terça-feira, 5 de novembro de 2013

Mulher descobre leucemia no 5º mês de gestação e vence a doença

Ela não pode pegar a filha no colo após o parto nem amamentá-la. Também não teve a oportunidade de comemorar o nascimento da menina nem receber visitas na maternidade. A representante comercial Priscila Lang de Moraes Baeta, 36, conta que foi difícil não estar ao lado da filha, que nasceu prematura, durante os cinco meses que a menina ficou internada em uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) neonatal. Enquanto Manuela, hoje com 1 ano e 4 meses, lutava para viver, a mãe fazia o mesmo em um outro hospital. Priscila tentava se curar de uma grave leucemia descoberta no quinto mês de gestação.
Priscila conta que ela e a sua família viveram intensamente a  experiência de lidar com a vida e a morte ao mesmo tempo – tanto dela como da menina, que nasceu com 27 semanas de gestação pesando apenas 800 gramas.
Priscila conta que o primeiro sinal de que algo não ia bem foi uma febre fraca e persistente. “Primeiro acharam que era virose. Tomei remédios permitidos durante a gravidez e a febre não ia embora. Os médicos só notaram que podia haver algo de errado quando apareceram nódulos nas minhas axilas, que incharam. Meu médico me orientou a procurar um clínico-geral no hospital Sírio Libanês e não sai mais de lá”, conta.
Após uma série de exames, os médicos deram o diagnóstico. Priscila conta que chorou ao saber da doença, mas que não tinha a dimensão do que estava por vir. Além da necessidade de começar o quanto antes a quimioterapia, ela precisava ‘segurar’ a filha o máximo de tempo possível na barriga para que ela pudesse se desenvolver. “Tomei quimios orais enquanto estava grávida para não comprometer o desenvolvimento dela. Ao mesmo tempo que precisava começar um tratamento mais agressivo, tinha que manter ela na minha barriga o máximo possível.”
O combinado com os médicos era de que ela levaria a gestação adiante até que as células cancerígenas atingissem os níveis máximos, o que aconteceu dez dias após descobrir a doença. Quando o exame de sangue apontou que ela tinha 87% de células cancerígenas no corpo, foi colocada em uma ambulância e transferida imediatamente para o hospital Albert Einstein já que no Sírio Libanês  não existe maternidade. Lá, ela foi  submetida a uma cesárea de emergência sem saber se ela e a menina sobreviveriam. Por conta do bebê ser muito prematuro, foi preciso fazer uma cesárea com corte na vertical para que a criança fosse retirada sem nenhum trauma ou pressão.
As duas conseguiram passar pela cirurgia e foram separadas. Priscila voltou para o Sírio Libanês, onde foi direto para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Em seguida, ela iniciou séries intensas de quimioterapia. Eram sete dias tomando a quimioterapia por 24 horas. “Foram cinco ciclos de quimioterapia. Eu passava muito mal, desmaiava e tomava só banho deitada na cama. Tinha hora que eu nem raciocinava. Tomava morfina como quem toma aspirinas”, conta Priscila que ficou, ao todo, cinco meses e meio internada.
Ela conta que no período de internação pode sair algumas vezes para visitar a filha. O primeiro encontro delas foi quando a menina tinha quase um mês de vida. No primeiro dia, ela conta qe não conseguiu pegar a filha no colo. No dia seguinte, tomou coragem e fez o método canguru (ténica que ajuda reforçar o sistema imunológico de prematuros ao colar o bebê pelado no colo da mãe). “Sabia que ela precisava de minha ajuda e foi por ela que lutei tanto pela vida.” Priscila diz que durante os dias que esteve com a menina foi quando os médicos notaram que a recém-nascida mais se desenvolveu.
Priscila conta que também se fortalecia toda vez que via a filha, mas que era obrigada a voltar a ser internada e ficar longe do seu bebê. “Nunca sabia se ia conseguir vê-la de novo.” Assim como a mãe, Manuela também enfrentou batalhas para sobreviver. A menina passou por uma cirurgia no coração para corrigir uma válvula, operou a coluna, teve uma displasia pulmonar e infecção. “Ela lutou para viver tanto quanto eu”, relata a mãe. Os detalhes sobre o quadro de saúde do bebê eram escondidos pela família para que Priscila não ficasse ainda mais fragilizada. “Só fui saber das cirurgias meses depois quando vi a cicatriz nela”, conta. Apesar de todas as cirurgias, a menina não tem sequelas.
Manu teve alta antes da mãe e foi cuidada pelo pai, avós e por uma enfermeira que auxiliou a família enquanto Priscila seguia internada. Em novembro, a representante comercial passou por um transplante de medula. Segundo Priscila, a ajuda da família foi fundamental. “A minha família e do meu marido ficaram um ano vivendo por nossa conta”, diz. Engenheiro, o  marido de Priscila chegou a se afastar do emprego em uma multinacional enquanto a mãe e a sogra de Priscila se revezavam nos hospitais.
A representante comercial conta que ao ter alta não conseguia cuidar da filha como queria pois não tinha forças. “Tomava 17 remédios e nem conseguia levantar da cama quando ela chorava.” Além do cansaço, Priscila usava um cateter que a recém-nascida puxava toda vez que ia para o colo da mãe.  “Usei muito tempo o cateter, que só foi tirado em abril deste ano, pois não tinha mais veias para tomar os medicamentos”, conta.
Priscila lembra que aos 27 anos teve um câncer de tireoide e que a iodoterapia (tratamento radioativo onde o paciente fica isolado) não se compara à leucemia que enfrentou. “Naquela época, achava que tinha recebido minha cota de provocação e que viveria tranquila o resto da vida. Hoje acho que aquilo foi um resfriado muito fraco se comparado com o que passei dessa vez”, relata.
Depois de um ano careca e usando perucas já que não se adaptou com os lenços e não gostava de se ver careca, Priscila comemora que será o primeiro Natal que passará com cabelos no corte ‘joãozinho’. No ano passado, ela passou o Natal em casa com a filha, mas conta que estava muito fragilizada.
Apesar da grande expectativa para a festa de fim de ano, Priscila conta que o que mais emocionou nos últimos meses foi a festa de um ano de Manu, completado no dia 13 de junho. A família organizou uma grande festa para comemorar a recuperação das duas. Na ocasião, a menina foi batizada pelo mesmo padre na igreja onde Priscila casou. A festa contou com a presença de todos os médicos que acompanharam o caso das duas. “Muita gente chorou, os médicos choraram. Não pude receber visitas, nem ela quando nasceu. Meu marido, minha mãe e minha sogra ficavam o tempo todo de máscaras pois a nossa imunidade era muito baixa e todo cuidado era necessário. Foi a oportunidade de reencontrar todo mundo que torceu pela gente”, conta. Priscila diz que a festa foi para  “celebrar a vida”.


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