Quatro anos após golpe, Zelaya tenta eleger sua mulher em Honduras
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA (HONDURAS)
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA (HONDURAS)
Na última terça-feira, o ex-presidente hondurenho Manuel Zelaya voltou à embaixada brasileira pela primeira vez desde janeiro de 2010, quando deixou a representação rumo ao exílio após 121 dias no prédio. Tanto agora como quatro anos atrás, a motivação é a mesma: voltar ao comando do país, perdido após um golpe.
Desde que foi autorizado a regressar a Honduras, em maio de 2011, Zelaya organizou um novo partido, Libre (Libertad y Refundación), mirando as eleições de 24 de novembro. Impedido de concorrer à Presidência por já ter ocupado o cargo, lançou a própria mulher, Xiomara Castro, 53.
A ex-primeira-dama passou a ser conhecida após o golpe de junho de 2009, que expulsou Zelaya de Honduras. Sozinha no país, participava de protestos exigindo a volta do marido. Sua projeção aumentou quando ele conseguiu retornar clandestinamente e se abrigou com ela na embaixada.
Além de Xiomara, outros cinco antigos "moradores" da representação diplomática são candidatos a deputado (incluindo o próprio Zelaya), a maioria pela primeira vez. Outros que acompanharam o casal integram a campanha como assessores próximos.
Nesta semana, a visita de Zelaya à embaixada foi em tom de campanha. Diante das câmeras, ele mostrou o seu antigo "quarto", um cubículo cheio de livros, entregou uma coroa de flores ao embaixador Zenik Krawctschuk e contou histórias da época.
Ainda traumatizada pela longa estadia, Xiomara não participou da visita.
INEXPERIÊNCIA
Casada desde os 16 anos com Zelaya, com quem tem quatro filhos, ela não tem curso superior, nunca havia sido candidata nem ocupou cargo público. Antes do golpe, sua experiência política resumia-se ao papel de primeira-dama e a experiências como membro do Rotary Club de Catacamas, cidade de cerca de 120 mil habitantes.
Na última quarta, a Folhaacompanhou sua participação em um fórum sobre energia. Ali, reforçou a principal proposta da campanha, a convocação de uma Assembleia Constituinte, fez vários elogios ao governo do marido e defendeu a revisão de contratos de energia, à semelhança do que foi feito na Venezuela, na Bolívia e no Equador.
Às vezes ficava sem fôlego, sugerindo nervosismo, e interrompia bruscamente a fala quando seu tempo terminava.
"O melhor governo de Honduras foi o do presidente Zelaya", disse à reportagem, na saída, ao ser questionada sobre o papel do marido caso vença. "Imagine o benefício de ter uma pessoa ao meu lado que não só pode aconselhar como também impulsionar muitas das ações que ele iniciou e que não foram concluídas em seu governo."
A inexperiência não a tem impedido de liderar a maioria das pesquisas. Em levantamento CID/Gallup divulgado na semana passada, obteve 29%, em empate técnico com Juan Orlando Hernández.
Enquanto Xiomara se esforça para parecer preparada, Hernández tenta se desvencilhar do presidente Porfirio Pepe Lobo, desgastado pelo momento econômico ruim e pelos altos índices de violência --Honduras tem a maior taxa de homicídio do mundo.
A favor dele, estão a campanha com mais recursos, a simpatia da maioria dos meios de comunicação e o tradicional bipartidarismo hondurenho: desde 1982, quando acabou um breve regime militar, se revezam no poder o Partido Nacional, de Lobo e Hernández, e o Liberal, ao qual Zelaya era filiado, atualmente em terceiro.
Reprodução da Folha de São Paulo.
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