quarta-feira, 13 de agosto de 2014

As gambiarras com a política de juros

Há uma incapacidade crônica dos nossos melhores economistas em investir contra o pensamento estabelecido e pensar soluções definitivas para o país.
Tome-se o caso do sistema de “metas inflacionarias” adotado pelo Banco Central em 2001.
A ideia central é permitir ao BC articular as expectativas de mercado:
  1. Aumenta a inflação, o BC aumenta a Selic.
  2. Teoricamente, aumentando a Selic há um encarecimento do crédito, reduzindo a demanda.
  3. Com menos demanda haveria menos pressão sobre os preços.
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Até agora, sucessivos trabalhos acadêmicos mostraram:
  1. A maior influência sobre a inflação é a indexação. Sobre isso, o sistema de metas inflacionarias não tem a menor influência.
  2. O sistema de metas inflacionarias atua apenas sobre duas pernas: uma, a da apreciação cambial (com todo o leque de problemas que traz); outra, através das expectativas.
As expectativas afetam muito pouco o consumo. Mas afetam em muito o investimento. O consumidor continua consumindo; mas o empresário não irá aumentar a produção.
Consequência: consumo em alta, produção em queda, gerando desequilíbrios de monta.
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Vejamos, agora, os efeitos deletérios da Selic.
O primeiro, é a apreciação cambial, uma herança maldita que está destroçando a estrutura industrial do país.
O segundo – como já foi dito – o de desestimular os investimentos sem desestimular o consumo.
O terceiro, o custo fiscal dos incentivos dados pelo governo para o financiamento privado.
Para ampliar o funding,  o governo injetou uma enorme soma de recursos especialmente no BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social.
O Tesouro capta a 11% ao ano; o BNDES empresta a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo) de 5%. A diferença entre as duas taxas significa um custo fiscal de R$ 30 bilhões por ano, ou 0,6% do PIB brasileiro.
Evidentemente que a distorção está não apenas nos níveis elevados da Selic, mas no fato de se tentar amarrar o financiamento da dívida pública e toda estrutura de taxas de juros longa aos movimento de curto prazo da política monetária.
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Os desafios definitivos do país são:
  1. Discutir modelos que eliminem de vez os fatores que ainda pressionam os preços, dentre os quais a indexação
  2. Desindexar a dívida pública dos movimentos de curto prazo da política monetária.
  3. Encontrar outros mecanismos que permitam coordenar as expectativas.
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Em vez disso, dois dos melhores economistas atuais propõe meras gambiarras.
Em vez de – com suas luzes – pensar em outras formas, menos custosas, de coordenar as expectativas, o ex-Ministro Delfim Netto enaltece o efeito expectativas.
Nelson Barbosa propõe aproximar a TJLP da Selic, para evitar o custo fiscal. Ou seja, indexar ainda mais a economia em movimentos pró-cíclicos: a inflação aumenta, a economia piora, aumenta a Selic e, de quebra, aumentam os juros do BNDES.
Segundo Barbosa, a medida irá melhorar as expectativas de longo prazo da economia.
Poderá melhorar as expectativas do mercado; não do empresário que irá tomar um financiamento, agora a taxa de juros pós-fixadas.
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Tudo isso em nome de um modelo – as metas inflacionárias – que até hoje não se mostrou eficaz no combate à inflação.

Reprodução do Blog do Luis Nassif.

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