Esta é uma especialidade brasileira, muito utilizada em momentos de
impasse no qual os modelos se esgotam e só produzem resultados pífios.
Depois de um jogo catastrófico, todos percebem que uma transformação é
necessária. As ruas começam a clamar por mudanças, renovação. Então, os
dirigentes convocam a imprensa e, com ar grave, como se estivessem sob o
tribunal de um limiar histórico, dizem às câmeras: "Diante do clamor
por mudanças e pelo novo, precisamos ter coragem de inovar. Por isto,
apresentamos o novo técnico da seleção... Dunga".
Você olha para toda aquela pantomima, coça os olhos e pensa: "Dunga?".
No que só resta a resposta, telegráfica e que no entanto diz tudo: "Sim,
meu amigo, o próprio". É assim que o Brasil diz que inova.
Bem, diante do esgotamento evidente do lulismo como motor de
transformação social, temos nessas eleições alguém que hoje corre o
risco de fazer involuntariamente o papel de Dunga da política
brasileira, a saber, o senhor Aécio Neves e seu partido. Com um time
herdado do antigo governo FHC, incapaz de fazer qualquer avaliação
crítica de seu próprio passado e capitaneado por alguém que não viu
problemas em afirmar que: "o salário mínimo cresceu demais", ele partirá
para a conquista de corações e mentes à procura de renovação e mudança.
Mas, para isso, seria bom tentar inovar ao menos no comportamento.
Por exemplo, é regra do jogo acreditar que quem grita mais alto
"corrupção" leva tudo. Mas e se mudássemos o jogo e exigíssemos,
primeiro, uma autocrítica a respeito das histórias escusas que circulam
dentro de sua própria casa? Que tal criticar o mensalão só após explicar
como é possível fazer parte de um grupo político composto por pessoas
que idealizaram o próprio mensalão em sua versão 1.0 (o famoso mensalão
mineiro)?
Da mesma maneira, a maioria da população espera ainda ser convencida
sobre ações, digamos, controversas, como por exemplo o aeroporto público
construído em terras de familiares e com chaves nas mãos de parentes.
Melhor não fazer o que sempre faz seu partido quando cobrado por
questões sobre a corrupção do metrô paulista ("Não vi a bola"), sobre o
envolvimento de governadores como o goiano Marconi Perillo em esquemas
ilícitos ligados a contraventores ("O juiz me prejudicou") e outros
clássicos.
Aproveitando, valeria a pena explicar direito, entre outras tantas
coisas, porque seu Estado não paga o piso salarial nacional mínimo aos
professores, porque somente 35% das crianças mineiras conseguem vaga na
educação infantil, porque efetivou sem concurso mais de 98 mil
servidores, deixando essas pessoas em situação de fragilidade jurídica.
Neste jogo, repetir compulsivamente "renovação" não dá resultado algum.
Texto de Vladimir Safatle, na Folha de São Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário