Dois dos principais alvos dos protestos de junho de 2013 estão à beira de amplas vitórias nas eleições.
Geraldo Alckmin, cuja polícia fortaleceu as manifestações após entrar em cena com seu conhecido cardápio de bombas e cacetadas, pode ser reeleito até no primeiro turno em São Paulo. Também era visto como símbolo do propinoduto tucano nas licitações do metrô.
Sérgio Cabral, cuja polícia torturou, matou e sumiu com o corpo do pedreiro Amarildo de Souza, continuará no poder se for confirmado o favoritismo de seu vice, Pezão. As caronas em jatinhos de empresários que tinham contratos com o governo do Rio e a farra dos guardanapos na cabeça em Paris foram emblemas do cinismo que as manifestações combatiam.
É de um simplismo tosco dizer que tais triunfos eleitorais significam a derrota dos anseios de junho. Mas indicam que aquelas pautas levadas às ruas não estão chegando às urnas.
Compreende-se que um movimento propositalmente amorfo e crítico aos partidos não se faça representar por nenhuma força institucionalizada. Mas por que certos temas foram soterrados pela caretice medieval que domina as campanhas?
Desmilitarização gradativa da polícia, transporte barato, ampliação dos direitos civis (ao aborto, ao casamento entre pessoas do mesmo sexo)... Nenhum desses temas, embora gritados no ano passado, protagonizou de fato os debates de agora --a não ser acidentalmente, com a fala nefasta de Levy Fidelix.
A imbecilidade dos black blocs, a truculência policial e a criminalização das manifestações conduzida por parte da imprensa esvaziaram as ruas, mas não precisavam ter esvaziado as ideias. Junho não chegará ao poder, mas suas pautas ainda podem ser discutidas pela sociedade --contra a vontade dos políticos, sempre na vanguarda do atraso.
Texto de Luiz Fernando Vianna, na Folha de São Paulo.
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