Poeta Manoel de Barros morre aos 97 anos
Autor estava internado há duas semanas em Campo Grande
O poeta Manoel de Barros morreu nesta quinta, aos 97 anos, em Campo Grande. Ele estava internado há duas semanas no Proncor, período em que passou por uma cirurgia no intestino. O hospital não divulgou as causas da morte.
Um dos principais poetas brasileiros, ele nasceu em 1916, em Cuiabá. O primeiro livro, no entanto, não foi de poesia, mas também não existe mais. A história de seu sumiço merecia um romance: aos 18 anos, quando vivia no Rio de Janeiro, onde frequentava as reuniões da Juventude Comunista, Manoel pichou as palavras "Viva o Comunismo" em uma estátua. Quando foi procurado pela polícia na pensão onde morava, o futuro poeta não foi preso por conta da intervenção da dona do estabelecimento, alegando ser ele um bom menino e também escritor, autor de Nossa Senhora de Minha Escuridão. Sensibilizado, o chefe da operação decidiu não prender Manoel, mas também resolveu ficar com o exemplar do livro.
O primeiro poema nasceu quando ele estava com 19 anos e a estreia literária de fato aconteceu com "Poemas Concebidos sem Pecado" (1937), feito artesanalmente por amigos numa tiragem de 20 exemplares mais um, que ficou com ele. O livro garantia sua inserção entre os modernistas. Na década de 1960, voltou para Campo Grande, onde passou a viver como criador de gado, sem nunca deixar de trabalhar incansavelmente em seus versos. Longe dos grandes centros, demorou para ser reconhecido como grande poeta, mesmo publicando diversos livros.
Foi somente na década de 1980, quando foi elogiado por Millôr Fernandes, é que Manoel de Barros tornou-se conhecido no eixo Rio-São Paulo. Em 1987, ganhou o prêmio Jabuti por "O Guardador de Águas". E, em 2002, "O Fazedor de Amanhecer", livro infantojuvenil do poeta, foi eleito a melhor obra de ficção do ano anterior.
"Como todo velho, sou uma criança nova e, com a memória mais aguda, relembro todos os bons momentos que vivi como menino. Enxergo o mundo agora de maneira mais inocente", justificava. Leitor dos sermões do padre Vieira, hábito que o ensinou, ainda jovem, a admirar a formação e utilização das palavras, Manoel de Barros mantinha, enquanto a saúde permitia, o mesmo ritmo de trabalho: todos os dias, às 7h, dirigia-se ao andar superior de sua casa, onde se encontra o que chamava de 'escritório de ser inútil'.
"Lá, fico horas consultando dicionários etmológicos, descobrindo a origem das palavras, buscando motivação", afirmou ao Estado, em 2002. "Garanto que é uma viagem melhor que qualquer outra de avião." Estimulado, ele combinava suas descobertas, entortando-as. "Para não cansar, a linguagem não pode ser comum, tradicional, senão cansa. É preciso entortá-las um pouco", explicava ele, que deixou frases lapidares como "As coisas que não existem são as mais bonitas", que figura na abertura do "Livro das Ignorãças", atribuída a Felisdônio. Para ele, o esforço sempre era necessário, pois não acreditava em inspiração. "Trabalho com a palavra e, ao buscá-la, sou encaminhado por ela, que se desdobra e aponta caminhos."
Um dos principais poetas brasileiros, ele nasceu em 1916, em Cuiabá. O primeiro livro, no entanto, não foi de poesia, mas também não existe mais. A história de seu sumiço merecia um romance: aos 18 anos, quando vivia no Rio de Janeiro, onde frequentava as reuniões da Juventude Comunista, Manoel pichou as palavras "Viva o Comunismo" em uma estátua. Quando foi procurado pela polícia na pensão onde morava, o futuro poeta não foi preso por conta da intervenção da dona do estabelecimento, alegando ser ele um bom menino e também escritor, autor de Nossa Senhora de Minha Escuridão. Sensibilizado, o chefe da operação decidiu não prender Manoel, mas também resolveu ficar com o exemplar do livro.
O primeiro poema nasceu quando ele estava com 19 anos e a estreia literária de fato aconteceu com "Poemas Concebidos sem Pecado" (1937), feito artesanalmente por amigos numa tiragem de 20 exemplares mais um, que ficou com ele. O livro garantia sua inserção entre os modernistas. Na década de 1960, voltou para Campo Grande, onde passou a viver como criador de gado, sem nunca deixar de trabalhar incansavelmente em seus versos. Longe dos grandes centros, demorou para ser reconhecido como grande poeta, mesmo publicando diversos livros.
Foi somente na década de 1980, quando foi elogiado por Millôr Fernandes, é que Manoel de Barros tornou-se conhecido no eixo Rio-São Paulo. Em 1987, ganhou o prêmio Jabuti por "O Guardador de Águas". E, em 2002, "O Fazedor de Amanhecer", livro infantojuvenil do poeta, foi eleito a melhor obra de ficção do ano anterior.
"Como todo velho, sou uma criança nova e, com a memória mais aguda, relembro todos os bons momentos que vivi como menino. Enxergo o mundo agora de maneira mais inocente", justificava. Leitor dos sermões do padre Vieira, hábito que o ensinou, ainda jovem, a admirar a formação e utilização das palavras, Manoel de Barros mantinha, enquanto a saúde permitia, o mesmo ritmo de trabalho: todos os dias, às 7h, dirigia-se ao andar superior de sua casa, onde se encontra o que chamava de 'escritório de ser inútil'.
"Lá, fico horas consultando dicionários etmológicos, descobrindo a origem das palavras, buscando motivação", afirmou ao Estado, em 2002. "Garanto que é uma viagem melhor que qualquer outra de avião." Estimulado, ele combinava suas descobertas, entortando-as. "Para não cansar, a linguagem não pode ser comum, tradicional, senão cansa. É preciso entortá-las um pouco", explicava ele, que deixou frases lapidares como "As coisas que não existem são as mais bonitas", que figura na abertura do "Livro das Ignorãças", atribuída a Felisdônio. Para ele, o esforço sempre era necessário, pois não acreditava em inspiração. "Trabalho com a palavra e, ao buscá-la, sou encaminhado por ela, que se desdobra e aponta caminhos."
Reprodução do Correio do Povo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário