quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Jovem ignora risco de espionagem, diz analista

O programa dos Estados Unidos que acessa dados de telefonia e de internet para espionar cidadãos é uma ameaça à democracia, diz a reitora da Escola de Governo Blavatnik, da Universidade de Oxford, Ngaire Woods.
"A democracia não se resume a escolher governantes pelo voto. Uma democracia só está completa quando há o predomínio do Estado de Direito, com mecanismos de controle de governos e respeito às minorias", diz.
"É por isso que, ao longo de centenas de anos, as democracias desenvolveram regras para limitar a quantidade de informação que pode ser coletada por governos."
Para a reitora, que esteve no Brasil para o lançamento do programa de bolsas da Fundação Lemann em sua escola, as revelações sobre os métodos da Agência de Segurança Nacional revelaram um desequilíbrio de forças entre governos e cidadãos.
"É preciso haver um debate público para restaurar esse equilíbrio. A nova geração não se dá conta do risco que é ter um governo que faz a ficha das pessoas. Não é preciso ir muito longe na história para saber por que é importante impor limites."
Para Woods, a revelação da relação de cooperação de empresas de tecnologia com o governo dos EUA é das mais sérias. Mas ela crê que a explicação esteja numa maior competição no setor privado.
"Certa vez, num debate em Oxford, antes dessas revelações, perguntei a Eric Schmidt [fundador do Google] por que eu deveria confiar na empresa dele. Ele respondeu que, se não tratasse bem seus usuários, eles poderiam mudar para outro serviço."
"Temos essa opção? Não creio. Mas, por outro lado, a Microsoft já foi um monopólio. Não tenho tanta certeza de que o Google vá cimentar uma posição de monopólio. Mas tenho toda a certeza de que precisamos discutir as condições em que devemos permitir aos governos espionar as pessoas."
Ela acrescenta que "a autorização judicial é uma forma, mas a conveniência dos espiões não."
Crítica da falta de capacidade de líderes em ampliar a regulação do mercado financeiro após a crise de 2008, Woods vê o mundo menos globalizado. "Havia uma grande promessa do G20 de reformar as instituições multilaterais, com maior participação de emergentes, mas isso não ocorreu. Ao contrário, o mundo passa por um processo de desglobalização."


Reprodução da Folha de São Paulo

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