sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Fábrica de Amarildos


2 de agosto. PMs do batalhão de Irajá (zona norte) sinalizaram para um o carro com características semelhantes às de veículo envolvido em assaltos. O motorista não parou. Pelo menos sete tiros foram disparados. Uma bala de fuzil atingiu Haissa, 22. Voltava de um pagode, com quatro amigos. Quatro PMs foram afastados.
27 de julho. Policiais militares da UPP Fogueteiro (região central) patrulhavam área de venda de drogas. Avistaram dois homens, tidos como suspeitos. Há um tiroteio. Um fugiu, o outro caiu. Vitor, 40, foi atingido por seis tiros. Segundo a polícia, tinha uma pistola. Sua mulher contou que viu os policiais atirarem na cabeça do marido, enquanto agonizava. Seis policiais estão presos.
11 de junho. Dois cabos prenderam e colocaram na caçamba do carro da PM três garotos acusados de cometer furtos e os levaram para o morro do Sumaré. Um foi liberado; dois foram alvos de tiros. O corpo de Matheus, 14, foi encontrado no dia seguinte. O terceiro, baleado, fingiu-se de morto e fugiu. Na câmara do carro, estão gravados diálogos estarrecedores: "Menos dois. Se a gente fizer isso toda semana dá pra ir diminuindo". Os policiais estão presos.
23 de maio. Policiais civis faziam operação no morro do Banco (zona oeste). Um morador filmou a cena. Allyson, 19, levantou as mãos. Os policiais se aproximaram. Ele se ajoelhou. Tiros foram ouvidos. Caiu morto. Os três estão afastados das ruas.
Na mochila de Alysson havia drogas, diz a polícia. Os levados para o Sumaré podem ter roubado. Vitor podia estar armado. O carro com Haissa não parou na abordagem policial. Não importa. Foram assassinados pela polícia. Sem chance de defesa. Quatro histórias. Quatro mortes.
Exemplos de incompetência, imperícia e impunidade. A polícia do Rio é uma fábrica de Amarildos. É insuficiente perguntar cadê. O Estado precisa responder por quê.

Texto de Paula Cesarino Costa, na Folha de São Paulo.

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