Embora previsíveis, os resultados da eleição na Alemanha, no domingo passado, devem ser olhados com atenção, pois desenham um horizonte sombrio para os próximos anos. A estrondosa vitória de Angela Merkel representa um endosso para a destruição econômica imposta pelos alemães aos países do sul do continente, colocando em perigo a própria União Europeia (UE) e, talvez, provocando um perigoso antigermanismo nos vizinhos.
O eleitorado, que deu 42% dos sufrágios à CDU/CSU contra 26% ao segundo colocado (SPD), votou pelo desempenho interno. Enquanto Portugal, por exemplo, via seu PIB reduzir 3,2% em 2012, a Alemanha cresceu 0,7%. Está longe de ser um número espetacular, mas, numa sociedade já muito rica, permite manter as condições de vida alcançadas.
Os motivos desse relativo sucesso tornam duvidosas, porém, as condições de sua continuidade. Na área industrial, as empresas alemãs parecem estar ainda se beneficiando do pacote antitrabalhista levado a cabo sob o comando de Gerhard Schröder (SPD), nos anos 2000. Ao diminuir direitos da classe trabalhadora, embora restem muitos, rebaixou-se o custo da mão de obra, o que, somado ao aumento de produtividade, tornou as mercadorias alemãs mais competitivas.
Como consequência, as exportações teutônicas cresceram, porém o detalhe relevante é que quase 60% delas são vendidas na própria UE. Isto é, ao arruinarem a eurozona, os alemães serram o galho sobre o qual estão sentados.
Por enquanto, os capitais que saem das regiões em depressão estão indo para a Alemanha, diz Joseph Stiglitz. Mas "o erro da população alemã é não ter percebido que essa situação (...) não vai durar muito tempo", declarou o Prêmio Nobel de Economia depois do último pleito (Folha, 26/9).
No plano político, não há alternativa. A opção pelo mercado nos anos 2000 destroçou o Partido Social-Democrata, convertido em uma sombra da grande agremiação que lutou pelo Estado de bem-estar.
O grupo que cindiu da velha legenda para tentar defender as cores da esquerda (Die Linke) não consegue convencer o grosso dos eleitores de que dispõe de um programa efetivo para dirigir o transatlântico em direção melhor que a atual. Embora esteja contente, pois se tornou a terceira força nacional com a queda dos liberais (FDP), que não conseguiram superar a barreira dos 5%, na realidade o Die Linke (A Esquerda) perdeu espaço no último período, indo de 12% em 2009 para 9% agora. Os Verdes também caíram, de 11% para 8%.
Enquanto durar a hegemonia da direita na Europa, lugar em que a civilização mais avançou no planeta, as perspectivas gerais de progresso não serão boas.
Texto de André Singer, publicado na Folha de São Paulo.
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