sábado, 9 de novembro de 2013

Sem treinamento, desemprego aumenta apesar da abertura de vagas na Alemanha


Um porta-malas. Uma mala de viagem. Outro porta-malas. Um porta-malas, e depois outra mala. A correia transportadora segue gemendo. Olhando para o monitor, Monika Lenzner, 58, empurra as peças de bagagem para as esteiras de transporte.
Ela encontrou por conta própria o emprego na máquina de raio-X na área de embarque do aeroporto de Tegel, em Berlim, sem a ajuda de um centro para desempregados. Depois de ficar inativa por 12 anos e depois de muitos programas de treinamento malsucedidos e pedidos de emprego rejeitados, ela agora trabalha como assistente de segurança da aviação.
Lenzner teve sorte. Seu caso está mais para exceção do que para regra. Apesar do mercado de trabalho alemão estar crescendo e de haver mais empregos do que nunca, o desemprego está em ascensão.
As estatísticas atuais do mercado de trabalho revelam uma estranha dissonância. Em agosto, o número de postos de trabalho sujeitos a contribuições para a segurança social aumentou em 353 mil em relação ao ano anterior, metade sendo posições de tempo integral. Ao mesmo tempo, 240 mil pessoas se aposentaram. Normalmente, o número de desempregados deveria ter diminuído, mas na verdade ele cresceu em 48 mil em outubro, em relação ao ano anterior.

O retorno da "reserva silenciosa"

Por mais paradoxal que pareça, isso é fácil de explicar. O que é conhecido na Alemanha como "reserva silenciosa", ou seja, os desempregados inativos --pessoas que desistiram de procurar trabalho e mulheres que nunca trabalharam-- cada vez mais à procura de emprego. Ao mesmo tempo, os trabalhadores mais velhos estão adiando a aposentadoria. Todos eles têm uma coisa em comum: eles não eram representados nas estatísticas do desemprego no passado. Ao mesmo tempo, 270 mil imigrantes predominantemente qualificados estão entrando no mercado este ano.
Atualmente há 42 milhões de postos de trabalho na Alemanha, a maior alta de todos os tempos. "O risco de uma pessoa empregada ficar desempregada tem diminuído nos últimos anos. Agora está em 0,84% ao mês", diz Thomas Bauer, vice-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica da Renânia-Wesfália (RWI) na cidade ocidental de Essen.
Por outro lado, pessoas com baixa qualificação e os desempregados de longa data, especialmente os mais velhos, têm menos possibilidades de encontrar emprego. Bauer acredita que haverá "um aumento do desemprego de longa duração, que atualmente afeta pouco mais de 1 milhão de pessoas".
O mercado de trabalho não é uma entidade estatística. Cerca de 20 mil postos de trabalho são encerrados enquanto um número similar é criado na Alemanha a cada dia. As pessoas com boas qualificações não permanecem desempregadas por muito tempo. Mas as coisas são mais difíceis para mais de 1,2 milhão de pessoas sem formação profissional. Quanto mais tempo permanecem sem um novo emprego, maior o risco de permanecerem desempregadas. Em uma sociedade industrial altamente especializada, o trabalho não qualificado tornou-se raro.

Foco no longo prazo

Depois de sua formação como engenheiro de aquecimento há dez anos, Jörg Schäfer não conseguiu encontrar um trabalho sólido. Para se sustentar, fez biscates em uma usina de reciclagem e como assistente e servente de pedreiro. Muitas vezes ficou desempregado no inverno, e o caminho para o fracasso parecia certo.
Agora ele voltou a ser aprendiz, na fábrica de armários de Kielburger, na cidade de Winterbach. Ele sempre gostou de carpintaria. O artesão que lhe mostra como operar as máquinas tem 25 anos --é cinco anos mais novo do que Schäfer, seu aprendiz.
Schäfer deve sua segunda chance a um projeto piloto patrocinado pela agência de emprego Bad Kreuznach, que, no final do verão de 2012, começou a incentivar os desempregados entre 25 e 35 anos a participarem de programas de treinamento. Agora, o seguro desemprego de Schäfer e os $ 400 euros (em torno de R$ 1.200) que recebe como bolsa de treinamento são suficientes para pagar o aluguel e o carro.
O experimento da agência Bad Kreuznach transformou-se em uma iniciativa nacional para quem começa tarde. Em 2015, a Agência Federal de Emprego (BA) pretende motivar 100 mil jovens sem qualificação a entrar em programas de formação profissional. "Em vez de enfatizar medidas de curto prazo, temos de nos concentrar mais fortemente na qualificação de longo prazo", diz Heinrich Alt, membro do conselho executivo da BA.

"Precisamos de mais opções"

Mas nem todas as pessoas em busca de emprego podem ser transformadas em funcionários altamente competitivos. Muitas têm vários obstáculos para a colocação no mercado de trabalho e formam o núcleo duro de desemprego. Desde a introdução dos benefícios básicos de segurança para candidatos a emprego, em 2005, cerca de 300 mil pessoas ainda não trabalharam nem um dia sequer em um emprego sujeito a contribuições para a segurança social.
"Precisamos de mais opções para as pessoas que não conseguiram completar um programa de treinamento clássico da primeira vez, com módulos de treinamento e títulos parciais, para ajudá-las a conquistar uma posição no mercado de trabalho", diz Holger Bonin, economista do Centro para Pesquisa Econômica Europeia na cidade de Mannheim. Soluções flexíveis também são necessárias para elevar ainda mais o mercado de trabalho da "reserva silenciosa", incluindo pessoas como Dries Katharina, de 40 anos de idade, que estudou direito por cinco anos.
Dries não trabalhou por quase 12 anos. Enquanto o marido sustentava a família como cantor de ópera, ela criou os três filhos na cidade bávara de Simbach am Inn. Ela fazia as coisas que as mulheres na cidade costumam fazer. Ela dirigiu o coro das crianças, organizou grupos de mães e filhos e ajudou a administrar o conselho de pais na escola primária local. Em julho, a família mudou-se para Hanover, no norte da Alemanha, e agora ela está à procura de um emprego.
Como se formou há muito tempo, a agência de emprego trata Dries como uma trabalhadora não qualificada. Além do mais, para ser capaz de entrar no mercado de trabalho, ela precisa de alguém para cuidar de seus filhos em idade escolar, bem como de um programa de treinamento que possa cursar sem se descuidar de seus deveres familiares --cursos noturnos, por exemplo.

Reportagem de Markus Dettmer e Kristiana Ludwig para a Der Spiegel, reproduzida no UOL. Tradutor: Deborah Weinberg

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