quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Cético do clima se mantém inabalável

Cético do clima se mantém inabalável

Por MICHAEL WINES

HUNTSVILLE, Alabama - John Christy é professor de ciência atmosférica na Universidade do Alabama em Huntsville. Ele lembra uma ocasião em que viu um colega muito conhecido numa reunião de climatologistas.
"Fui até ele e estendi a mão para cumprimentá-lo", Christy recordou. "Ele me olhou nos olhos e disse: 'Não'."
Christy é uma voz discordante em relação a algo que a maioria avassaladora de seus colegas considera ser um ponto consensual: que o aquecimento global é um fato cientificamente aceito e uma ameaça grave. Ele não a vê nem como uma coisa, nem como a outra. Não que o planeta não esteja se aquecendo. Está, diz Christy, e o dióxido de carbono que está sendo liberado na atmosfera é pelo menos parcialmente responsável por isso.
Mas, em discursos, depoimentos perante o Congresso e artigos revistos por pares publicados em periódicos científicos, ele argumenta que as previsões sobre o aquecimento foram fortemente exageradas e que a humanidade já superou períodos mais quentes. A disposição de Christy de divulgar uas opiniões também prejudicou sua aceitação por cientistas que tendem a desconfiar de vozes mais estridentes.
"Detesto termos como 'negacionista' ou 'do contra'", ele disse. "Sou um climatologista que baseia suas opiniões em dados. Cada vez que ouço a frase 'os fatos científicos são indubitáveis', digo que posso facilmente demonstrar que isso é falso, porque o clima está aqui à nossa frente. Os fatos científicos não são indubitáveis."
Christy estava apontando para um diagrama que compara sete projeções computadorizadas de temperaturas atmosféricas globais baseadas em medições feitas por satélites e balões meteorológicos. As projeções traçaram uma curva ascendente acentuada, mas as medições reais revelaram uma ascensão apenas ligeira. Diagramas como esses estão à base das divergências entre cientistas.
"Quase qualquer pessoa diria que a alta de temperatura verificada nos últimos 35 anos é menor do que o previsto pelos modelos mais recentes", disse Carl Mears, da Remote Sensing Systems, firma da Califórnia que analisa leituras climáticas por satélite.
"A divergência se dá porque Christy diz que os modelos climáticos não têm valor e que deve haver algo de errado com o modelo básico, sendo que na realidade há muitas outras possibilidades", disse Mears. As possibilidades, segundo ele, incluem variações climáticas naturais e o fortalecimento dos ventos alísios que ajudaram a canalizar calor para o oceano.
Cientistas destacados fizeram questão de reconhecer as credenciais de Christy, 63.
Estas são consideráveis: o cientista estuda questões climáticas há 27 anos e foi um dos autores do relatório de 2001 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, a avaliação definitiva do estado do aquecimento global. Em 1991 ele recebeu uma medalha de realização científica da Nasa por ajudar a construir uma base de dados de temperaturas globais.
Christy diz que ficou fascinado com a meteorologia ainda menino, quando uma tempestade de neve atingiu Fresno, na Califórnia, em 1961. Antes de terminar o colegial ele aprendeu a usar a Fortran, a primeira linguagem de programação de uso amploo. Diplomou-se em matemática na Universidade Estadual da Califórnia em Fresno, tornou-se missionário cristão no Quênia, casou-se e voltou aos EUA para ser pastor de uma igreja missionária na Dakota do Sul.
Ali, como professor de matemática do ensino médio em regime de tempo parcial, ele encontrou sua verdadeira vocação. Deixou seu cargo de pastor, fez doutorado em ciências atmosféricas na Universidade do Illinois e mudou-se para o Alabama.
Hoje, alguns colegas, incluindo os que discordam de Christy, se entristecem com o tratamento que ele recebe.
Christy teme que suas posições em relação ao clima estejam afetando suas chances de publicar pesquisas futuras e conseguir verbas para seus estudos. Um estipêndio que ele recebe do Departamento de Energia termina em setembro. "Existe um establishment climático", ele explica, "e eu não faço parte dele."


Reprodução do The New York Times, na Folha de São Paulo

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