Faz quanto tempo que você não vai até uma locadora atrás de um filme? Se você demorou pra responder, provavelmente deve estar se perguntando: “quem, nos dias de hoje, ainda vai a uma locadora???”. Em tempos de Netflix e serviços de streaming a todo vapor – sem contar o cinema e a TV a cabo (essa cada vez com mais opções self service), paira a dúvida de como esses lugares indispensáveis na nossa vida nos 90’s, estão sobrevivendo neste mundo tecnológico e cheio de artimanhas.
Nos Estados Unidos, uma das maiores redes de locadoras, a Blockbuster, fechou sua última loja em janeiro deste ano. Ela inclusive foi uma das responsáveis pelo primeiro susto no mercado brasileiro, lá nos anos 90, quando tudo ainda bombava nesse meio. “Primeiro sentimos o impacto da TV a cabo e, em 95, com a chegada da Blockbuster no Brasil, todo mundo teve que se adaptar pra não perder a clientela”, comenta Eduardo Rocha, proprietário da Hi-Fi Video, que existe há mais de 20 anos na Independência, em Porto Alegre.
“A primeira queda veio em 2007, com a pirataria, mas o pior aconteceu depois de 2012, com oNetflix”, afirma Gilberta Ferreira, proprietária da Fox Vídeo, na Cidade Baixa, que está prestes a fechar as portas depois de duas décadas. “Hoje o perfil do consumidor é bem diferente, as pessoas trabalham mais, tem mais opções de lazer e pouco tempo pra vir até a locadora pegar o filme e depois devolver”, comenta. O Eduardo também enxerga outro tipo de clientela, que na verdade, nem tem mais como rotular, “nos últimos anos notei uma maior rotatividade de clientes, ao invés daquele público fiel, que vinha todo o final de semana”, conta.
Mas nem tudo está perdido no mundo das locadoras e a internet ainda não tá com todo esse poder. Quem se interessa em assistir filmes alternativos ou clássicos, por exemplo, acaba recorrendo à moda antiga, e desembolsa entre R$ 4 e R$ 8 pra locação daquele título mais raro. “Temos uma grande variedade de clássicos e filmes europeus, e o isso acaba atraindo o público jovem, até pra pesquisas da faculdade”, explica Giovani Vieira, que trabalha há 15 anos naClasse A, locadora do centro de Porto Alegre. Por ali, uma exposição só com filmes ganhadores do Oscar ganha lugar de destaque. “Dos 85 filmes vencedores, faltam apenas 11 no nosso acervo”, comemora.
O mesmo público jovem e amante da sétima arte também passa pela Hi-Fi. “Atendo muitos jovens em busca de filmes alternativos, estudantes que vêm do interior, onde a locadora ainda é forte”, comenta Eduardo. Tudo isso porque muitos títulos simplesmente não estão disponíveis no mercado virtual. “Ganhei um cliente de volta que veio indignado por não ter achado oLawrence da Arábia na internet”, comenta Giovani. O clássico com Peter O’Toole e Anthony Quinn é um dos muitos exemplos de títulos não liberados na rede.
Reinvenção é a alternativa – Além do acervo, as locadoras que ainda sobrevivem investem em atendimento personalizado e ambiente mais aconchegante. Na Espaço Vídeo, uma das maiores locadoras em atividade na Capital, a aposta são os funcionários, que tem que ter como pré-requisito a paixão pelo cinema. Além disso, o ambiente ganhou um café, alternativa que também foi adotada na Hi-Fi. O modelo veio das livrarias, e deu um tom mais confortável e de maior interação entre os clientes.
Mas e o futuro? – “Tenho esperança que a locadora tenha um revival, assim como o vinil, mas acredito que não duraremos mais do que cinco anos”, comenta Giovani. Por outro lado, o Eduardo se espelha no mercado europeu após uma visita a Itália, onde as locadoras ainda são muito fortes, e acredita que por aqui ainda há muito o que explorar. “Todo mundo assiste filme, seja no cinema, na TV a cabo, no computador, no tablet, no DVD alugado ou comprado”, comenta.
Colecionadores – Enquanto isso, a galera que coleciona filmes tem uma grande oportunidade de adquirir raridades, já que praticamente todas as locadoras têm investido na venda do acervo. AEspaço Vídeo (Vasco da Gama, 153), por exemplo, conta com uma feira de usados onde muita coisa bacana pode ser encontrada. Já a Fox Vídeo (Lima e Silva, 708), pretende liquidar os seis mil títulos até janeiro, quando encerra as atividades, com preços a partir de R$ 4,90.
Reprodução de texto de Rafa Martins, no blog Mais Preza, no Correio do Povo.
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