A britânica Anna-Sophie S. é uma delas. Seu parceiro não ficou exatamente satisfeito, mas foi assim, ela optou pelo coito interrompido. "Não é fácil para ele", ela reconhece. "Estraga um pouco as coisas, e cria tensão entre o casal, eu digo o tempo todo para ele tomar cuidado."
Desde que estourou o escândalo das pílulas de terceira e quarta gerações, ela parou com a sua, também "por razões ecológicas". Ela é alérgica a preservativos e sabe que poderia usar um DIU, algo que talvez ela faça quando tiver dinheiro. Aos 22 anos, ela nunca encontrou trabalho fixo desde que obteve seu certificado de assistente de gestão. Seu parceiro também está desempregado. Então todos os meses eles esperam sua menstruação descer "com preocupação". Segundo o estudo Ined-Inserm dedicado às escolhas de contracepção desde a crise das pílulas, o recurso aos métodos naturais aumentou muito entre as mulheres com dificuldades financeiras e/ou sem diploma universitário. A recusa em sujeitar seus corpos aos hormônios também teve influência.
"Exige um pouco de controle"
O estudo indica que entre 2010 e 2013, a pílula recuou 9% entre as mulheres de 15 a 49 anos. O DIU ganhou 1,9% e o preservativo, 3,2%. Mas o maior aumento (3,4 pontos) foi registrado entre os métodos naturais, opção de 9,5% das mulheres agora. Entre a faixa etária dos 20 aos 44 anos, a abstinência periódica (método Ogino, por exemplo), era em 2013 a opção preferida por 3,8% das mulheres (+0,5%) e o coito interrompido por 5,2% (+2,1%), segundo números obtidos pelo "Le Monde" junto ao Inserm. Essas práticas, que eram dominantes antes dos anos 1960, eram adotadas por 33,9% das mulheres em 1978. Em 2000, o índice chegava a 5,5%.Flore (nome fictício), uma jornalista de 29 anos da região Leste, parou há sete anos com a pílula por razões médicas. Desde então ela optou pelo DIU, mas não se adaptou a ele e não quis trocá-lo quando chegou a hora. "Disse a meu médico que iria calcular meus ciclos de ovulação. Ele me disse que era arriscado", ela lembra. "Eu não faria isso dez anos atrás, mas estou em uma fase de minha vida em que, se eu engravidar, vou ficar com o bebê." Durante os períodos férteis, ela adota o coito interrompido. Ela sabe que seu parceiro toma cuidado, pois ele ainda não quer ser pai.
Também há homens que preferem o coito interrompido. Como o jurista de 30 anos da cidade de Rennes, cuja namorada teve a libido reduzida "a zero" pela pílula. "Exige um pouco de controle, mas acontece de maneira totalmente natural". Se bem usado, ele considera o método "infalível". Fazer isso é gerenciar a contracepção a dois, o que agrada as mulheres. "Meu novo parceiro não gosta de todos esses produtos aos quais o corpo da mulher é submetido. Então aprofundamos o método juntos", conta a funcionária de ótica de 29 anos Marie C., da região Sul, que tira sua temperatura de manhã.
78% de eficácia para o coito interrompido
Quando ela era adolescente, sua mãe, que é católica, a havia iniciado no método. Ela zombou e começou a tomar pílula. Durante vários anos, ela fez "qualquer coisa", tomando os comprimidos seguidamente para nunca estar menstruada quando visse seu namorado. Ela faz dos métodos antigos quase uma reivindicação. Isso nunca a impediu de fazer sexo. Durante os períodos com alto risco de gravidez, ela opta pelo coito interrompido ou pelo preservativo.Seria essa uma verdadeira tendência? Cedo demais para saber. Mas já foram desenvolvidos aparelhos sofisticados que permitem estimar o período de ovulação. Além disso, há sites católicos que defendem a abstinência temporária. "Isso quer dizer manter intacta, a cada relação sexual, nossa capacidade de gerar vida", afirma o Méthodes-naturelles.fr, cujo nome passa uma impressão de site oficial.
Independentemente do que digam seus adeptos, existem diferenças de eficácia. Segundo o site das autoridades sanitárias Choisirsacontraception.fr, o DIU hormonal registra 99,8% de "eficácia prática", a pílula 91%, o preservativo 85%, o coito interrompido 78% e os métodos de abstinência periódica 75%. Mas ele coloca esses métodos entre os meios de contracepção. Alguns médicos acreditam que não seria o caso, uma vez que eles não impedem totalmente a gravidez.
"Jamais aconselharei esses métodos"
Os números dos pesquisadores dão o que pensar aos médicos. Mady Denantes, clínica geral no 20º arrondissement de Paris, não tem nenhuma paciente que tenha feito tal escolha. "Os médicos estão por fora de alguma coisa? Se essas escolhas estão sendo feitas por falta de informação, é algo muito preocupante", ela diz."Pode ser somente uma em cada dez mulheres, mas não deixa de ser uma em cada dez mulheres. Vou reforçar meu discurso cético", diz Gilles Dauptain, ginecologista-obstetra no hospital de Gonesse (Val-d'Oise). Suas únicas pacientes que dizem proceder dessa maneira alegam motivos espirituais, mas ele sabe que muitas mulheres não consultam um ginecologista.
"Àquelas que me perguntam a respeito, eu não digo que seja ruim, eu as alerto. Depois elas fazem o que quiserem. Mas jamais aconselharei esses métodos, ao contrário do que alguns fazem." Além disso, ele considera o nome inapropriado: "Eles não são muito compatíveis com a naturalidade das coisas: ter uma relação sexual depende da vontade do momento, não do período do ciclo, sem contar que essas mulheres vivem angustiadas."
"Não é algo trivial quando, em um grupo, quase 15% das mulheres o utilizam como contracepção", acredita Nathalie Bajos, diretora de pesquisa no Inserm, referindo-se às mulheres de renda mais baixa. Para ela, é preciso tentar descobrir a melhor forma de falar sobre isso, pois todos concordam que esses métodos de observação do corpo são complexos de entender e de se aplicar, o que explica seu índice mais elevado de falha.
Reportagem do Le Monde, reproduzida no UOL.
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