Último réu do processo do mensalão mineiro que ainda seria julgado pelo STF (Supremo Tribunal Federal), o senador Clésio Andrade (PMDB-MG) renunciou ao seu mandato no início da tarde desta terça-feira (15), alegando problemas de saúde. O pedido foi feito acompanhado de laudo médico com diagnóstico de necrose no fêmur das duas pernas.
Assume seu lugar o suplente Antônio Aureliano Sanches de Mendonça, ex-deputado federal e filho do ex-vice-presidente do último governo do regime militar (João Baptista de Figueiredo), Aureliano Chaves.
Na carta de renúncia, Andrade desvinculou sua decisão ao processo do mensalão que, com isso, provavelmente volta para a Justiça mineira.
Em sua página no Facebook, o senador mandou mensagem para a população de Minas Gerais: "estou deixando o Senado Federal por motivos de saúde. Nos próximos meses estarei interrompendo esta comunicação para me dedicar a este tratamento. Espero retomar essa comunicação o mais breve possível. No retorno continuarei a defender os interesses de Minas, não mais como Senador, mas como cidadão mineiro. Obrigado por tudo e até a volta".
O UOL tentou falar com o ex-senador sobre a renúncia e se ela não teria vinculação com a transferência de seu julgamento no mensalão mineiro. Os telefones do gabinete de Andrade no Senado não atendem e seu defensor, o advogado Flávio Boson Gambogi, não foi encontrado em seu escritório. A CNT (Confederação Nacional dos Transportes), por meio de sua assessoria, informou que não iria comentar a renúncia de Andrade.
Em fevereiro deste ano, o então deputado federal Eduardo Azeredo (PSDB-MG), réu no mesmo processo, renunciou ao seu mandato. Com a renúncia, a ação contra ele será julgada pela primeira instância, e não mais pelo STF.
Perfil
Andrade é empresário do setor de transportes e, desde 1994, é presidente da CNT. O peemedebista é casado com a presidente do TCE (Tribunal de Contas do Estado) de Minas Gerais, Adriene Barbosa de Faria Andrade.
Andrade foi vice-governador de Minas Gerais, entre 2003 e 2006, no governo Aécio Neves (PSDB), atual candidato à Presidência. Em 2011, tomou posse como senador ao assumir a cadeira com o falecimento do titular Eliseu Resende. No mesmo ano, deixou o PR para filiar-se ao PMDB.
Na década de 1990, Andrade comprou participação em duas agências de publicidade de Belo Horizonte, SMP&B e DNA Propaganda, e colocou o publicitário Marcos Valério de Souza para dirigir as duas empresas. As operações envolvendo o mensalão tucano -- e também o petista -- tiveram as duas agências como protagonistas.
Com Valério, o agora ex-senador teria articulado o esquema de fraude e colocado o publicitário para operar o caixa dois nas eleições de 1998. Acabou substituindo Mares Guia na chapa de Eduardo Azeredo (PSDB) e transformou-se no arrecadador da campanha de reeleição do então governador.
O MP (Ministério Público) de Minas Gerais acusou Andrade, dizendo que ele tinha conhecimento dos crimes cometidos no esquema, tanto que atuou como devedor solidário de empréstimos bancários fraudulentos. Andrade, de acordo com o MP, teria recebido R$ 325 mil desviados dos cofres públicos do governo de Minas Gerais, como contraprestação pelos serviços feitos em parceria com Valério. Além de receber recursos do esquema, Andrade repassou R$ 200 mil para a conta bancária da campanha eleitoral de Azeredo.
Texto de Carlos Eduardo Cherem, para o UOL Notícias.
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