quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Política branca

Hoje se comemora o Dia Nacional da Consciência Negra. O pouco acesso de negros a postos de relevância é uma das principais feridas ainda abertas no atrasado processo civilizatório brasileiro.
Na política, o apartheid de cor é muito evidente no Congresso. Um levantamento de Renato Abramowicz Santos para a ONG Transparência Brasil chegou à seguinte conclusão:
"Apesar de pretos e pardos representarem metade da população brasileira, eles correspondem a apenas 9,8% dos deputados e senadores no Congresso. O percentual é mais baixo até mesmo do que a fatia dessa população que compõe a elite do país: no universo do 1% mais rico da população, 16% são pretos e pardos".
Não há muitos estudos históricos a respeito da presença de afrodescendentes no Congresso. Essa escassez de dados impede comparações. Mas quem andou pela Câmara e pelo Senado em períodos recentes sabe que nada tem mudado drasticamente nos últimos 20 anos, justamente quando a democracia se consolidou no Brasil.
Nos Três Poderes da República, só o Supremo Tribunal Federal tem um negro no comando --o ministro Joaquim Barbosa. Relator do processo do mensalão, coube a ele ser o algoz de políticos importantes do PT, justamente a legenda de grande porte com o maior percentual de congressistas pretos ou pardos (15%), muito mais do que o dobro de seu antípoda, o PSDB (apenas 3,4%).
Há no momento um debate incipiente na Câmara sobre a criação de cotas para deputados negros. Seria uma operação complexa. Antes de ser candidato, um cidadão precisa se filiar a um partido. O PT acaba de renovar sua direção e exigiu que 20% das vagas nas chapas em disputa fossem preenchidas por negros e outras minorias. Trata-se de algo inédito.
A iniciativa do PT é um bom começo. Mas esse é também o problema. O Brasil está só começando a tentar resolver sua dívida histórica com os negros. O caminho ainda é longo.


Texto de Fernando Rodrigues, na Folha de São Paulo

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