sábado, 18 de outubro de 2014

A lógica das políticas econômicas neoliberais

Digo há algum tempo e enfatizo: do ponto de vista programático, essas eleições são as mais significativas das últimas décadas. Pela primeira vez estão claramente explicitados dois modelos de governo: o neodesenvolvimentista e o neoliberal. Ambos têm suas virtudes e defeitos e propõem o pote de ouro da retomada do desenvolvimento no final do arco-íris. E essa divisão é quase tão antiga quanto o surgimento da economia.

O protagonismo na economia sempre foi disputado por dois setores: o financeiro e o da chamada economia real (comércio, indústria e serviços). A partir de determinado período, o trabalho também tornou-se protagonista, de certo modo aliando-se aos empresários da economia real.

As linhas econômicas, no fundo, representam esses interesses, o neoliberal representando a alta finança; o desenvolvimentista representando a indústria.

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Os neoliberais são fundamentalmente internacionalistas. Isto é, não estão ligados aos interesses nacionais. E, como tal, não enxergam problemas nacionais - como saúde, educação, inclusão social, industrialização - como prioridade.
Sua prioridade  é o interesse do grande capital. A utopia que vendem é que, quanto melhor tratar o capital, mas ele ingressará no país, e, automaticamente trará o desenvolvimento.

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Em alguns pontos o interesse do grande capital bate com o interesse do país.

Mas quando o mercado toma a política econômica nos dentes - como ocorreu no Brasil de FHC e de Lula (até a crise de 2008) - todos os conflitos entre o interesse do capital e do país são arbitrados em favor do capital. O interesse nacional e dos cidadãos ficam em segundo plano.

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Entendendo o que é o negócio do grande capital fica mais claro quais seus interesses na política econômica:
1. Emprestar a governos, através de compra de títulos públicos.

2. Arbitragem de ativos: comprar na baixa e vender na alta. Vale para imóveis, empresas, ações ou moedas de países, cotações de commodities.

3. Swaps de moedas: tomar empréstimos em determinada moeda e aplicar em outra, aproveitando o diferencial de juros.
4. Reestruturação de empresas, através de processos de fusão, incorporação, aquisição ou investimentos em novos setores.

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Em função dessa lógica, na política econômica, ao capital financeiro interessam apenas alguns aspectos seguidos à risca por seus representantes quando Ministros:

Mobilidade de capitais - é condição necessária para entrar rapidamente em mercados "baratos" e sair quando a bolha explode. Qualquer política prudencial recomendaria prazos mínimos de permanência desse capital gafanhoto. Na gestão neoliberal, é anátema, expondo o país à toda sorte de jogadas, como ocorreu em fins de 1998, 2002 e 2009. E, antes disso, no início da República até o país quebrar, em 1932.

Políticas de controle da inflação - toda a estratégia consiste em elevar os juros acima da inflação esperada (como é o caso da política de metas inflacionárias). Afeta o emprego, a produção, mas preserva-se o valor do capital.

Política cambial e de juros - interessa apenas a apreciação do real.Se um investidor trouxer US$ 100 milhões com o dólar a R$ 2,20 e o dólar for a R$ 1,80, só por conta da valorização do real ele sairá do país com US$ 122,2 milhões.  Se aplicar a uma Selic de 12%, sairá com US$ 140 milhões. Se, pelo contrário, na saída o dólar estiver a R$ 2,50, só pelo efeito câmbio seu capital será reduzido para US$ 88 milhões. Esse negócio extremamente rentável fica comprometido quando a relação dívida/PIB torna-se muito alta; ou quando as contas externas se deterioram. Logo, a  perpetuidade desse negócio depende de superávits fiscais robustos.

Superávit fiscal - Cada tostão aplicado em programas sociais tira espaço do capital financeiro para continuar ganhando com a dívida pública. É por aí que se dá a disputa. Daí porque programas como o Bolsa Família, Reuni, Prouni, crédito agrícola jamais serão prioritários em um governo neoliberal.

Bancos públicos - Um setor em crise de capitalização é barato. Basta o financista comprar a empresa ou parte dela, injetar capital para imediatamente haver um salto no seu valor. O mesmo vale para empresas que precisam se capitalizar para crescer. Ao prover capital para esses setores, o BNDES tira mercado e protagonismo dos fundos de investimento.

Política agrícola - o foco do mercado é a grande propriedade agrícola apta a receber financiamento em dólares ou investimento. O crédito agrícola é uma pedra no caminho por fortalecer a pequena e média propriedade, amenizando a concentração fundiária. Em todos os setores, o desenvolvimento se dá pelo fortalecimento das cadeias produtivas, as teias econômicas de pequenas e médias empresas em torno das maiores. Já a lógica do grande capital é o da concentração econômica, da criação de empresas globais.

Incorporação tecnológica - Ao país interessa agregar valor às commodities e às manufaturas, para gerar empregos mais qualificados e balança comercial mais robusta. Ao grande capital, não. Como seu horizonte é o mundo, tanto faz se o processamento das commodities é feito aqui ou na China, desde que seja em empresas controladas por ele.

Reprodução do Blog do Luís Nassif

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