Em todo modelo democrático, há a influência de grupos econômicos na política. Seja nos Estados Unidos ou no Brasil, cada partido político monta alianças com grandes grupos que irão financiar suas campanhas e ter direito ao butim.
São partes interessadas todos os grupos que dependem de demandas do Estado – de empreiteiras a grupos de mídia -, que dependem da regulação pública – empresas de telecomunicações -, no caso dos EUA empresas ligadas ao complexo industrial-militar.
A diferença do Brasil é o grau de promiscuidade da política com os negócios, que chegou a tal ponto que criou uma cadeia improdutiva da corrupção, na qual todos se beneficiam.
O partido que está no poder – seja o federal ou nos estados – beneficia-se e aos seus, enquanto situação. Do outro lado, o principal partido de oposição se beneficia do discurso da denúncia – especialmente se não tem bandeiras para colocar no lugar.
Ponto central nesses jogos são os grupos de mídia. São eles que dão repercussão a denúncias. Quando isentos, são grandes fiscais da cidadania. Quando parciais, tornam-se cúmplices de jogadas do pior nível.
***
O jogo é simples. Aparece uma testemunha qualquer, com idoneidade ou não, e faz uma acusação verbal contra o alvo a ser destruído. Pouco importa se a acusação tem fundamento ou não. Aceitam-se até acusações em off, sem a menor garantia de que exista ou não um acusador.
O passo seguinte é conseguir um procurador que transforme a manchete em inquérito. Depois, há a investigação de praxe, que fornecerá mais materiais para denúncias, em um processo de retroalimentação.
No final, pouco importa se nada foi apurado, se a pessoa era inocente, se as denúncias eram falsas. O estardalhaço foi suficiente para liquidar com sua vida ou carreira política. E nada ocorrerá com os que participaram da trama - de procuradores e veículos de mídia.
***
Um exemplo notório desse jogo é o que ocorreu com o ex-deputado Gabriel Chalita.
Secretário da Educação de Geraldo Alckmin, acumulou um bom cacife eleitoral.
José Serra cercou seu espaço no PSDB e Chalita se viu obrigado a mudar de partido. Foi para o PMDB, candidatou-se a prefeito de São Paulo e obteve 13% dos votos. Seria um candidato competitivo ao governo do estado de São Paulo.
***
De repente, aparece um ex-assessor com uma denúncia amplamente repercutida pela revista Veja – que sempre atuou como braço armado de Serra.
Na sequencia, o então Procurador Geral da República Roberto Gurgel enviou ao STF (Supremo Tribunal Federal) pedido de abertura de inquérito contra ele. Em São Paulo, foram abertos 11 inquéritos pelo Ministério Público Estadual.
Os jornais de São Paulo foram inundados de declarações dos promotores estaduais, divulgando documentos, fotos, e-mails do ex-assessor, mesmo antes de apurar sua consistência e veracidade.
***
A maior parte das denúncias foi arquivada, por falta de provas. Restaram alguns episódios menores, de âmbito administrativo. Mas a carreira política de Chalita estava liquidada; sua vida pessoal, devassada. O que aconteceu com os veículos que divulgaram as falsas denúncias?
Nada. No precário modelo jurídico brasileiro, eles têm liberdade para matar.
Reprodução do Blog do Luís Nassif.
Nenhum comentário:
Postar um comentário