sábado, 29 de novembro de 2014

CIDH pede fim das leis da anistia na América Latina

CIDH pede fim das leis da anistia na América Latina

Comissão faz pressão para esclarecer violações de direitos humanos durante as guerras civis e ditaduras na região
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) pediu nesta quinta-feira aos países da América Latina que derroguem suas leis de anistia e que abram seus arquivos, fazendo pressão para que se esclareçam as violações de direitos humanos durante as guerras civis e ditaduras nos países da região."O direito à verdade não pode ser cerceado, entre outras formas, por medidas legislativas como as leis de anistia", afirmou a CIDH em um relatório.

 Brasil, Chile e Uruguai, ditaduras até meados ou final da década de oitenta, assim como Guatemala e El Salvador, cenários de violentas guerras civis durante essa década, mantêm vigentes esse tipo de lei, implementadas com o objetivo de impedir que fossem julgadas as violações aos direitos humanos perpetradas por esses regimes autoritários.  "Essas leis de anistia são de grande preocupação para a Comissão na medida em que foram aplicadas para encerrar as investigações", disse à AFP Erick Acuña, especialista em direitos humanos do órgão autônomo da Organização dos Estados Americanos (OEA).

O relatório de centenas de páginas, intitulado "Direito à Verdade nas Américas", analisa as medidas tomadas e as obrigações dos países da região a fim de encerrar esse período violento da história.  Com a assinatura de acordos de paz e com a redemocratização, foram formadas comissões da verdade em 16 países para esclarecer os casos de violações de direitos humanos. A primeira dessas comissões foi criada na Argentina com o retorno à democracia, em 1983, e a última é a brasileira, criada em 2012.

"Foi positivo", disse Acuña, ressaltando que a maioria das comissões conseguiu a abertura de arquivos oficiais, incluindo os militares, confidenciais. "Não só as vítimas e seus familiares têm o direito à verdade, mas também a sociedade como um todo", disse a presidente da CIDH, Tracy Robinson, em comunicado.

Desafios pendentes  
As informações reveladas permitiram novas investigações em casos de torturas, execuções extrajudiciais e desaparecimentos forçados, e servem de matéria-prima para os trabalhos do CIDH e da Corte Interamericana de Direitos Humanos. "No entanto, ainda é preciso caminhar decididamente no sentido de resolver essas situações", concluiu a Comissão em seu relatório. 

Além de abolir as leis de anistia, a CIDH pediu que os países eliminem a jurisdição penal militar nos casos de violação aos direitos humanos, em que com frequência os militares vão para o banco dos réus.  "Dificulta-se a imparcialidade", avalia o relatório, afirmando que as investigações em mãos militares "costumam servir para encobrir os fatos em vez de esclarecê-los". 

Segundo a Comissão, os países também devem aprofundar a liberação dos documentos. "A informação reunida nesses arquivos possui um valor inestimável e indispensável não só para impulsionar as investigações mas para se evitar que esses crimes se repitam". A CIDH sugere ainda a criação de novos museus ou espaços de memória sobre os crimes cometidos há mais de vinte e cinco anos.

Décadas após as redemocratizações, a América Latina continua sendo palco de inúmeras violações aos direitos humanos, como o recente desaparecimento de 43 estudantes mexicanos depois de mortos por policiais e narcotraficantes no país.  "O relatório não é apenas sobre o passado, mas uma contribuição ao presente e a um futuro livre desse tipo de abuso", disse o secretário-executivo da CIDH, Emilio Álvarez Icaza.

Reprodução do Correio do Povo

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