Produção é antídoto para omissão dos EUA em relação aos cartéis de drogas
Uma série de reportagens do jornal "San Jose Mercury News" revelou que para financiar os Contras, guerrilha anticomunista na Nicarágua, a CIA permitia que os guerrilheiros vendessem cocaína nos Estados Unidos.
A revelação dessa aliança causou escândalo em 1996, derrubou um diretor da agência americana e mostrou a hipocrisia da chamada "guerra às drogas" dos anos Reagan (entre 1981 e 1989).
Mas o filme "Kill the Messenger" ("mate o mensageiro"), em cartaz nos EUA e sem data para estrear no Brasil, engrena mesmo ao mostrar como a imprensa americana preferiu tomar o lado da CIA e destruir a reputação do jornalista Gary Webb (1955-2004), que investigou a história.
Premiado com o Pulitzer, a maior distinção do jornalismo americano, Webb (Jeremy Renner) conheceu traficantes que eram pagos pela CIA como informantes, esteve na Nicarágua e conversou com ex-agentes da CIA que se bandearam ao narcotráfico.
Mas outros jornais muito maiores começaram a apontar inconsistências em Webb e até a falar de sua vida pessoal, preferindo focar no "mensageiro" do que na CIA.
Traído por seus superiores, Webb foi transferido para uma desimportante sucursal na Califórnia, onde não voltaria a brilhar como repórter.
Apesar dos cacoetes dos dramas "baseados em fatos reais" (a humanização melodramática do herói, a obrigação de se acelerar em dezenas de detalhes, entre outros), "Kill the Messenger" lembra o cinema político dos anos 1970, cada vez mais ausente em Hollywood.
Dirigido por Michael Cuesta (das séries de TV "A Sete Palmos" e "Homeland"), o filme fala indiretamente sobre o efeito da "guerra às drogas" no corredor da morte que vai da Colômbia ao México.
Sem ser um documentário, ele é antídoto para o discurso "não temos nada a ver com isso", bastante invocado contra as crianças que imigram para os EUA fugindo dos cartéis da droga, e da recente criminalização de jornalistas que desafiam as agências de inteligência por seus próprios colegas no establishment.
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