terça-feira, 12 de agosto de 2014

Interesse das massas lota museus

PARIS - Numa tarde em julho, a fila para entrar no Louvre dava a volta da pirâmide na entrada, atravessava um pátio longo e adentrava o seguinte. Dentro do museu, uma multidão se formava diante da "Mona Lisa", a maioria das pessoas fazendo fotos com seus celulares. Perto da "Vitória Alada de Samotrácia", Jean-Michel Borda, que tinha vindo de Madri, fez uma pausa no meio da multidão. "É como o metrô no início da manhã", comentou.
No auge do verão europeu, milhões de turistas visitam o Louvre -o museu de arte mais movimentado do mundo, que no ano passado recebeu 9,3 milhões de visitantes- e outros grandes museus em toda a Europa. O número de visitantes aumenta a cada ano, refletindo o surgimento de novas classes médias, especialmente na Ásia e Europa Oriental. O Museu Britânico teve um número recorde de visitantes no verão passado e ao longo de 2013 recebeu 6,7 milhões de visitantes, sendo o segundo mais visitado museu de arte do mundo, segundo o "Art Newspaper". O número de visitantes da Galeria Uffizi, em Florença, no primeiro semestre de 2014 foi quase 4% superior ao mesmo período do ano passado.
O público farto converteu muitos museus em espaços superlotados, obrigando as instituições a debater como conciliar a acessibilidade com a preservação das obras de arte. A maioria dos museus oferece ingressos com hora marcada. Para proteger as obras de arte, alguns estão instalando novos sistemas de ar condicionado. Mesmo assim, para alguns críticos essas medidas não bastam.
No ano passado os Museus do Vaticano receberam 5,5 milhões de visitantes, um recorde de público. Este ano, graças à popularidade do papa Francisco, a previsão é que esse número suba para 6 milhões. O Vaticano está instalando um novo sistema de controle climático na capela Sistina para ajudar a poupar os afrescos de Michelangelo da umidade gerada pelas 2.000 pessoas que lotam o espaço em qualquer horário -recentemente, até 22 mil pessoas por dia.
O diretor dos Museus do Vaticano, Antonio Paolucci, disse que sua instituição enfrenta um dilema: para proteger os afrescos, o número de visitantes não pode aumentar. "Mas a Capela Sistina possui um valor religioso simbólico para os católicos, e não podemos impor um limite."
Mas as visitas a museus podem se tornar cansativas. A guia de turismo Patricia Rucidlo, em Florença, disse que as visitas à Accademia, famosa por abrigar o "Davi" de Michelangelo, viraram "um pesadelo" este ano porque agora é permitido tirar fotos.
"Agora as pessoas se acotovelam diante das pinturas, pisam sobre qualquer pessoa, empurram, fazem uma foto e então avançam rápido, sem sequer olhar para a tela", ela escreveu em mensagem de e-mail.
Para muitos, porém, vale a pena enfrentar as multidões e as filas longas. No Louvre, Manu Srivastan, 46 anos, de Jabalpur, Índia, contou que tinha vindo com sua família.
Estavam esperando havia 45 minutos e ainda teriam que aguardar mais 15, mas não estavam incomodados. "O Louvre é uma experiência incrível", ele disse. "Você aprende muito e sempre quer voltar."


Reprodução de reportagem do The New York Times, na Folha de São Paulo

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