sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Sem-teto da França aumentam e se veem em condições mais difíceis que em 2001

Em seu relatório "Um retrato social da França", publicado na quarta-feira (19), o Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos (Insee), registrou para 2012 o número de 81 mil adultos e 31 mil crianças como pessoas sem domicílio fixo. São 44% a mais do que onze anos atrás. Nem todas essas pessoas ficam nas ruas, mas elas não dispõem de uma moradia pessoal. Na verdade, somente 10% dormem na rua e 90% são abrigadas, seja em alojamento fornecido por alguma organização (29%), seja em um abrigo (33%) ou um albergue que deve ser deixado pela manhã (12%) ou ainda em hotéis (16%), cujo custo costuma ser coberto por alguma ONG.
O sistema social de abrigamento até melhorou entre 2001 e 2012, em parte graças à lei sobre o direito de moradia oponível de 5 de março de 2007, por iniciativa de Christine Boutin. A porcentagem de pessoas abrigadas em albergues que precisam deixá-los pela manhã sem a segurança de encontrar um lugar à noite caiu 4 pontos, em prol de quartos de hotéis (+8 pontos), um modo de abrigamento que pode ser precário, mas ainda assim é mais estável que o albergue.
Os sem-domicílio-fixo (SDF) vivem em sua maior parte na área metropolitana parisiense: 44% dos SDF e 55% dos imigrantes vivem em Paris e periferia, uma vez que a capital continua sendo um ponto de entrada. As condições de moradia ali são mais difíceis que no interior, sendo o hotel a forma mais frequente de abrigo. Quatorze por cento dos SDF parisienses estão nas ruas, contra 8% em outras cidades.

Estrangeiros mais frequentemente em família

O instituto distingue dois perfis bastante diferentes entre os SDF. Os estrangeiros, ou aqueles que nasceram fora da França (56% dos SDF) são originários do Magrebe (23%), da África (35%) – em sua maior parte francófonos – ou do Leste Europeu – Romênia, Bulgária, Polônia - , dos quais 70% não falam francês. São eles que costumam vir acompanhados de crianças (40% dos casos) e as mulheres são mais numerosas. Também são eles que dormem com mais frequência na rua. O estudo indica que o número de SDFs não francófonos subiu 34% entre 2001 e 2012 e especialmente na região metropolitana de Paris, com um salto de 84%.
Quarenta e quatro por cento dos SDF são franceses, ou seja, 36 mil pessoas. Essa população é composta em sua maior parte por homens sozinhos. Quase um de cada dois deles (43%) jamais teve moradia pessoal, ou a perdeu em decorrência de problemas financeiros, despejo ou demissão (30%), motivos mais frequentes em 2012 do que em 2001. Entre outros motivos, estão as dificuldades familiares (separação, morte do cônjuge, às vezes violência conjugal), que atingem 35%. É, aliás, o que chama a atenção nos perfis traçados pelo Insee: "Ao olhar mais longe em seu passado, constata-se que os SDF muitas vezes tiveram uma infância marcada por histórias familiares dolorosas, sendo que um quarto deles quando crianças foram enviados para orfanatos ou famílias adotivas", escrevem os autores do estudo. Vinte por cento delas sofreram violência familiar.
Os SDF não rompem totalmente com suas famílias, mantendo contatos pouco frequentes com seus parentes, mas veem amigos e 80% deles têm um telefone celular, um índice próximo do da população geral (89%). Em compensação, eles usam muito menos a internet.
Outro fato marcante é que, enquanto um terço dos SDFs vive com menos de 300 euros por mês, um em cada quatro trabalha, ou seja, 3% a menos que em 2001, e para metade deles seus recursos chegam a cerca de 900 euros por mês.

Reportagem de Isabelle Rey-Lefebvre, para o Le Monde, reproduzida no UOL

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