípulo de um ator."
O teatro só existe naquele instante. É impossível replicá-lo. Essa incapacidade o coloca a reboque das artes nobres e arquiváveis. Sobretudo na ordem econômica atual, voltada para a vastidão de internautas ávidos pelo milagre da multiplicação de bytes.
Trata-se de uma missa de corpo presente, baseada na observação íntima e recíproca. Uma invenção que nasceu na pré-história, junto com o arado e a roda.
Dela, se originaram inúmeras formas de expressão ligadas à dialética, à gramática, à aritmética e à música; à matéria e ao espírito.
Talvez por ser uma debutante tardia na literatura, eu tenha tratado minha vocação de atriz com menos atenção do que deveria. Volto atrás. O teatro é um estigma, é como pertencer a uma raça, ou ser dotado de uma estranha anomalia.


Texto de Fernanda Torres, publicado na Folha de São Paulo

Alto índice de abstenção no pleito é humilhação para o 'deus' Sisi


Para quem, como é o caso do general Abdel Fattah al-Sisi, havia exigido 40 milhões de votos (ou cerca de 80% dos 54 milhões de eleitores registrados), a enorme abstenção constitui uma humilhação talvez irreparável.
Contagem extraoficial informa que compareceu às urnas a metade, pouco mais ou pouco menos, do quórum que Sisi definira como necessário para lhe conferir um mandato para reformar profundamente um país sob crise política, social e econômica.
Interpretação do escritor e analista Mahmoud Salem para o precioso site "Al Monitor": "O deus que a mídia criou sangrou e, quando um deus sangra, ninguém mais crê na sua natureza divina".
Mais: "Seu apoio supostamente espalhado pelo país está agora severamente em dúvida, assim como sua capacidade gerencial e a ilusão de que o país seguirá sua liderança".
A abstenção, além de humilhar o ditador, é uma clara demonstração de que o Egito está profundamente dividido em ao menos três grupos.
Dois deles boicotaram o pleito (os seguidores da Irmandade Muçulmana e os laicos da sociedade civil que foram a ponta de lança do movimento que levou à queda de Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011).
O terceiro são os que acreditam nos militares e, por extensão, em Sisi.
Define-os o escritor Magdi Abdelhadi: "Não há dúvida de que Sisi é um nacionalista conservador e autoritário. Mas, nisso, ele está bastante sintonizado com muitos egípcios", declarou.
Do que tampouco há dúvida é de que se trata de uma ditadura, uma espécie de Mubarak 2.0.

AUTORITARISMO

Escreve, também para "Al Monitor", Zenobia Azeem, que se especializou na observação de eleições:
"Nada no presente ambiente político do Egito favorece eleições abertas e multipartidárias, que permitam a plena e igual participação de todos os egípcios e preservem a liberdade da mídia local e internacional para informar objetivamente".
Como parece inevitável que Sisi tenha que se reconectar com as instituições islâmicas, o autoritarismo só tende a ser reforçado, como escreve, para "Foreign Affairs", Robert Springborg, professor de assuntos de segurança nacional na Escola Naval de Pós-Graduação (EUA).
"O Egito de Sisi será aquele em que a religião reforçará o autoritarismo militar e servirá para justificar a repressão dos oponentes, mais especialmente daqueles políticos que, paradoxalmente, são também embebidos pelo islã", diz.
É uma alusão ao fato de que a Irmandade Muçulmana, outra grande instituição ao lado dos militares, está banida e e seus membros são vítimas de uma feroz repressão.
Daí vem o Mubarak 2.0: o ditador afastado tolerava a Irmandade, embora proscrita.

    Quatro detidos pelo apedrejamento de grávida no Paquistão

    Quatro detidos pelo apedrejamento de grávida no Paquistão

    Viúvo da jovem de 25 anos confessou que matou primeira esposa para casar



    Quatro homens foram detidos no Paquistão pela morte de uma mulher grávida, que foi apedrejada pela própria família, um caso que provocou grande indignação da opinião pública. Farzana Parveen, de 25 anos, morreu na terça-feira ao ser apedrejada diante do tribunal de Lahore, uma cidade de 10 milhões de habitantes, por quase 30 integrantes de sua família que não aceitavam o casamento da jovem com um agricultor local.

    O assassinato brutal provocou uma onda de indignação e destacou mais uma vez o horror dos crimes de honra e fragilidade da situação das mulheres no Paquistão, um país no qual muitos casamentos são combinados pelas famílias.

    A polícia prendeu na terça-feira o pai de Farzana, mas o primeiro-ministro Nawaz Sharif exigiu às autoridades locais resultados urgentes na investigação. "A equipe especial de investigação da polícia prendeu mais quatro homens, um tio e dois primos da mulher e um motorista", afirmou um dos investigadores, Zulfiqar Hameed.

    Em uma guinada macabra no crime, o viúvo da jovem assassinada, Mohamed Iqbal, confessou que matou a primeira esposa para casar com Farzana. "Estava apaixonado por Farzana e matei minha primeira mulher por causa deste amor", declarou Mohamad Iqbal, que confessou ter cometido o crime com um estrangulamento. Iqbal afirmou que não teve que cumprir a pena de prisão. Seu filho, que denunciou o assassinato à polícia, terminou por perdoar o pai.

    Leis polêmicas em vigor no Paquistão permitem, por exemplo, que o autor de um homicídio faça a proposta de uma compensação financeira (o "preço do sangue") à família para não cumprir a pena. Uma vez em liberdade, o assassino convenceu Farzana a casar com ele. Mas a família da jovem não aceitou a união, não porque ele havia assassinado a esposa, mas porque o dote econômico era insuficiente, segundo Iqbal. Estados Unidos, Reino Unido e ONU denunciaram o assassinato da jovem grávida de três meses e pediram ao Paquistão medidas concretas e rápidas para impedir os crimes de honra.

    Reprodução do Correio do Povo

    quinta-feira, 29 de maio de 2014

    Amar e punir


    Na semana passada, a Câmara dos Deputados aprovou e mandou para o Senado a Lei da Palmada, ou Lei Menino Bernardo (em homenagem a Bernardo, assassinado recentemente, aos 11 anos, no RS). A lei fará que pais e educadores não possam recorrer a castigos corporais, mesmo moderados, ainda que sejam na intenção de educar as crianças.
    Há argumentos contra: a vontade de não deixar o Estado invadir o espaço privado da família e o receio de que educar se torne mais impossível do que já é.
    Eu sou mais a favor da lei do que contra ela, porque a violência é contagiosa: reprimir a violência de pais e educadores talvez quebre o círculo vicioso pelo qual tendemos a reproduzir a violência da qual fomos vítimas.
    Mesmo assim, cuidado: o que enlouquece as crianças não são as palmadas, mas as oscilações repentinas do humor dos adultos.
    Harold Searles, numa obra (1959) que continua sendo uma referência, descreveu "O Esforço para Tornar o Outro Louco". Ele revelou, por exemplo, as consequências enlouquecedoras de um comportamento dos pais feito de alternâncias rápidas e contínuas entre amor visceral e fúria punitiva.
    Essa alternância não é a obra de malucos. Ao contrário, ela é trivial, sobretudo quando os adultos amam muito seus rebentos (ou seus educandos) e, portanto, querem dar tudo (e mais um pouco) para eles: tempo, atenção, esperanças, bens materiais etc.
    Repetidamente, o adulto que ama demais explode, porque não aguenta o sacrifício de sua própria vida, que as crianças não lhe pedem, mas que ele se impõe como se as crianças lhe pedissem. Cada explosão, por sua vez, produz culpa e uma nova onda de extrema paixão amorosa. E a coisa recomeça.
    Essa alternância de beijos molhados e punições terrificantes mina a confiança da criança no mundo e é muito mais enlouquecedora do que, por exemplo, uma severidade constante, mesmo que ela se expresse em castigos físicos.
    De novo, uma criança não enlouquece porque seus pais praticam a palmatória; mas algumas crianças enlouquecem porque os pais passam de apertões e declarações de amor a gritos raivosos e tentativas de estrangulação.
    Conclusão: talvez a maior violência contra as crianças não seja a palmada, mas o amor excessivo dos adultos.
    Falando em "maior violência contra as crianças", durante a discussão na Câmara, no dia 21, o deputado pastor Eurico disse que a Xuxa cometeu "a maior violência contra as crianças", referindo-se ao fato de que, em 1982, num filme vagamente erótico, Xuxa (então com 18) contracenou com um garoto de 12 anos (cá entre nós: o verdadeiro problema com o filme em questão é que ele não é exatamente uma obra-prima).
    Enfim, para o pastor Eurico, a maior violência contra as crianças consiste em deixar um menino de 12 anos acariciar um seio.
    Por coincidência, no dia seguinte à patacoada do pastor Eurico, o Ministério Público de São Paulo ratificou um Termo de Ajustamento de Conduta com a Igreja Universal do Reino de Deus para impedir que crianças e adolescentes sejam expostos publicamente, durante cultos ou eventos.
    A promotora de Justiça responsável pelo TAC, Fabiola Moran Faloppa, entendeu que são humilhantes ou degradantes as situações em que, no púlpito ou na TV, o ministro religioso revela informações íntimas sobre as crianças (suas doenças, seus abusos sofridos etc.). Concordo com a promotora. E acrescento um comentário.
    Há várias razões para expor as crianças à religião. Entre elas, a ideia de que a autoridade divina possa ajudar pais e educadores —a ameaça do inferno substituindo castigos e palmadas. Pode ser. Mas é também possível que, para as crianças, a religião seja mais perigosa do que a palmada ou o vago erotismo de um filme.
    O Deus da Bíblia é muito parecido com a mãe ou o pai que enlouquecem seus filhos: ele nos ama a ponto de nos criar e nos entregar as chaves do mundo, mas pode se transformar num castigador absurdamente intransigente (palmadas eternidade adentro).
    Em outras palavras, Deus passa do amor à punição com a mesma ferocidade de uma mãe ou de um pai ciclotímicos. Será que os ganhos sociais do ensino precoce da religião compensam seus efeitos enlouquecedores?
    Seja como for, se quisermos punir menos as crianças, deveríamos começar por amá-las menos, adotando um novo provérbio: quem ama demais castiga demais. 


    Texto de Contardo Calligaris, na Folha de São Paulo

    Quem mais teria a ganhar com a regulação seria a mídia

    Um dos públicos mais desinformados do país é o dos proprietários de veículos de mídia. E sobre um tema que bate diretamente nos seus interesses e no seu caixa: regulação da mídia..
    Já escrevi em outras oportunidades sobre o extraordinário poder da Globo - a mais competente estrategista de seus próprios interesses. Através de um belo corpo de colunistas, ela conseguiu transformar um tema que interessa exclusivamente a ela - a regulação dos monopólios de mídia - em bandeira de todos os veículos de mídia que só teriam a ganhar com uma Lei dos Meios.
    ***
    Hoje em dia, existe apenas um monopólio no país – o da Globo – com um poder de influência tal que conseguiu criar esse paradoxo de queda consistente e rápida dos índices de audiência dos seus veículos; e, paralelamente, um aumento da fatia do bolo publicitário do país, em detrimento dos demais veículos da mídia tradicional.
    Não foi a imprensa regional nem meia dúzia de blogs que tirou publicidade dos demais grupos de mídia.
    À medida em que a Internet começava a dividir as verbas publicitárias, as agências passaram a concentrar no sistema Globo a maior parte das verbas destinadas aos veículos tradicionais. A TV aberta perdeu audiência mas não perdeu verbas; e parte absoluta dessas verbas foi destinada à Globo.
    ***
    Nesses anos todos, esse extraordinário poder de fogo se sustentou em um enorme conjunto de práticas anticoncorrenciais.
    Entre as agências de publicidade, consolidou o modelo do BV (Bônus de Veiculação), que seria condenado em qualquer corte de país sério que tratasse sobre práticas anticoncorrenciais.
    Esse modelo era sustentado por dois aferidores de audiência que jamais foram auditados: o IBOPE (para a televisão) e o IVC (Instituto Verificador de Circulação) para a mídia escrita.
    Apenas nos últimos tempos os concorrentes decidiram trazer um novo instituto para concorrer com o IBOPE. Coincidentemente, nos últimos meses o IBOPE passou a registrar taxas aceleradas de queda de audiência da Globo – passando a falsa impressão de que estaria fazendo uma conta de chegada.
    O grande drama da Globo é que esse modelo acelerou a crise dos seus parceiros – grupos de mídia tradicionais, todos eles metidos em um beco sem futuro. Mais cedo ou mais tarde cairá a ficha sobre quem foi o sorvedouro real das verbas publicitárias.
    ***
    Uma Lei dos Meios com compromisso sério com a desconcentração midiática obrigaria a Globo a rever suas práticas, acabaria com o conceito de rede (tal como praticado no Brasil) e abriria enorme espaço para as mídias regionais e para os demais grupos de mídia.
    Além de trazer um enorme reforço ao conceito de democracia.
    Como disse um grande político brasileiro, em seminário no dia 15 de maior de 2012: “Os meios de comunicação no Brasil não trazem o outro lado. Isso não se dá por pressão de governo, mas por uma complexidade de nossa cultura institucional. Nós temos toda a arquitetura democrática, menos a alma”. É preciso lutar pelos mecanismos de regulação que permitam a diversidade. “Não há como regular adequadamente a democracia sem regular adequadamente os meios de comunicação”.
    O autor dessas palavras não é Lula nem Franklin Martins: é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

    Sissi vence eleição no Egito e legitima poder do exército

    Sissi vence eleição no Egito e legitima poder do exército

    Militares voltam a comandar país três anos após Primavera Árabe


    O ex-comandante do exército egípcio Abdel Fatah al-Sissi venceu a eleição presidencial com 96% dos votos, segundo resultados provisórios, o que legitima o poder do exército no país 11 meses depois da destituição do único presidente civil da história do Egito, o islamista Mohamed Mursi.

    A vitória era mais que esperada em um país no qual as vozes dissidentes foram reprimidas e os opositores são julgados e detidos. Mas a votação registrou um índice de abstenção superior a 50%. Os partidários do deposto Mursi foram as primeiras vítimas da repressão implacável comandada por Sissi, que deixou mais de 1,4 mil mortos e quase 15 mil detidos. Agora os alvos das forças de segurança e da justiça são os jovens progressistas.

    Três anos depois da revolução que derrubou Hosni Mubarak, também militar, como todos os presidentes egípcios desde a queda da monarquia em 1952, os ativistas dos direitos humanos acusam as autoridades de terem instaurado, desde julho de 2013, um regime ainda mais autoritário que o de Mubarak.

    O resultado do marechal na reserva devolve o país "a uma configuração que não se esperava depois das revoluções árabes de 2011", afirma Karim Bitar, diretor de pesquisas do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas.
    "Poucas pessoas poderiam imaginar depois da queda de Mubarak que, três anos mais tarde, um novo marechal com óculos escuros seria eleito com 96% dos votos, sem ter feito campanha ou ter apresentado um programa eleitoral", completa o analista.

    O que provoca questionamentos sobre o resultado é o impressionante índice de abstenção e o fato de as autoridades terem adicionado um terceiro dia de votações para aumentar a taxa de participação. Após a medida, considerada uma porta aberta para fraudes pelos críticos de Sissi, um membro da Comissão Eleitoral anunciou ao jornal oficial Al-Ahram que compareceram às urnas "aproximadamente" 25 milhões de eleitores dos 54 milhões de registrados. De acordo com a fonte, o número ainda poderia aumentar e alcançar 50% de participação.

    O pesquisador Shaid Hamid, do Saban Center (EUA), escreveu que "não há nenhum meio para comprovar os números do governo, não existe nenhuma contagem paralela ou um número suficiente de observadores internacionais". Sissi pediu pelo menos "45 milhões" de votos, para tentar superar a taxa de 52% de participação de 2012, quando a eleição foi vencida pelo candidato da Irmandade Muçulmana, Mohamed Mursi.

    Apoio unânime da imprensa 

    A coalizão dos partidários de Mursi, que convocou um boicote das eleições, considerou uma vitória as imagens dos locais de votação vazios e chamou de "queda do golpe de Estado militar" de 3 de julho. Os meios de comunicação, que apoiam de maneira unânime Sissi e chamam a Irmandade Muçulmana de "terrorista", fizeram campanha desesperada para que os cidadãos votassem e incluíram ameaças no pedido, em um país acostumado a importantes níveis de abstenção. "Apesar de a imprensa oficial ter contribuído para mostrar Sissi como um salvador, esta ação constante não serviu para mobilizar as massas", disse Karim Bitar.

    A organização Human Rights Watch afirmou que "o clima de repressão sufoca a imparcialidade das eleições". Também recordou que "as milhares de detenções de opositores, islamitas e laicos, retiraram o significado da votação". O único adversário de Sissi, o líder esquerdista Hamdeen Sabbahi, recebeu apenas 3,8% dos votos, segundo os números não oficiais divulgados pela imprensa governamental, com base em 88,6% dos locais de votação.

    O resultado oficial deve ser divulgado dentro de alguns dias, mas na quarta-feira à noite milhares de partidários de Sissi comemoraram nas ruas, especialmente na Praça Tahrir, epicentro das revoltas. Os cartazes com fotos do marechal dominam os muros do país desde a destituição de Mursi, em 3 de julho de 2013.

    Reprodução do Correio do Povo

    quarta-feira, 28 de maio de 2014

    'Junho'


    Para marcar o primeiro aniversário das manifestações de 2013, o documentário "Junho", de João Wainer, terá lançamento simultâneo nos cinemas e na internet (via iTunes) no próximo dia 5.
    O filme, que tem produção da "TV Folha", haverá de produzir reações quase tão desencontradas quanto o próprio movimento. Vai aqui a minha opinião.
    A esta altura, acho que o mais interessante a discutir seria não como tudo começou, mas por que não foi adiante.
    Seria, talvez, o tema para outro documentário, não o que João Wainer quis fazer. Ele privilegiou as imagens vibrantes da rua. Na primeira metade do filme, a montagem é rapidíssima, procurando transmitir o clima das manifestações iniciais, com a câmera ao rés do chão.
    O desafio, que "Junho" vence com inteligência, é manter-se equilibrado em meio a tantos solavancos. Mostra muito bem a revoltante violência da PM, sem deixar de ouvir, em pleno calor das passeatas, o que dizem os soldados.
    Seguem-se imagens, gravadas bem de perto, dos saques a uma loja de eletrodomésticos --claramente propiciados, como diz um entrevistado da "Mídia Ninja", pela intencional omissão das forças de segurança.
    Mas é a partir daí --e quando alguns grupos tentam invadir a prefeitura, o Palácio dos Bandeirantes e, que sei eu, o Congresso, o STF, até o Itamaraty-- que o documentário perde o foco.
    Como tantas vezes acontece, uma minoria radicalizada termina desencadeando o naufrágio dos movimentos de transformação. Não penso apenas nos "black blocs", que fizeram às autoridades o favor de tirar a população das ruas e legitimar a violência policial.
    Ainda não foi esclarecida a suspeita de que forças ligadas ao crime organizado ou à própria polícia tenham tido sua parte nos estragos; no Rio de Janeiro, pelo menos, o quebra-quebra na Assembleia Legislativa levantou hipóteses nesse sentido.
    O governador Sérgio Cabral, cujo histórico de papelões não se limitou ao mês de junho de 2013, não aparece no filme, centrado excessivamente em São Paulo.
    No capítulo das omissões, acho importante lembrar que Dilma Rousseff não fez apenas, em seu discurso pela TV, uma explicação sobre os gastos da Copa do Mundo e uma conclamação à paz esportiva.
    Lançou, e eu achava que estava certa, a proposta de uma Assembleia Constituinte para promover uma reforma política. A ideia foi bombardeada de todos os lados, sendo invocado o argumento, a meu ver puramente formal, de que uma Assembleia Constituinte não pode ter limitadas as suas funções. Bem, que se mudasse o nome então.
    O fato é que tanto a camada governante quanto as próprias lideranças originais do movimento --focadas na questão das tarifas de transporte-- perderam a oportunidade de dar uma saída política para o que aconteceu.
    Ficou-se, como disse com bom humor o poeta Sérgio Vaz, entrevistado em "Junho", num estado de "ejaculação precoce": houve muito prazer nas preliminares, mas a transformação real não foi adiante.
    De certo modo, o documentário de João Wainer acompanhou, na sua própria estrutura, esse desencanto. Torna-se mais lento e repetitivo a partir da segunda metade.
    Não pelas razões corretas, todavia. O certo, na minha opinião, seria acompanhar o declínio do movimento, até a desmobilização quase completa. Em vez disso, "Junho" quis terminar numa espécie de alto astral.
    O foco do documentário muda para a Copa das Confederações. Vemos o momento, por certo emocionante, em que toda a torcida canta sozinha o Hino Nacional, mesmo depois de terminada a gravação da banda sinfônica, na final do campeonato.
    Cubra-se a tela, enfim, de multidões vestidas de verde e amarelo. Por mais que o comentarista Juca Kfouri assinale que o entusiasmo pelo futebol não abafa o descontentamento geral, o filme termina substituindo uma coisa pela outra.
    É ao mesmo tempo uma retrospectiva das manifestações e um "esquenta" para a Copa do Mundo, a ser distribuído para uma plateia internacional.
    Haveria tempo para falar de tudo? Para mostrar, ainda que o caso tenha ocorrido depois de junho, a morte do cinegrafista Santiago Andrade, atingido por um rojão? Para saber se algum policial foi punido pelas barbaridades cometidas?
    Talvez se pudesse economizar, diminuindo um pouco a quantidade de comentaristas e politicólogos entrevistados no filme. Mas é hora deste comentarista dar o exemplo e ir parando por aqui.


    Texto de Marcelo Coelho, na Folha de São Paulo

    Tudo como está


    O primeiro documento advogando o fim do Mercosul chegou ao Palácio da Alvorada em 1998. A proposta era tão ousada que o papel não tinha timbre nem assinatura. A união aduaneira encontra-se esgarçada, afirmava, e a relação com a Argentina, no fundo do poço. "Chegou a hora de pensarmos uma alternativa."
    FHC rejeitou a possibilidade de abandonar o bloco, mas inventou uma alternativa: alargá-lo. O presidente propôs a inclusão da Venezuela de Hugo Chávez e acelerou negociações com outros blocos, duas medidas para gerar mais --não menos-- integração. O Planalto tucano fez isso reorientando a política regional, que trocou seu foco no "Cone Sul" pela "América do Sul".
    Para fazer o projeto decolar, o governo deu crédito às empreiteiras brasileiras dispostas a expandir corredores de integração física com os vizinhos, criando acesso a regiões remotas com estradas, ferrovias, portos e sistemas de controle aéreo.
    Lula pegou a ideia e pisou no acelerador. Em tempo recorde, o Mercosul ganhou tribunal de apelações, uma secretaria-geral, um Parlamento e um mecanismo de financiamento. As regras do BNDES mudaram para permitir empréstimos para fora do país. E criou-se a Unasul.
    Logo no início, a Unasul adquiriu força inesperada. Rebateu com êxito iniciativas militares, políticas e comerciais dos EUA e virou plataforma privilegiada para denunciar o neogolpismo em países como Equador, Honduras, Venezuela e Paraguai.
    Pela primeira vez, o Brasil contou com uma estrutura institucional básica para regionalizar seu capitalismo. Houve enormes ganhos.
    Mas, de lá para cá, esse modelo de integração mostrou limitações. O Brasil não investe os recursos necessários para manter a operação ""nem financeiros, nem políticos.
    O tribunal de apelações emitiu apenas seis sentenças, o Parlamento não desenvolveu competências nem representação popular e a ideia de um tribunal de Justiça morreu na praia. As secretarias executivas de Mercosul e Unasul são esquálidas.
    Em Brasília, nenhuma agência coordena o trabalho pró-integração dos vários ministérios e autarquias, nem caça oportunidades na região para projetar instituições nacionais como a OAB e o sistema Sesi/Senai. No governo, não há diagnósticos nem estudos sérios sobre como projetar políticas sociais região afora.
    Nessas condições, os vizinhos acham difícil seguir a gente a reboque. Quando o Equador denunciou a opacidade do BNDES, por exemplo, fez-se um ajuste para acomodar a demanda pontual, sem solução geral e duradoura.
    Essa política regional de compromissos formais e institucionalização minimalista sobrevive incólume porque beneficia poderosos grupos de interesse. Ganham as "campeãs nacionais" com seu crédito subsidiado, assim como ganham os governadores de Estados fronteiriços e suas respectivas bancadas no Congresso. Quem perde é quem tem pouca capacidade de vocalizar demandas: o povo brasileiro.
    Por isso, seja quem for o próximo presidente, salvo um grande choque externo, o Brasil não reformará nem abandonará Mercosul/Unasul. Tudo ficará como está.


    Texto de Matias Spektor, na Folha de São Paulo

    terça-feira, 27 de maio de 2014

    Sudanesa condenada à morte por ser cristã dá à luz na prisão


    Sudanesa condenada à morte por ser cristã dá à luz na prisão

    Islã condenou a mulher à forca por apostasia, crime relacionado à conversão de pessoas que saem islamismo


    Uma jovem cristã condenada no Sudão a morrer enforcada por apostasia (crime de conversão para outras religiões dentro de leis islâmicas) deu à luz na prisão nesta terça-feira, afirmou um diplomata ocidental.

    "Ela deu à luz uma menina hoje", declarou o diplomata referindo-se a Meriam Yahia Ibrahim Ishag, de 27 anos, filha de um muçulmano e condenada a forca em meados de maio em virtude da lei islâmica vigente no Sudão desde 1983, que proíbe as conversões, sob pena de morte.

    "Parece que a mãe e a filha estão bem", declarou o diplomata, que pediu o anonimato. 

    Segundo o advogado da mulher, Mohaned Mustafa Elnour, ao Daily Mail, a jovem está pensando em dar o nome de Maya à filha e que seu nascimento foi uma boa notícia em meio ao caos vivido pela Ishag. 

    A condenação à morte da jovem por um tribunal de Cartum no dia 15 de maio provocou uma onda de indignação e protestos. Segundo militantes de direitos humanos, a jovem, presa há 4 meses, permanecerá detida no presídio para mulheres de Ondurman, maior cidade do Sudão. 

    "Demos três dias para abjurar de sua fé, mas você insistiu em não voltar ao Islã. Condeno-a à pena de morte na forca", declarou o juiz Abbas Mohamed al-Khalifa, dirigindo-se à mulher pelo sobrenome de seu pai, de confissão muçulmana.

    Antes do veredicto, um chefe religioso muçulmano tentou convencê-la a voltar ao Islã, mas a mulher disse ao juiz: "sou cristã e nunca cometi apostasia". Em uma conversa com seu marido durante uma visita rara à prisão, Meriam teria lhe falado "se querem me executar, então devem ir em frente, pois não vou mudar minha fé." 

    Meriam Yahia Ibrahim Ishag (seu nome cristão) também foi condenada a cem chibatadas por adultério. Segundo a Anistia Internacional, Ishag foi criada no cristianismo ortodoxo, a religião de sua mãe, já que seu pai, muçulmano, esteve ausente durante sua infância. Posteriormente, a jovem se casou com um cristão do Sudão do Sul.

    Segundo a interpretação sudanesa da sharia (lei islâmica), uma muçulmana não pode se casar com um não muçulmano.

    Se a pena for aplicada, ela será a primeira pessoa punida por apostasia em virtude do código penal de 1991, segundo o grupo de defesa da liberdade religiosa, Christian Solidarity Worldwide.


    Reprodução do Terra.

    Brasil bate recorde histórico de homicídios


    O Brasil quebrou um triste recorde: teve o maior número de pessoas mortas em um ano, segundo dados divulgados nesta terça-feira (27) no Mapa da Violência 2014, que compila dados de 2012. Ao todo, foram 56.337 mortes, o maior número desde 1980. O total supera o de vítimas no conflito da Chechênia, que durou de 1994 a 1996. 
    É o dado mais atualizado de violência pelo Brasil e tem como base o Sistema de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, que registra as ocorrências desde 1980.
    A taxa de homicídios também alcançou o patamar mais elevado, com 29 casos por 100 mil habitantes. O índice considerado "não epidêmico" pela Organização Mundial da Saúde é de 10 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes.
    "As ações conjuntas entre Estados e a União para reduzir os homicídios são pontuais. Não existe um enfrentamento nacional, que abranja todas as esferas – municipal, estadual e federal", afirma Julio Jacobo Waiselfisz, coordenador do estudo.
    Para ele, a redução na violência no país passa pela realização de reformas na estrutura da segurança pública, "inclusive com mudanças na policia, no código penal e no sistema penitenciário".
    A média nacional no número absoluto de homicídios cresceu 7% de 2011 a 2012. Roraima, Ceará e Acre foram as unidades da federação com maior aumento: 71,3%, 36,5% e 22,4%, respectivamente.
    Apesar de ter reduzido sua taxa de homicídios por 100 mil habitantes, Alagoas ainda lidera o ranking no país com 64,6 casos por 100 mil habitantes, número semelhante ao registrado durante a Guerra do Iraque, de 2004 a 2007. A média nacional é de 29 casos por 100 mil.
    Apenas cinco Estados tiveram queda nas taxas de homicídio: Espírito Santo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba e Alagoas. Santa Catarina e São Paulopossuem as menores taxas de homicídios por 100 mil habitantes: 12,8 e 15,1, respectivamente.

    Trecho do UOL Notícias

    segunda-feira, 26 de maio de 2014

    Jesus can't be boring


    Não, o título deste texto não é uma citação, apenas uma expressão que em inglês soa melhor. Se formos falar "Jesus não pode encher o saco" ou "Jesus não pode entediar", isso não capta o sentido contemporâneo de Jesus como "commodity".
    Inglês é o idioma ideal para o mundo da mercadoria, porque vendemos tudo melhor em inglês. Imagine se fôssemos fazer um comercial sobre como Jesus tem que ser legal para você, se você for um jovem ou uma jovem de 20 anos? "Jesus can't be boring" soaria muito melhor... Ou seja: Jesus tem que ser legal... E somar à sua vida... (ou "agregar valor", expressão que eu pessoalmente detesto).
    Estamos falando de mercado religioso. Sim, as religiões competem no mercado de "bens religiosos": festas, significados para vida e para o sofrimento, laços sociais e afetivos dentro das comunidades de fiéis, casamentos, educação de filhos, narrativas de fim de mundo, rituais mágicos ou não, ferramentas de comunicação espiritual ou similares como TV ou mídias sociais, enfim, tudo o que uma religião oferece em termos de "bens de consumo".
    A vida não tem sentido aparente, é curta (só parece longa quando sua vida é muito péssima), precária, escassa, frustrante; logo, uma hora dessas, ou Jesus ou Frontal vai bater na sua porta. Se você for mais chique, um Buda light serve.
    Vale lembrar que tudo o que falamos aqui sobre Jesus poderia ser falado sobre qualquer outra figura religiosa de peso. Não se trata de nenhuma forma de ironia ou sarro com o cristianismo especificamente. Como estamos numa sociedade majoritariamente cristã, nas suas diversas denominações, podemos falar em "Jesus como bem religioso" como símbolo de todo o processo de commoditização das religiões.
    Commoditização das religiões significa a transformação das religiões em bens de consumo tratados via ferramentas de marketing, num mercado de comportamentos em que elas devem competir entre si e com as opções seculares.
    Opções seculares são: ateísmo, quase ateísmo, agnosticismo ("não temos provas definitivas nem de que Deus existe nem de que não existe", afirmação que para os ateus é ateísmo que não saiu do armário), humanismo ateu como o do autor britânico A. C. Grayling em seu livro "The God Argument, The Case Against Religion and for Humanism", ou simplesmente, "bode dos deuses, e vamos viver o dia a dia para ver no que dá".
    As religiões devem vencer umas às outras como produto, e aos seculares também. É briga de cachorro grande. Nesse processo, a Igreja Católica apanha dos protestantes que já nasceram com a vocação para o business. As afro-brasileiras têm a seu favor a coisa de que são religiões de vítimas sociais --e,se você é branco e vai nelas, você é legal e sem preconceitos.
    Como dizem os especialistas em religião e mídia Stewart M. Hoover e Lynn S. Clark, na coletânea organizada por eles, "Practicing Religion in the Age of the Media", da Columbia University Press, de 2002, ou Heidi A. Campbell, no recente, de 2013, "Digital Religion: Understanding Religious Practices in New Media Worlds", da editora inglesa Routledge: as religiões combatem o risco de invisibilidade num mundo veloz e pautado por projetos do self (já digo o que é isso), aprendendo a se tornarem commodities que circulam nas mídias falando a língua de pessoas voltadas para o consumo de bens de comportamento que tornem a vida mais fácil.
    "Projetos do self", conceito discutido por Hoover e Clark, são modos de viver em que tudo deve ser ajustado a personalidades narcísicas (leia "Cultura do Narcisismo", de Christopher Lasch, clássico de 1979, sobre o que é ser um narcisista no mundo contemporâneo).
    Essa personalidade "líquida", como diz o Bauman, não tolera nada que pese como uma mala sem alça.
    Amores, viagens, trabalho (claro, se eles têm grana, se não todo esse papinho vira pó), sexo, deuses, Jesus, tudo deve nos ajudar a emagrecer, a ter uma vida saudável, a cuidar de nosso corpo, e a me ensinar que eu sou a coisa mais importante para mim mesmo.
    Sério! Quem quer um Jesus "para baixo"? Logo Jesus terá que vir de bike para a missa, e nada de cruz nas costas.


    Texto de Luiz Felipe Pondé, na Folha de São Paulo.

    Não que o texto seja o ó do borogodó, mas vale pelos diversos livros e autores citados. 

    Cai resistência à adoção de criança negra e mais velha

    Cai resistência à adoção de criança negra e mais velha
    Índice de adultos que só quer filho branco foi de 39% para 29% entre 2010 e 2014, mostra cadastro nacional
    A proporção de pessoas que aceitam maiores de três anos de idade cresceu de 29% para 42,5% no período
    NATÁLIA CANCIANDE SÃO PAULO

    Sem restrição de cor, sexo ou estado de saúde. Ao preencher o cadastro de interessados em adotar, em 2009, a única exigência do casal Flávia e Thales Schettini era a idade. Eles queriam que a criança fosse mais nova do que o filho Matheus, na época com dois anos.
    Ao longo do processo, o casal mudou de ideia e passou a aceitar uma criança com até seis anos de idade.
    Enquanto eles atualizavam o cadastro, outros casais faziam o mesmo no país.
    Dados do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) mostram que os casais selecionam cada vez menos a cor, o sexo e a idade dos filhos.
    Entre 2010 e 2014, a proporção de pretendentes que aceitava só crianças brancas caiu de 39% para 29%. Já a de indiferentes em relação à cor passou de 29% para 42,5%.
    Thales e Flávia adotaram há um ano Maria (nome fictício), negra, na época com três anos --ela passou dois à espera de uma família.
    Também aumentou o percentual dos que aceitam crianças com três anos ou mais. Em 2010, eram 41% do total de interessados; neste ano, são 51,5%.
    Para especialistas, ao menos três fatores explicam a mudança: a participação obrigatória dos candidatos a adoção em cursos oferecidos por ONGs e varas de infância e juventude, o trabalho de grupos de apoio e a maior divulgação do processo.
    "Demorou para dar resultado, mas, a cada ano, conseguimos conscientizar mais que não interessa a faixa etária [da criança]. Filho é para a vida inteira", diz Reinaldo Cintra, juiz da coordenadoria de Infância e Juventude de SP.
    A mudança de perfil dos futuros pais os aproximam das crianças que estão nos abrigos, já que a maioria delas é negra e mais velha.

    DESCOMPASSO

    Apesar disso, os requisitos de cor, idade e gênero, somados à falta de estrutura do Judiciário, ainda são apontados para explicar a existência de até seis pretendentes para cada criança apta à adoção.
    Para a Corregedoria Nacional de Justiça, o número superior de interessados é positivo. O problema está na existência de crianças "indesejadas" pelos pretendentes.
    Das crianças disponíveis para adoção, 78,5% têm mais de dez anos, 77% têm irmãos (e não podem ser privadas do convívio com eles) e 22%, alguma doença.
    No país, há 30,9 mil pretendentes na fila de adoção, para 5.456 crianças aptas --sendo 67% pretas ou pardas.
    De acordo com o juiz Cintra, sempre haverá interessados em adotar crianças menores. "O sonho de muitos é ter um recém-nascido. Não critico, mas as pessoas precisam saber que demora."


    Reprodução da Folha de São Paulo

    Dissidências gaúchas em tempos canarinhos

    Olho o mapa da política e constato: o Rio Grande do Sul não está com o Brasil. Que país é este? O Brasil? Não, o Rio Grande do Sul. Olho o quadro eleitoral e percebo: grande parte do Rio Grande do Sul não está com o Brasil. O que significa essa dissidência? O Partido Progressista, em nível nacional, ou, como diria o outro, “a nível nacional”, vai apoiar a candidata petista Dilma Rousseff. O PP gaúcho está disposto a ir à justiça para exigir que essa decisão seja fruto de uma convenção, não de um arranjo qualquer, mas não vai apoiá-la. Já tem candidato à presidência: o tucano Aécio Neves.
    O PMDB nacional também vai apoiar Dilma. É o PMDB do vice-presidente da República Michel Temer. O PMDB gaúcho vai de Eduardo Campos para a presidência da República. Trata-se de um parricídio? Temer é presidente nacional do PMDB. O leigo olha para o tabuleiro da política e pergunta: o que leva a fração regional de um partido a apostar todas as suas fichas no candidato de outro partido e não na chapa da qual faz parte o seu chefe máximo, o presidente nacional? O leigo é leigo por isso. Desconhece os meandros da política. O PMDB nacional é uma federação de partidos regionais. O que faz o PMDB se manter PMDB e não se despedaçar por causa dessa aparente esquizofrenia? Quatro hipóteses: uma mitologia da resistência à ditadura, o PMDB como eterno MDB; a flexibilidade para dobrar e não quebrar; a falta de opção melhor com tanto poder; Ninguém sabe.
    O PDT nacional vai apoiar Dilma Rousseff. E o PDT gaúcho? Não se sabe. O presidente estadual do PDT, Romildo Bolzan Júnior, gostaria de ver o PDT apresentar candidato próprio ao Planalto. Dificilmente isso acontecerá. Haveria um flerte do PDT gaúcho com o PSB de Eduardo Campos a ponto de se tornar coisa mais séria? Mas esse lugar nos pelegos já não está ocupado pelo PMDB? A carreira solo seria uma achado para os pedetistas. Acontece que o chefão nacional, Carlos Lupi, ama Dilma e não tem a menor intenção de sufocar esse amor. Como apoiar Dilma e rejeitar Tarso, que será apoiado pela “presidenta”? A lógica do primeiro turno até permite esses movimentos, embora confunda um pouco o eleitor mais quadradinho e exija algum contorcionismo verbal capaz de provocar dor na coluna.
    Certo é que metade, ou mais, do Rio Grande do Sul não está com o Brasil. Não se trata de estar com o PT de Dilma. É outra coisa: o PP não está com o PP. O PMDB não está com o PMDB. E o PDT poderá não estar com o PDT. Tudo por causa dessa pedra no caminho que é o PT. O cínico – tem muito por aí – ironiza: não vão estar juntos durante a campanha. Depois, se Dilma se reeleger, estarão todos no mesmo iate. Ocorreu-me que aquele velho projeto separatista deveria ser retomado. Um amigo me convenceu de que não seria interessante do ponto de vista comercial: teríamos de importar tomate de São Paulo. Faz sentido. Em compensação, poderíamos, no futebol, criar a nossa Libertadores.
    Olho o GPS da política e me perco: para onde vamos? Chego a pensar em problema no aplicativo. Nada disso.
    É GPS gaúcho mesmo.
    Só a Seleção de Felipão nos unificará com o Brasil.
    Entre junho e julho seremos um só país.
    Uma família.
    Se o desempenho em campo e as manifestações não atrapalharem.


    sábado, 24 de maio de 2014

    Países da UE fecham cerco a imigrantes de dentro do bloco

    Países da UE fecham cerco a imigrantes de dentro do bloco
    Suíça, que não faz parte do grupo, também aprovou medidas para diminuir fluxo de cidadãos europeus
    Imigração é um tema central nas eleições do Parlamento Europeu, cujo resultado deve ser conhecido no domingo
    LUISA BELCHIORCOLABORAÇÃO PARA A FOLHA EM MADRI

    O estudante espanhol Ignacio Navarro, 23, pesquisava vagas de trabalho em Genebra. Desistiu quando os suíços aprovaram, em referendo, restringir vistos de trabalho para europeus.
    Já o administrador Hugo Sánchez, de Valencia, voltou de Londres, após oito meses limpando quartos de hotéis, devido aos benefícios cortados para cidadãos da União Europeia. "Nunca imaginei ser visto desde a perspectiva de um imigrante ilegal", diz Sánchez.
    A preocupação com a imigração na UE já não ultrapassa os limites do bloco. Como nos casos suíço e inglês, governos e partidos europeus têm tentado limitar a entrada de cidadãos do próprio bloco, onde a diferença de renda entre países do sul e do norte cresceu com a crise.
    A imigração é um dos principais temas das eleições para o Parlamento Europeu, cujo resultado deve ser conhecido neste domingo (25). A expectativa é que partidos nacionalistas, com discurso anti-imigratório, terão desempenho expressivo em vários dos 28 países-membros.
    Antes mesmo do polêmico referendo na Suíça, no qual uma apertada maioria de 50,3% votou pela restrição de trabalho aos europeus, o governo do Reino Unido já havia anunciado, sem consulta popular, plano para limitar a 75 mil os vistos de residência concedidos a cidadãos do bloco a que pertence. O mesmo querem fazer deputados da Bavária, na Alemanha.
    Até a Espanha, o único país do bloco a abrir voluntariamente as portas a cidadãos romenos em 2008, voltou atrás e, em 2011, deixou de emitir vistos a eles.
    Desde janeiro deste ano, romenos e búlgaros passaram a ter as portas abertas dentro da União Europeia, como parte do acordo dos países para integrar o bloco.
    Ambas as nacionalidades foram o foco da proposta aprovada pelos suíços, que se estende aos demais europeus. Embora a Suíça não faça parte da UE, seu governo negociava com o bloco a livre circulação de pessoas.
    "Não somos contra nenhum país específico, é apenas o número de imigrantes que já não é tolerável na Suíça. Nosso país tem 100 mil novos trabalhadores a cada ano. O que queremos é regular e, como país independente da UE, queremos ter o direito de fazer isso", disse à Folha o deputado e vice-presidente do Partido Popular suíço, Luzi Stamm, um dos autores da proposta.
    Mas até dentro dos limites do bloco as restrições já se traduzem em cartas de expulsão a europeus. Em 2013, cerca de 2.700 cidadãos da UE, a maioria espanhóis, romenos e búlgaros, receberam do governo da Bélgica avisos de que deveriam deixar o país onde estavam vivendo, segundo o próprio governo.
    Os belgas se apoiam em uma diretiva da UE, de 2004, segundo a qual "pessoas exercendo seu direito de residência não devem, contudo, tornar-se uma carga não razoável ao sistema de assistência social do Estado membro de acolhida durante período inicial de residência".
    Após três meses, os países podem fixar condições para o direito à residência de cidadãos do bloco. Quem não estiver trabalhando há seis meses deve comprovar meios financeiros de se manter.


    Reprodução da Folha de São Paulo

    Resistir ou avançar?

    Nota-se, em meios de esquerda, certa perplexidade sobre a eleição vindoura. Há uma percepção crescente, embora difusa, de que, fracassadas as tentativas de relançar a economia, o país se encontra sob cerco do capital, tanto o globalizado quanto o brasileiro, e da direita tupiniquim, em uma conjuntura mundial cambiante.
    Diante da situação delicada, tende a haver duas reações. A primeira se inclina a pensar que a potência reunida pelas forças sitiantes coloca em risco os avanços sociais alcançados de 2003 para cá. Logo, cabe uma postura defensiva, pois estariam ameaçados o Bolsa Família, o aumento do salário mínimo, o pleno emprego, conforme mensurado pelo IBGE, e a contínua obtenção de ganhos reais nos dissídios coletivos.
    Com efeito, assusta a crescente clareza usada tanto pelos formuladores quanto por representantes públicos do conservadorismo para falar do duro ajuste supostamente necessário em 2015. A ideia de "arrumar a casa" e partir para uma fase de aumento da "competitividade" à custa do valor do trabalho prenuncia tempos bicudos.
    A segunda reação à esquerda acha que as melhorias alcançadas não são suficientes para justificar uma posição meramente defensiva. A explosão de insatisfação que percorre o país nos últimos meses seria o sinal mais visível de que a situação social está longe de ser boa, não justificando nem permitindo um entrincheiramento resistente. Seria necessário avançar.
    Mais ainda, os que se inclinam na última direção acreditam que tentar ir adiante é um imperativo da dinâmica real já em curso. Procurar apenas resistir poderia significar, na prática, retroceder, pois não se conseguiria convencer as massas mobilizadas a ficar onde estão. Vale a imagem de que, uma vez a pasta de dentes tendo saído do tubo, não há como colocá-la para dentro de novo.
    As dúvidas à esquerda lembram, por momentos, conversas que giram entre o copo meio cheio e o meio vazio. De um ângulo, houve melhoras efetivas na condição de vida de milhões de pessoas que valeria preservar. De outro, a condição da grande maioria é ainda bem distante da dignidade que se poderia com tranquilidade defender.
    Como sempre, os dois lados estão parcialmente corretos: os avanços obtidos, inegáveis em si mesmos, representam pouco em face do tamanho da pobreza, da desigualdade e do caráter selvagem do capitalismo que se desenvolve no Brasil. Por isso, os próximos meses serão ricos em balanços, avaliações e análises. Convém que sejam feitos com o realismo necessário a qualquer ação política efetiva, mas também com a percepção de que a construção de alternativas depende de algum otimismo da vontade.


    Texto de André Singer, na Folha de São Paulo

    Ideias regressivas


    Os pré-candidatos ao Planalto pelo PSDB, Aécio Neves, e pelo PSB, Eduardo Campos, defendem o fim da reeleição, mandatos de cinco anos e coincidências de todas as disputas eletivas, de vereador a presidente da República.
    Para ir direto ao ponto, essas ideias de Aécio Neves e de Eduardo Campos são regressivas, induzem a menos participação popular e desidratam a democracia.
    Hoje, brasileiros votamos a cada dois anos. Aécio e Campos querem ouvir os eleitores só a cada cinco anos: votem e fiquem quietos até a próxima eleição. Parecem desconhecer que as pessoas estão indo às ruas reclamar da baixa conexão com os políticos. Querem influir mais. Os candidatos de oposição vão na direção oposta. Sugerem aprofundar a distância entre os cidadãos e o poder.
    O argumento a favor de eleições só a cada cinco anos é frágil. Eis a síntese: "O Brasil para a cada dois anos por causa das eleições". Não é verdade. Nada para. Todos continuam a trabalhar. Nem feriado há, pois a disputa é sempre no primeiro domingo de outubro. Democracias consolidadas têm eleições anuais. Funcionam muito bem. Por aqui, aliás, a Copa do Mundo paralisa muito mais os brasileiros do que uma eleição.
    E a reeleição? O prefeito, o governador ou o presidente que deseja mais um mandato faz o diabo para ficar no cargo. Verdade? Às vezes sim, às vezes não. Mas não é esse o ponto. Mesmo sem reeleição os governantes já praticavam estripulias. Um exemplo clássico se deu em São Paulo, em 1990: Orestes Quércia estropiou o Banespa (antigo banco estatal paulista) para eleger Luiz Antônio Fleury no seu lugar.
    As propostas de Aécio e Campos sinalizam uma reforma política analógica. Eles estão longe de entender o que seria necessário para aperfeiçoar o sistema eleitoral do país.
    Por sorte, reforma política é algo muito falado e nunca executado. O Brasil não merece essas ideias.


    Texto de Fernando Rodrigues, na Folha de São Paulo

    Brasil atinge meta da ONU e reduz mortalidade infantil

    Brasil atinge meta da ONU e reduz mortalidade infantil


    Índice, que era de 53,7 mortes por mil nascidos vivos em 1990, passou para 17,7 em 2011


    O Brasil atingiu a meta assumida no compromisso "Objetivos de Desenvolvimento do 
    Milênio" de reduzir em dois terços os indicadores de mortalidade de crianças de até cinco anos. O índice, que era de 53,7 mortes por mil nascidos vivos em 1990, passou para 17,7 em 2011. Os números integram o 5º Relatório Nacional de Acompanhamento, divulgado nesta sexta-feira em Brasília pelo governo.

    A meta foi atingida antes do prazo estipulado, que era 2015. A redução de morte materna, no entanto, não teve o mesmo sucesso. O documento admite que o Brasil dificilmente vai cumprir o compromisso de chegar em 2015 com no máximo 35 óbitos maternos a cada 100 mil nascimentos. Para isso, seria necessário praticamente reduzir pela metade os indicadores de 2011. Naquele ano, o número de mortes de mulheres durante a gravidez, o parto ou até 42 dias após o nascimento do bebê era de 63,9 por 100 mil nascimentos.

    Embora ainda muito superior ao compromisso assumido, os índices de mortalidade materna no País já foram significativamente maiores. Em 1990, eram 143 por 100 mil nascimentos. O relatório argumenta ainda que o Brasil não é o único país a ter um desempenho nessa área abaixo do que se era esperado.

    Objetivos do Milênio são metas estabelecidas em 2000 pela Organização das Nações Unidas (ONU) e apoiadas por 192 países. Ao todo, são oito pontos:

    • Acabar com a fome e a miséria;
    • Universalização da educação primária;
    • Promoção da igualdade de gênero e autonomia das mulheres;
    • Reduzir a mortalidade infantil;
    • Reduzir a mortalidade materna;
    • Interromper a propagação e diminuir a incidência de HIV/aids;
    • Universalizar o tratamento para a doença e reduzir a incidência de malária, tuberculose e outras doenças;
    • Qualidade de vida e respeito ao meio ambiente, incluindo reduzir pela metade a proporção da população sem acesso permanente e sustentável à água potável e parceria mundial para o desenvolvimento.

    Mortalidade na infância

    O relatório preparado pelo governo mostra que a queda mais significativa registrada na mortalidade na infância ocorreu na faixa entre um e quatro anos de idade. Atualmente, o problema está concentrado sobretudo nos primeiros 27 dias de vida do bebê, o período neonatal. Embora o documento ressalte que o Brasil conseguiu cumprir a meta à frente de uma série de países, o texto admite que o nível de mortalidade até os cinco anos ainda é elevado. A desigualdade regional sofreu uma redução, no entanto, Norte e Nordeste ainda apresentam taxas superiores a 20 óbitos de crianças com menos de cinco anos por mil nascidos vivos. Na Região Sul, são 13 por mil nascidos vivos.

    Acesso à água

    O relatório também ressalta o alcance integral da meta de reduzir à metade o porcentual da população sem acesso a saneamento. A meta foi atingida em 2012. De acordo com o trabalho, em 1990, 53% da população vivia em moradias com rede coletora de esgoto ou com fossa séptica. Em 2012, o porcentual subiu para 77%. O acesso à água também melhorou nesse intervalo, de 70% para 85,5%.

    Pobreza extrema

    A meta brasileira para essa área é mais ambiciosa que a mundial. O compromisso era reduzir a pobreza extrema a um quarto do nível de 1990 até 2015. De acordo com o relatório, em 2012, o nível da pobreza extrema era menos de um sétimo do nível de 1990. Pelos cálculos do governo, 3,6% da população vive com menos de R$ 70 mensais.

    De acordo com o trabalho, a pobreza extrema entre idosos está praticamente erradicada, graças à inclusão em programas sociais e à política de valorização real do salário mínimo. A desigualdade racial persiste, embora em menor grau. Em 2012, a probabilidade da extrema pobreza entre negros era o dobro da verificada na população branca. Um em cada 20 negros era extremamente pobre. Entre brancos, o risco é de um entre 46.

    Educação primária

    Em 2012, 23,2% dos jovens de 15 a 24 anos não haviam completado o ensino fundamental. Embora o porcentual ainda seja expressivo, o relatório argumenta que os números brasileiros já foram muito piores. Em 1990, 66,4% dos jovens não haviam completado os anos de estudo. O porcentual de crianças de 7 a 14 anos frequentando o ensino fundamental passou de 81,2% para 97,7%. 


    Reprodução do Correio do Povo