sábado, 14 de setembro de 2013

Não há o que comemorar, diz 'arquiteto' do acordo

Não há o que comemorar, diz 'arquiteto' do acordo
DO ENVIADO A HERZLIYA

Apelidado "arquiteto do Acordo de Oslo", Yossi Beilin, 65, está desgostoso. Em seu escritório em Herzliya, norte de Tel Aviv, ele diz que nem em pesadelos imaginaria que os projetos de paz que ajudou a articular em 1993 não seriam realidade hoje.
Diante de uma nova rodada de negociações, o político israelense --que hoje mantém uma consultoria-- espera que as lições do fracasso de Oslo sejam reaproveitadas.
Caso as negociações falhem, Beilin sugere devolver as chaves do território palestino ao "ocupador". "Isso poria Israel em uma posição difícil, de ser responsável por todos os setores", afirma.
Leia os principais trechos da entrevista à Folha.
(DIOGO BERCITO)
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Folha - Este é um bom aniversário para o Acordo de Oslo?

Yossi Beilin - Não. Nem mesmo nos nossos piores pesadelos imaginávamos que os acordos se arrastariam por 20 anos. Comemorar essa data seria como celebrar a graduação de um estudante que ainda está na primeira série. Mas Oslo é, hoje, referência para pensarmos no futuro.

Por quê?
Porque serve para entendermos que a maioria em ambos os lados é importante, mas não o suficiente. Há 20 anos, não levamos em conta a força das minorias, mas foram eles que tiveram o poder de se opor ao plano de paz.

A quem o sr. se refere?
Ao Hamas, do lado palestino, e à extrema direita, em Israel. Nós, israelenses, não estávamos prontos para as manifestações e para o assassinato do premiê Yitzhak Rabin [por um judeu ultraortodoxo, em 1995]. Os palestinos não estavam prontos para os homens-bomba do Hamas.

A saída é trazer Hamas e extremistas israelenses à mesa de negociação?
Não. Eles são lunáticos. Mas temos de saber o que eles estão fazendo, por meio de nossa inteligência.

Quais foram os erros do Acordo de Oslo?
Foi um erro termos realizado a cerimônia em Washington com [o então presidente americano] Bill Clinton, por exemplo. Oslo deveria ter sido tratado pelo que era. A foto de Clinton com Rabin e [Yasser] Arafat foi o suficiente para o mundo crer que já havia a paz, e não era verdade.

Estabelecer um acordo temporário foi um equívoco?
Sim. Pedi que Rabin nos deixasse conversar sobre questões reais, mas ele me disse que era melhor começarmos por um acordo interino. Permitimos, assim, que extremistas fizessem o que queriam.

Qual é a alternativa?
Os palestinos deveriam declarar que Oslo acabou para eles. Não pode ser desculpa para não seguir adiante. Que dissolvam a Autoridade Nacional Palestina e devolvam as chaves para os ocupadores. Isso poria Israel em uma posição difícil, de ser responsável por todos os setores, como educação e saúde.

Por que cancelar Oslo?
Quem apoia hoje o acordo são os mesmos que se opuseram no início. Eles usam o acordo para proteger assentamentos e impedir discussões sobre fronteiras. Os palestinos se agarram ao fato de que têm um presidente, um premiê, um orçamento etc. Para que mudar?


Reprodução da Folha de São Paulo

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