quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Olhar estrangeiro

O prefeito Eduardo Paes (PMDB) comemora agora que o Rio está nas páginas do "New York Times" não pela violência, mas em razão das transformações que acontecem na cidade. O olhar estrangeiro tenta decifrar este país, de inefável desigualdade, que busca ter uma economia de Primeiro Mundo.
Ao tratar da dengue, o jornal alemão "Tagesspiegel" descreve uma favela carioca: "As casas são construídas próximas umas das outras, as ruas são estreitas, as condições de higiene precárias. A confusão de pessoas, animais e bens evoca associações da Idade Média".
O indiano Suketu Mehta escreveu para a "New York Review of Books": "Os brasileiros gostam de se considerar uma sociedade multirracial, mas basta dar um passeio pelas favelas das cidades para que esse mito caia por terra. A maioria dos moradores tem pele escura, muito mais escura do que a da maioria dos ricos, que moram perto da praia ou nos subúrbios, e mais escura do que a da maioria dos jovens que protestaram nas ruas".
Sarcástico, o "NYT" diz que as autoridades estão se esforçando para reinventar a cidade ("onde as diferenças de classe e a corrupção são quase tão inamovíveis quanto as montanhas"). Define o bem-vindo projeto de renovação da região portuária como "grande jogada comercial de um governo preso aos incorporadores imobiliários". Graceja com o Museu do Amanhã ("o que quer que isso possa ser") e ridiculariza quem o projetou ("Santiago Calatrava, o arquiteto do ontem").
O Rio está melhor hoje. A economia cresce. Em algumas áreas já não há fuzis nem balas perdidas. Muito foi investido. Pouco foi discutido. Milhares de famílias ainda vivem em casas de um cômodo, em vielas por onde escorre esgoto e que só se atingem após subir centenas de degraus.
Acostumado à falta de perspectiva, o país deve celebrar avanços, mas indignar-se com o presente.


Texto de Paula Cesarino Costa na Folha de São Paulo

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