O prefeito Eduardo Paes (PMDB) comemora agora que o Rio está nas
páginas do "New York Times" não pela violência, mas em razão das
transformações que acontecem na cidade. O olhar estrangeiro tenta
decifrar este país, de inefável desigualdade, que busca ter uma economia
de Primeiro Mundo.
Ao tratar da dengue, o jornal alemão "Tagesspiegel" descreve uma favela
carioca: "As casas são construídas próximas umas das outras, as ruas são
estreitas, as condições de higiene precárias. A confusão de pessoas,
animais e bens evoca associações da Idade Média".
O indiano Suketu Mehta escreveu para a "New York Review of Books": "Os
brasileiros gostam de se considerar uma sociedade multirracial, mas
basta dar um passeio pelas favelas das cidades para que esse mito caia
por terra. A maioria dos moradores tem pele escura, muito mais escura do
que a da maioria dos ricos, que moram perto da praia ou nos subúrbios, e
mais escura do que a da maioria dos jovens que protestaram nas ruas".
Sarcástico, o "NYT" diz que as autoridades estão se esforçando para
reinventar a cidade ("onde as diferenças de classe e a corrupção são
quase tão inamovíveis quanto as montanhas"). Define o bem-vindo projeto
de renovação da região portuária como "grande jogada comercial de um
governo preso aos incorporadores imobiliários". Graceja com o Museu do
Amanhã ("o que quer que isso possa ser") e ridiculariza quem o projetou
("Santiago Calatrava, o arquiteto do ontem").
O Rio está melhor hoje. A economia cresce. Em algumas áreas já não há
fuzis nem balas perdidas. Muito foi investido. Pouco foi discutido.
Milhares de famílias ainda vivem em casas de um cômodo, em vielas por
onde escorre esgoto e que só se atingem após subir centenas de degraus.
Acostumado à falta de perspectiva, o país deve celebrar avanços, mas indignar-se com o presente.
Texto de Paula Cesarino Costa na Folha de São Paulo.
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