Campeão mundial em corrupção, violência e desigualdade social, com índices vergonhosos em educação e saúde, e recordista em usuários de cocaína e praticantes de cirurgia plástica, o Brasil aprontou de novo. É o único país em que "Mick - The Wild Life and Mad Genius of Jagger", a biografia de Mick Jagger por Christopher Anderson, já traduzida em toda parte, sofrerá uma mutilação em seu texto.
Os trechos suprimidos narram os encontros de Jagger com a apresentadora Luciana Gimenez, no Rio e em Londres, em 1998, e como, daí, ela se tornou a feliz mamãe de um mini-Rolling Stone. Nada que, desde a época, seja segredo para os leitores de "Caras". O que pode haver de novidade é que, ao namoro seguiu-se uma briga judicial, a resultar num acordo em que, segundo o livro, Jagger sujeitou-se a pagar a Gimenez US$ 5 milhões e US$ 25 mil mensais de pensão alimentícia.
Diante da pressão dos advogados de Gimenez, a editora brasileira preferiu os cortes ao risco de ter o livro recolhido das livrarias por um juiz. O autor, Anderson, estrilou: "Fiquei chocado ao saber que o Brasil proíbe biografias não autorizadas. Como pode um país ser uma sociedade livre sem saber a verdade sobre suas figuras públicas?"
De fato, como? Aprovado há meses na Câmara, o projeto de lei que garante ao Brasil o direito de escrever sua história voltou à estaca zero antes de ser votado pelo Senado. Outra ação, sobre a inconstitucionalidade dos artigos do Código Civil que impedem as biografias independentes, espera pelo voto da ministra do STF Carmen Lúcia. Enquanto isto, a liberdade de expressão no Brasil, apesar de garantida pela Constituição, respira por aparelhos.
Talvez os cortes impostos por Gimenez façam bem à imagem de Jagger. Seu envolvimento com a apresentadora seria mais uma prova do famoso pé-frio do cantor.
Texto de Ruy Castro, na Folha de São Paulo.
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