Congestionamento de Cortázar volta a circular
Coletânea 'A Autoestrada do Sul' tem nova tradução de conto clássico de argentino
Um dos maiores, ou mais interessantes, congestionamentos de carros da história aconteceu numa estrada que vai de Fontainebleau a Paris. Durou meses, e nele pessoas se conheceram, se amaram, engravidaram e morreram.
O engarrafamento se deu nas vias da ficção, num conto do escritor franco-argentino Julio Cortázar (1914-1984).
Escrita em 1964, "A Autoestrada do Sul" é uma descrição minuciosa desse gigantesco nó de carros, enlaçados sob o sol de agosto.
Publicada originalmente no livro "Todos os Fogos o Fogo", a história volta a circular no Brasil, em nova tradução. Ela é o carro-chefe do recém-lançado volume "A Autoestrada do Sul & Outras Histórias" (L&PM), que inclui maravilhas cortazarianas, como os contos "A Porta Condenada" e "O Perseguidor".
Em "Autopista del Sur", não há, claro, "perseguições". É uma viagem (estacionada) ao absurdo.
Congestionamentos são, com efeito, uma das materializações mais claras do absurdo, e não à toa o escritor se referiu a eles, numa entrevista, como "um dos signos mais negativos da triste sociedade em que vivemos".
Mas neste engarrafamento quem conduz é Cortázar. E por isso há jogo ("todos os jogos o jogo" poderia se chamar o livro). O leitor sai dele sorrindo. Sem buzinar.
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