Elio Gaspari foi recentemente homenageado no 9º Congresso Internacional
da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), realizado
no fim de julho, em São Paulo, por seu trabalho jornalístico, seus
quatro magníficos volumes atualizados sobre a história do regime militar
brasileiro e por seu site "Arquivos da Ditadura"
(www.arquivosdaditadura.com.br), uma coleção on-line de registros,
diários e documentos, que usou como base para seus livros.
Um quinto volume está prometido, cobrindo os anos finais da ditadura até
o ano de 1984. A Abraji produziu um vídeo maravilhoso em homenagem a
ele. Fundada em 2002, a Abraji demonstra o quanto os jornalistas
investigativos brasileiros são vitais para a prestação de contas na
democracia do Brasil.
Conheci Elio Gaspari em 1966, em um coquetel oferecido por Christian e
Pauline Adams em seu apartamento na praia do Flamengo, no Rio de
Janeiro.
Christian Adams era um jovem diplomata britânico que havia se formado
pouco antes na Universidade de Oxford. Era um amigo encantador e se
interessava por tudo que se relacionasse ao Brasil. Morreu depois, muito
antes da hora, quando servia como embaixador britânico na Tailândia. Na
época, Elio tinha 22 anos e trabalhava para o colunista social Ibrahim
Sued. Eu tinha 25 anos.
Ele me perguntou o que eu estava fazendo no Rio de Janeiro. Estava
pesquisando a história do Brasil no final do século 18 e contei a ele a
respeito. Ele perguntou o que eu achava das respostas de Tomás Antônio
Gonzaga (1744-1810) aos seus interrogadores depois de ser aprisionado
como conspirador da Inconfidência Mineira, em 1789. Eu ainda não tinha
lido os "Autos da Devassa".
A pergunta de Elio me chocou. Viajei a Minas Gerais. Cinco anos mais
tarde, depois de vasculhar arquivos no Brasil, em Portugal, na Espanha,
na França e no Reino Unido, e de ler cuidadosamente os "Autos da
Devassa", eu estava mais preparado para respondê-la.
Elio sempre foi um historiador manqué.
Nós o indicamos como professor visitante para a Universidade Columbia.
Um cientista político se queixou de que ele era inelegível por não ter
diploma universitário.
Expliquei o motivo: Elio, que estava estudando História, foi expulso da
Faculdade Nacional de Filosofia (FBF - RJ) por Eremildo Luiz Vianna,
então diretor da instituição.
Desde então, Eremildo (como personagem de ficção, é claro) vem sendo
personagem importante nas colunas de Elio. Isso não é um cumprimento.
Elio tem memória napolitana para as injustiças.
Texto de Kenneth Maxwell, na Folha de São Paulo.
Tradução de Paulo Migliacci.
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