domingo, 22 de setembro de 2013

Primeira-Dama nada convencional

Primeira-Dama nada convencional
Chirlane McCray era lésbica militante nos anos 70 até se casar com Bill de Blasio, favorito na eleição para Prefeitura de Nova York, em novembro
PATRÍCIA CAMPOS MELLODE SÃO PAULO

Nova York pode estar prestes a ter uma primeira-dama bem pouco convencional. Chirlane McCray, 58, mulher de Bill de Blasio, candidato do Partido Democrata à prefeitura e visto como favorito, é uma ex-lésbica ativista.
Blasio, 52, lidera as pesquisas para a eleição de 5 de novembro, em que enfrentará o republicano Joseph Lhota.
O democrata é defensor público, uma espécie de corregedor da cidade, que fiscaliza se os nova-iorquinos têm acesso a serviços públicos de qualidade e tenta influenciar políticas públicas.
Nos anos 70, Chirlane militava no movimento radical de lésbicas negras Combahee River Collective. Foi, em 1979, uma das primeiras lésbicas negras a "sair do armário", em uma revista focada em leitores negros --escreveu um ensaio de sete páginas para a "Essence" intitulado "Eu sou lésbica".
"Sou sortuda, porque descobri minha preferência por mulheres cedo, antes de estar presa em um casamento tradicional e ter filhos", escreveu.
Chirlane teve vários relacionamentos longos com mulheres antes de conhecer Blasio, em 1991. Ela trabalhava na comissão de direitos humanos de Nova York, e Blasio era assessor do então prefeito David Dinkins.
Eles se casaram em 1994, em uma cerimônia celebrada por pastores gays, ao som de uma banda folk italiana e bateristas africanos. Têm dois filhos adolescentes.
"Algumas pessoas se identificam como uma coisa ou outra, mas, para o resto de nós, há muita área cinzenta", disse à revista "New Yorker".
Ela é um trunfo para Blasio, que é branco, conquistar o eleitorado gay e negro.
Nas primárias democratas, até entre eleitores gays Blasio derrotou a candidata Christine Quinn, abertamente lésbica e casada com uma mulher. Segundo pesquisa do "New York Times", Blasio recebeu 47% dos votos LGBT, e Christine teve o apoio de apenas 34% dos gays.
"Algumas ativistas ficaram incomodadas com a mudança de McCray, que passou de ativista lésbica para mulher casada com um homem; mas todas ficam felizes por Chirlane não renegar seu passado, e se focam nas posições dela e do marido sobre questões LGBT em vez de se importar porque ela casou com um homem", disse àFolha E. Frances White, professora de estudos sobre negros na Universidade de Nova York.
"Nós entendemos que a sexualidade é muito fluida e mutável", diz Jacqueline Brown, professora de antropologia da City University of New York especializada em questões de raça e gênero. Brown se descreve como "uma lésbica negra que votou em Blasio". "O fato de Blasio ter uma mulher radical e negra mostra que ele deve apostar em políticas progressistas", disse.
Para ela, muitas de suas amigas lésbicas votaram em Blasio porque ele realmente é mais progressista, enquanto Christine Quinn iria só replicar as políticas do atual prefeito, Michael Bloomberg, às quais elas se opõem.
Uma delas é a política de "parar e revistar" --rejeitada por parte dos eleitores, que a consideram racista pelo fato de a maior parte dos "suspeitos" interpelados serem negros ou hispânicos.
Bloomberg argumenta que a política ajudou a reduzir a violência na cidade a níveis historicamente baixos, enquanto Blasio promete acabar com o "parar e revistar", que julga discriminatório.
Na primária democrata, Blasio empatou com um candidato negro, Bill Thompson, entre o eleitorado negro.
"Uma questão interessante é saber o que os negros americanos acham de uma negra que se casou com um branco --estou fascinada porque a comunidade negra não se incomodou com isso e, na verdade, votou em Blasio porque ele cruzou a barreira da raça", disse White.

Reprodução da Folha de São Paulo

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