Em maio do próximo ano haverá eleições para o Parlamento europeu, e muitos analistas estão prevendo um grande avanço dos partidos de extrema-direita, caracterizados pelo nacionalismo xenófobo, rejeição dos imigrantes, e "euroceticismo" ""um eufemismo para designar sua rejeição à União Europeia.
É compreensível que isto esteja acontecendo. Se compararmos o apoio à integração europeia medida pela forma que cada povo vê sua participação na UE, a redução desse apoio é impressionante.
Tomando-se 2007 e 2013 como referências, a participação da Holanda no bloco era considerada uma coisa boa para 75% dos respondentes --caindo para 28% em 2013. Na Espanha, as porcentagens respectivas são 75% e 20%; na Alemanha, 68% e 37%; na França, 52% e 33%; na Itália, 50% e 35%; e no Reino Unido, 38% e 20% (Eurobarómetro, Gallup-FT, 16 de outubro de 2013).
As razões dessa queda brutal de apoio para a União Europeia são claras: a crise do euro; os problemas trazidos pelo grande equívoco que foi a adoção de uma moeda comum; e o fato de países do sul da zona do euro e a Irlanda estarem ou em recessão ou com taxas de crescimento em queda vertical, e de países do norte, encabeçados pela Alemanha, também terem suas taxas de crescimento reduzidas.
As razões da crise não são fiscais, mas cambiais; não decorrem de deficits públicos, mas de deficits em conta corrente.
É o fato de as "taxas de câmbio internas" dos países do sul, inclusive a França, terem se apreciado em relação ao "euro alemão" --porque, em 2003, os alemães fizeram um acordo social no qual os trabalhadores aceitaram não ter aumento de salários em troca de segurança de emprego, enquanto nos países do sul não houve acordo semelhante.
Em consequência, o custo unitário da mão de obra aumentou nesses países em relação à Alemanha até 2010, quando se desencadeou a crise.
Se os países do sul tivessem suas próprias moedas, o ajustamento seria simples: bastaria a desvalorização de suas moedas em relação à moeda alemã. Como têm uma moeda comum, a solução é ou a descontinuação de forma acordada, ou a "desvalorização interna" --ou seja, a recessão, o desemprego, e a queda dos salários reais.
É esta política que está sendo adotada sob o comando da Alemanha, do Banco Central Europeu e do FMI.
É evidente que a criação do euro foi um erro pelo qual os países europeus estão pagando caro. A solução racional é a descontinuação acordada do euro. Assim se salvará a UE.
Mas, para isso, é necessária coragem nos países do sul, principalmente no seu principal país, a França, e a disposição da Alemanha de fazer um acordo. Nem uma coisa nem outra parecem hoje disponíveis na Europa.
A situação dos países do euro me lembra muito a da Argentina e seu "plan de convertibilidad". Foi necessária uma imensa crise para que o peso deixasse de ser atrelado ao dólar. Agora estamos vendo o euro dos países do sul atrelado ao "euro alemão", e, ao que tudo indica, só uma grande crise poderá levar os europeus a se verem livres dessa maldição que acabou sendo a moeda única europeia.
Texto de Luiz Carlos Bresser-Pereira, na Folha de São Paulo.
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