sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Desmemória

A perda de memória é tanta que parece esquecido até aquele bordão, acusatório e salvador, de que o brasileiro não tem memória. Nem a propósito das eleições, que o sobrepunham a tudo dito na campanha e nos resultados, a sentença pôde ser lida ou ouvida.
E, no entanto, nunca foi mais apropriada. Texto da Executiva do PT, por exemplo, expressa a conclusão de que a conquista do "quarto mandato [é] algo que nenhuma outra força política havia alcançado até agora no país".
Houve uma que ocupou quatro mandatos, sim. E o fez por ser a maior força política do Brasil em todo o século 20: o Exército.
A frase destacada pela edição do artigo de Luiz Felipe Pondé: "O PT ensinou bem o ódio político ao Brasil e agora poderá provar do próprio veneno". O golpe não foi feito por amor, a ditadura e as torturas e os assassinatos não foram feitos como carinhos, Lacerda e o udenismo não ensinaram o convívio democrático. E nem foi só a tais alturas que o ódio entrou na história do Brasil, para ficar não se sabe até quando. Está, aliás, em maré crescente.
Muito espaço e tempo foram ocupados com as acusações da delação de Paulo Roberto Costa ao presidente da Transpetro, Sérgio Machado, e agora com sua licença forçada da presidência dessa subsidiária da Petrobras. Nunca foi esquecida a informação, correta, de que Machado chegou ao cargo em 2003, primeiro ano do governo Lula, como indicado de Renan Calheiros e do PMDB.
Em todo esse tempo de escândalo Petrobras, tem sido difícil ver a informação de que Sérgio Machado foi do PSDB. E nem era um a mais ou a menos no partido.
De 1995, primeiro ano do governo Fernando Henrique Cardoso, a 2001, foi o líder do PSDB no Senado. Nesse último ano, teve o principal papel na batalha com que o governo barrou a CPI da Corrupção. Tarefa na qual Machado já estava experiente e consagrado, a ponto de ser chamado de "o Trator". Próximo de completar o sétimo ano na liderança, deixou o PSDB pelo PMDB, por briga com o então governador Tasso Jereissati e para disputar o governo cearense em 2002. Foi para compensar a derrota que Renan Calheiros o apresentou como indicado do PMDB à Transpetro.


Trecho da coluna de Jânio de Freitas, na Folha de São Paulo

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