Igreja atrai rebanho jovem e urbano
Por MICHAEL PAULSON
LOS ANGELES - Um australiano musculoso e bronzeado, de 32 anos, com a palavra "faith" ("fé") tatuadas no bíceps, caminhou até o palco de um antigo teatro burlesco e gritou para o mar de braços esticados e celulares erguidos: "Vamos conquistar esta cidade juntos!".
Jovem, diversificada e devota de Jesus, a plateia do Belasco Theater havia saído de toda a cidade, e de todo o país, com a intenção de ajudar uma megaigreja pentecostal australiana a estabelecer seu primeiro posto avançado na Costa Oeste dos Estados Unidos, como parte do seu avanço mundial.
A igreja Hillsong tornou-se um fenômeno aproveitando -e inclusive moldando- as tendências de crescimento do cristianismo evangélico e da cultura jovem cristã. Seu sucesso já seria bastante incomum numa época em que as religiões estão em baixa na Europa e na América do Norte, onde o laicismo prevalece. Mas a Hillsong é surpreendente por ter como público-alvo os cristãos das grandes cidades, onde a fé parece fora de moda, e ainda assim ter seus cultos lotados.
Energizada por uma próspera e lucrativa gravadora que domina a música gospel contemporânea, a Hillsong tem uma vasta abrangência -segundo estimativas, contabiliza 100 mil pessoas nos seus templos a cada fim de semana, 10 milhões de seguidores nas redes sociais e 16 milhões de álbuns vendidos, com músicas bombando em igrejas do Uzbequistão a Papua-Nova Guiné.
Fundada há 30 anos, a Hillsong tem templos em Amsterdã, Barcelona, Berlim, Cidade do Cabo, Copenhague, Kiev, Londres, Nova York, Paris, Estocolmo, Austrália e, agora, Los Angeles.
"Sem dúvida alguma, são os produtores mais influentes de músicas de louvor", disse Fred Markert, líder no Colorado da organização cristã Jovens Com Uma Missão. Mas seus críticos, e há muitos, ridicularizam a Hillsong, tachando-a de cristianismo para hipsters, sugerindo que sua teologia é rasa, que seu entusiasmo por celebridades é inapropriado (Justin Bieber está entre seus fãs) e que suas posturas (oposição ao aborto e uma posição obscura sobre a homossexualidade) são opacas. "O que diferencia a Hillsong é a minimização do real conteúdo do Evangelho e uma apresentação bem mais difusa da espiritualidade", disse R. Albert Mohler Jr., do Seminário Teológico Batista do Sul, em Louisville, Kentucky.
Para jovens cristãos em cidades onde a Hillsong possui templos, a entidade tornou-se um ímã, combinando a produção de um show de rock, a energia de uma casa noturna e a comunhão de uma megaigreja. Muitos fiéis se dizem atraídos pela música, mas ficam nos cultos para manter contato com outros jovens cristãos e porque acreditam que as igrejas podem ajudar a transformar as cidades por meio da oração e dos serviços sociais.
"Quero fazer parte de algo maior do que eu", disse Tricia Hidalgo, 29, que contou ter ouvido pela primeira vez as músicas da Hillsong na igreja que frequentava quando criança em Ontario, na Califórnia, e que largou o curso de magistério para se mudar para a Austrália e frequentar a escola bíblica da Hillsong.
Agora, Hidalgo é voluntária na igreja de Los Angeles.
A Hillsong é exemplo de um fenômeno crescente no cristianismo global: grandes igrejas com "marcas" fortes, dominando metrópoles laicas.
"Historicamente os evangélicos eram pessoas do campo, e as cidades eram os lugares onde morava o pecado", disse Ed Stetzer, do instituto LifeWay Research, de Nashville, que estuda práticas cristãs nos Estados Unidos. "Mas as cidades também são os lugares onde as pessoas estão."
A Hillsong, fundada por Brian Houston e sua mulher, Bobbie, é antiaborto e considera pecaminosas as relações sexuais entre gays. Mas, recentemente, seus líderes moderaram o tom.
Nos EUA, a Hillsong é uma igreja independente. Na Austrália, está associada às Igrejas Cristãs Australianas, que por sua vez são afiliadas às Assembleias de Deus. Por um período, Houston comandou a denominação.
Em 2000, Brian demitiu seu pai, Frank Houston, que estava colaborando com outra igreja, depois que Frank admitiu ter molestado um garoto décadas antes. Um dos filhos de Brian, Joel, é diretor de criação da Hillsong e pastor na filial de Nova York. Outro filho, Ben, é o pastor da Hillsong em Los Angeles -é ele que tem a palavra "fé" tatuada no braço.
Os cultos são normalmente realizados em casas de show com pouca luz. Há filas para entrar. Tom Wagner, um etnomusicólogo da Universidade de Edimburgo, disse que a música da Hillsong se caracteriza por uma orquestração rica, mas com harmonias simples.
"Eles são muito bons em compor músicas que pegam", disse. "Sabem o que funciona."
Reprodução de reportagem do The New York Times, na Folha de São Paulo.
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