domingo, 12 de outubro de 2014

Tropas da elite

Deve acontecer o mesmo em São Paulo, mas esta história se passou no Rio.
Mulher se mudou para um bairro de classe média da zona sul. Procurada por seguranças da rua, disse que não pretendia pagar a taxa de proteção. Dias depois, um homem com camisa "vigia comunitário" se aproximou: "A senhora chega tarde, tem uma filha pequena...". Na mesma semana, dois pneus do carro da mulher apareceram furados. Ela, então, resolveu pagar os R$ 100 mensais.
Conversando com amigas que moram em outros bairros da zona sul, como Ipanema e Leblon, ouviu que elas também pagavam, que não havia nada a fazer.
A rua em questão fica a duas quadras de um batalhão da Polícia Militar. Dá para arriscar que se sabe no quartel o que acontece nas redondezas. Ir a uma delegacia é temerário: os grupos de segurança privada são controlados por policiais e ex-policiais.
As milícias são tão ou mais perigosas do que as facções que operam a venda de drogas --das quais são sócias em alguns negócios. Elas têm agentes do Estado; elegem vereadores e deputados; apoiam prefeitos e governadores; seus integrantes não vivem malocados em morros; e são mais bem treinados.
A Secretaria de Segurança diz que estão em 28 bairros cariocas. Reportagem do jornal "O Globo" estima em 51. A classe média e os abastados acham que milícia é coisa de lugar pobre, onde torturas e assassinatos são rotina. Nós, com patrimônio e com medo, pagamos só para dormir em paz, sonhando com o dia em que o Capitão Nascimento e seu kit tortura deem conta da "bandidagem".
Em vez do histérico "Tropa de Elite", o filme que retrata essa privatização militarizada do espaço público é o preciso "O Som ao Redor".
Financiamos os que controlam nossas vidas. E eles agradecem: "A senhora tem uma filha pequena...".


Texto de Luiz Fernando Vianna, na Folha de São Paulo.

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