As condições extraordinárias da Bolívia, que o êxito eleitoral de Evo Morales faz o mundo notar, devem muito a ter existido o governo Lula.
A reação conservadora à primeira vitória de Morales foi feroz. O secular golpismo boliviano ativou-se logo, impulsionado pelo agronegócio do Departamento de Santa Cruz, com apoio, inclusive, de brasileiros que exploram muitas terras naquela Estado fronteiriço. Em pouco tempo, o golpismo progrediu para separatismo, disposto a recorrer mesmo à guerra civil. Os golpistas contavam com apoio daqueles conhecidos patrocinadores de golpes na América Latina. Foi a intervenção contrária de Lula, com intensa e sigilosa atividade do governo brasileiro, que conteve ou facilitou a contenção da incandescência que se iniciava, inclusive com mortes.
Até a região de Santa Cruz deu a vitória a Morales.
A política externa brasileira está sob ataque dos ex-embaixadores adeptos da proximidade com as políticas dos Estados Unidos, por eles praticada até 2003. Muitas das posteriores iniciativas por eles desaprovadas, porém, levaram a avanços não só para o Brasil. Todas sem o apoio, também, dos meios de comunicação brasileiros. Pena que tudo isso ainda esteja por ser contado.
Do lado boliviano, o governo Lula encontrou um interlocutor difícil, mas brilhante: o vice-presidente Álvaro García Linera, que é a cabeça política do projeto liderado por Evo Morares e o estrategista do governo. Uma opinião brasileira sobre ele: "É difícil porque ora ele raciocina como político, às vezes tem a cabeça de físico, e sempre é o intelectual".
Trecho da coluna de Jânio de Freitas, na Folha de São Paulo.
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