Na Semana da Consciência Negra é sempre importante lembrar o que os farrapos e os imperiais fizeram com os negros em Porongos.
O dia 14 de novembro marca, desde 1844, a maior infâmia já praticada no Rio Grande do Sul, a traição na sua forma mais abjeta e ardilosa.
Uma história para ser encoberta.
No meu livro, “História Regional da Infâmia: o destino dos negros farrapos e outras iniquidades brasileiras”, faço o inventário completo dessa chaga.
Muita gente que tentou falar dela ou que dela soube muito se deu mal.
Veja-se o que dizem os documentos em meu fragmento de HRI:
“Domingos José de Almeida, na minuta de uma carta a Manuel Antunes da Porciúncula, dava conta dos seus temores em escrever uma história da Revolução Farroupilha: ‘Eis meu amigo Antunes por que não querem que eu escreva essa História: e estarei livre de algum assassinato! O futuro o dirá’ (Coleção Varela 714). Essa correspondência falava de Porongos. Quase todos os farroupilhas que um dia criticaram os principais chefes farroupilhas acabaram assassinados: Paulino da Fontoura, Onofre Pires – este num duelo, sem testemunhas, com Bento Gonçalves – e até Antônio Vicente da Fontoura, apunhalado por um liberto chamado Manoel, em 1861, para a libertação do qual havia colaborado com dez onças de ouro. Santa infâmia! Isso tudo sem contar a morte em condições jamais bem esclarecidas de Joaquim Teixeira Nunes, o comandante dos lanceiros negros massacrados em Porongos. As razões oficiais para essas mortes jamais convenceram a todos. Domingos José de Almeida, em outra carta, endereçada a Bernardo Pires, ao abordar a tragédia de Porongos, destacara as enormes resistências ao seu insano projeto de contar tudo o que sabia: “Eis meu amigo por que do nosso lado e do lado dos nossos antagonistas há oposição para a transcrição da nossa História: oposição que talvez triunfe pelo meu estado de saúde, de finanças, de capacidade e de dificuldades que me criam e que renascem apenas destruídas as primeiras” (CV 711). Por quê?
O silêncio é de ouro. Não atrapalha os mitos.
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