terça-feira, 12 de agosto de 2014

Uísque transborda fronteira escocesa

ROUDHAM, Inglaterra - Feito com cevada de uma fazenda de propriedade familiar e com água de um poço local, o uísque "single malt" produzido numa pequena destilaria daqui, com um leve sabor de nozes, pode custar mais do que produtos similares da Glenmorangie ou Glenlivet. Mas não é uísque escocês, é inglês.
Com sede em uma região exuberante, a cerca de 480 km da fronteira com a Escócia, a English Whisky Company, em Norfolk, faz parte do renascimento de uma tradição que foi perdida há mais de um século.
A retomada tem aumentado lentamente, mas de forma constante, desde que as primeiras garrafas foram colocadas à venda na região, em 2009. Agora existem pelo menos quatro destilarias de uísque inglês em operação, e o interesse está aumentando.
"A cada duas semanas recebo um telefonema de alguém dizendo: 'Estou pensando em abrir uma destilaria, posso dar uma olhada na sua?'", disse Andrew Nelstrop, diretor-gerente da English Whisky Company.
Pelos padrões escoceses, a indústria inglesa do uísque ainda é minúscula. No ano passado, a English Whisky Company vendeu cerca de 60 mil garrafas. As destilarias escocesas exportaram 1,23 bilhão de garrafas e venderam outras 87,5 milhões no Reino Unido.
Mas a English Whisky Company diz que está recebendo um pequeno impulso graças ao movimento independentista escocês, tema que será submetido a votação em setembro. "Há um suave orgulho subjacente em nossa própria nação", disse Nelstrop. "Se a Escócia se tornasse independente, veríamos isso aumentar".
Embora a Inglaterra nunca tenha tido a mesma tradição que a Escócia na fabricação de uísques, havia quatro destilarias de grãos no país no século 19. Mas, no final da década de 1880, a Escócia havia desenvolvido o uísque "blended", de acordo com Charles MacLean, historiador e especialista em uísque. Esse tipo de bebida tornou-se extremamente popular na Inglaterra na década seguinte, o que levou as poucas destilarias inglesas ao declínio, segundo ele.
Mais de um século depois, a destilaria de Norfolk ressalta o anglicismo de seu produto, embora "Scotch" ainda seja o termo popular para uísque no local.
Como é uma destilaria relativamente nova, a English Whisky Company não está tentando disputar a liderança com as concorrentes da Escócia, algumas das quais vendem uísques que foram envelhecidos por décadas.
Mas David Fitt, o destilador-chefe da empresa, diz que, por ser pequena e de capital fechado, a English Whisky Company tem a liberdade de inovar com métodos diferentes. Embora boa parte do uísque seja envelhecida em barris de bourbon, às vezes também são usados barris de vinho, xerez ou vinho do Porto. "Não tínhamos nada a perder, porque não temos 200 anos de tradição", disse.


Reprodução de notícia do The New York Times, na Folha de São Paulo

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