sábado, 9 de novembro de 2013

Autoridades americanas querem que a armazenagem de dados continue

O governo Obama disse a aliados e ao Legislativo que está considerando cortar uma variedade de práticas da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) no exterior e revisar a lista de líderes mundiais que a agência está monitorando, forjando um novo acordo com a Alemanha para um relacionamento mais próximo de troca de informações de inteligência e minimizando a coleta de alguns estrangeiros.

Mas, por enquanto, o presidente Barack Obama e seus principais assessores concluíram que não há uma alternativa viável para a coleta de grandes quantidades de "metadados" que incluem os registros de todas as chamadas telefônicas feitas dentro dos Estados Unidos.

Em vez disso, o governo deu a entender que talvez passe a armazenar essas informações por apenas três anos em vez de cinco, enquanto busca novas tecnologias que lhe permitam pesquisar os registros de empresas de telefonia e Internet, ao invés de recolher os dados em massa e armazená-los em computadores do governo. O general Keith B. Alexander, diretor da NSA, disse a representantes do setor que levaria pelo menos três anos para o desenvolvimento da nova tecnologia.

Obama não disse nada publicamente sobre os passos específicos que está pensando em tomar em resposta às revelações de práticas da NSA por Edward J. Snowden, o ex-funcionário que entregou a jornalistas dezenas de milhares de documentos relativos à agência.

Mas a revolta com as revelações de que os Estados Unidos estavam monitorando o celular da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e os protestos de empresários forçaram a Casa Branca a repensar. Eles disseram a Obama na semana passada, em uma reunião na Casa Branca, que temiam que as revelações da NSA levassem a bilhões de dólares em perdas de negócios com a Europa e a Ásia.

Uma porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Caitlin M. Hayden, disse na segunda-feira (4) que as revisões em curso são destinadas a assegurar "que possamos pesar de forma mais eficaz os riscos e benefícios de nossas atividades". Isso inclui, segundo ela, "garantir um foco acima de tudo nas ameaças ao povo americano".

Em um depoimento público, Alexander e o diretor da inteligência nacional, James R. Clapper Jr, demonstraram pouca disposição para grandes mudanças, apenas concordaram com maior fiscalização e divulgação pública de algumas decisões do Tribunal de Vigilância de Inteligência Estrangeira. A Casa Branca fez pressão por mais. No entanto, as ações que o governo está contemplando dificilmente aplacarão os protestos na Europa ou os críticos em casa.

Os detalhes de um acordo de inteligência com a Alemanha -que as autoridades alemãs parecem mais entusiasmadas em negociar do que seus colegas americanos- não serão revelados publicamente e provavelmente não acabarão com a suspeita de que o monitoramento de centenas de líderes alemães EUA foi descontinuado.

A mais dura crítica pública à NSA de dentro do governo vem de um dos principais clientes de seus relatórios de inteligência: o secretário de Estado John Kerry. "O presidente e eu soubemos de algumas coisas que vinham acontecendo em piloto automático, simplesmente porque a tecnologia existe e a capacidade está disponível", disse Kerry, na semana passada, acrescentando que "algumas destas ações foram longe demais".

Um alto funcionário do governo disse que a referência de Kerry ao "piloto automático não estava nos pontos de discussão", mas acrescentou que o presidente concordou e "já tomou algumas decisões" que ainda não foram anunciadas.

As revisões do governo estão sendo conduzidas em sigilo, em parte por causa da natureza secreta das operações da NSA. Inicialmente, as revisões se concentraram na "coleta generalizada" interna, iniciada depois dos ataques de 11 de setembro de 2001, que eventualmente levaram a NSA a coletar os registros de todas as chamadas e, por um tempo, um grande volume de e-mails. (O programa de coleta de e-mails terminou em 2011, segundo a NSA.) Em uma entrevista no mês passado, Alexander disse que estava "aberto" a qualquer proposta alternativa à manutenção de um banco de dados de chamadas.

Mas o vice de Alexander, John C. Inglis, que passou quase três décadas na NSA focado na tecnologia de interceptação e decodificação de comunicações estrangeiras, disse ao Congresso na semana passada que não havia alternativa satisfatória a um banco de dados de chamadas e, por extensão, de mensagens de texto e buscas na internet.

"Precisamos de todo o palheiro", disse Inglis. Se os Estados Unidos estiverem procurando as comunicações de um suspeito de terrorismo, "é preciso que façam uma consulta e saiam confiantes que de que têm a resposta". Funcionários da Casa Branca disseram que as mudanças nos programas de coleta de dados estrangeiros são mais fáceis.

Autoridades alemãs foram à Casa Branca na semana passada e voltaram a Washington nesta semana na esperança de negociar um acordo semelhante ao tipo que o Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia e Canadá têm com os Estados Unidos. As autoridades alemãs saíram das reuniões da semana passada na Casa Branca falando em fechar um acordo dentro de dois meses que incluiria um pacto de "não espionagem" e maior compartilhamento de informações.

As discussões continuarão nesta semana em Washington entre altas autoridades alemãs e americanas do setor de inteligência. Mas um alto funcionário do governo disse: "Não estamos falando em um acordo geral de não espionagem". Ao invés disso, ele disse: "É preciso trabalhar no sentido de atualizar os entendimentos entre os nossos países".



Reportagem de David E. Sanger, para o The New York Times, reproduzida no UOL. Tradução: Deborah Weinberg


Nenhum comentário:

Postar um comentário