quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Intervenção nas Américas acabou, diz Kerry

Intervenção nas Américas acabou, diz Kerry
Em discurso na sede da OEA, secretário de Estado dos EUA diz que a era da Doutrina Monroe não existe mais
Formulada no século 19 pelo então presidente americano James Monroe, doutrina pedia 'América para os americanos'
RAUL JUSTE LORESDE WASHINGTON

O secretário de Estado americano, John Kerry, afirmou ontem que a "era da Doutrina Monroe acabou" e que a relação que os EUA buscam não é mais sobre "como e quando vamos intervir em outros Estados", mas que todos os países americanos se vejam "como iguais, compartilhando responsabilidades e cooperando na segurança".
O discurso foi feito na sede da Organização dos Estados Americanos (OEA), e o tema era a política americana para o hemisfério ocidental.
A fala já tinha sido adiada uma vez em razão do conflito na Síria.
Em vez de intervenções, o secretário de Estado disse que os vizinhos hoje fazem "decisões como parceiros".
A chamada Doutrina Monroe, lançada pelo presidente James Monroe em 1823, defendia a "América para os americanos", com intuito de impedir qualquer nova colonização europeia, e que, na prática, promovia a hegemonia dos EUA na região.
"Unilateralmente, os EUA se declararam protetores da região, exercendo nossa autoridade para se opor à influência europeia. Sucessivamente, vários presidentes americanos seguiram essa ideia. Mas essa era acabou".
No longo discurso, Kerry não fez menção à quebra de confiança causada pelas denúncias de espionagem no Brasil. Nem às mais controversas políticas americanas na região, como a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) ou a guerra às drogas. A Venezuela foi mencionada apenas uma vez, pelos "tropeços" em sua democracia.
Mas quatro parágrafos no discurso se centraram em Cuba --mais que todas as citações a Brasil, México e Argentina juntas. "O governo Obama tentou um novo começo com Cuba, com mais americanos visitando Havana e mais dinheiro sendo enviado para lá", disse.
Kerry falou das possibilidades de crescimento econômico com acordos comerciais da Aliança do Pacífico (da qual fazem parte Chile, Peru e México) e de recentes acordos com Colômbia e Panamá.
Ele dedicou um bom tempo a falar das oportunidades no setor energético. "Um mercado de US$ 6 trilhões com 4 bilhões de usuários", disse.
"Nos anos 90, a renda de todos os setores dos EUA subiu graças à revolução tecnológica dos computadores pessoais e da internet. O mercado energético é seis vezes maior que esse", e elencou as possibilidades com biomassa no Brasil e de gás de xisto nos EUA e na Argentina.
Assim como já fez em Brasília, Kerry citou outra vez Paulo Coelho, "um dos escritores mais lidos no mundo".
"Quando nós menos esperamos, a vida nos coloca um desafio para testar nossa coragem e nossa vontade de mudar". Kerry emendou:
"Teremos a coragem das escolhas duras e vontade de mudar?".

Reprodução da Folha de São Paulo.

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