sábado, 14 de setembro de 2013

A extrema-direita xenófoba se aproxima do poder na Noruega

O Partido do Progresso (FrP na sigla em norueguês), uma formação populista de extrema-direita, negocia sua participação no governo surgido das eleições norueguesas de segunda-feira (9), nas quais a coalizão de esquerdas encabeçada pelos trabalhistas, no poder desde 2005, perdeu a maioria absoluta no Parlamento.
A grande vencedora das eleições, a conservadora Erna Solberg, já havia anunciado previamente sua intenção de ter no executivo os quatro partidos "burgueses", incluindo o FrP. Se finalmente a formação encabeçada por Siv Jensen fizer parte do gabinete seria a primeira vez que um partido desse tipo chegaria ao poder na Escandinávia.
Estas são as primeiras eleições gerais realizadas no país nórdico desde julho de 2011, quando Anders Behring Breivik matou 77 pessoas em um duplo atentado, primeiro contra edifícios do governo no centro de Oslo e depois contra o acampamento da juventude trabalhista na ilha de Utoya, nos arredores da capital. Breivik, que em vários textos denunciou a "islamização" da sociedade norueguesa, havia sido membro tanto do FrP como de sua organização juvenil, FrU. O FrP repudiou oficialmente Breivik e seus atos.
Com relação às eleições de 2009, o FrP perdeu quase um quarto dos votos e 12 de seus 41 assentos. O êxito eleitoral do Partido do Progresso foi paralelo a um endurecimento de sua mensagem contra a imigração. Durante a campanha, o vice-líder do partido, Período Sandberg, prometeu reduzir pela metade o número de imigrantes não europeus.
Em 2012 o porta-voz do FrP para questões de imigração, Morten Orsal Johansen, defendeu negar os pedidos de residência aos que "não quiserem fazer parte da sociedade norueguesa".
O partido propôs proibir o uso do hijab e a própria Jensen afirmou na campanha de 2009 que a Noruega estava vivendo uma "islamização silenciosa".
Dois anos depois dos atentados e com Breivik condenado a 21 anos de prisão - a pena máxima -, pesou mais na campanha a preocupação sobre como utilizar os benefícios do petróleo, que garanta um crescimento econômico sustentado e um baixo índice de desemprego. A direita acusa os trabalhistas de serem conservadores demais no uso do petróleo e defende baixar os impostos sobre as receitas dos combustíveis. Os trabalhistas afirmam que sua intenção é criar um colchão financeiro para o futuro.
Até agora todos os governos de coalizão conservadores se negaram a incluir o FrP, como ocorreu em outros países nórdicos onde a extrema-direita cresceu, como Dinamarca ou Finlândia. Mas em julho de 2010 Solberg afirmou que "o Partido do Progresso obteve um apoio tão grande e tão persistente que não pode mais ser ignorado como uma opção de governo". O que explica essa mudança de atitude por parte da direita tradicional? "O partido moderou conscientemente sua mensagem", afirma Jo Saglie, do Instituto de Estudos Sociais de Oslo. "Também obrigou outros partidos a mudar, especialmente em questões de imigração."

Reportagem de Thiago Ferrer, para o El País, reproduzida no UOL. Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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