Um manancial de praticamente um terço dos eleitores está à espera de ser
interessado a participar do segundo turno. O mistério do primeiro turno
é a influência que esse manancial, cujas preferências são
desconhecidas, desempenhou no resultado ao deixar de incluir sua
manifestação por um dos candidatos. O mistério agora é quanto dele é
despertável para a participação e, em sendo, como se dividira. Certo é
que pode ser decisivo.
Dos quase 143 milhões de eleitores, 29% não foram à urna, votaram em
branco ou anularam o voto. Bem mais do que todos os votos dados a Marina
Silva, nos seus 21,3%, e próximo do total de 33,6% que levou Aécio
Neves ao segundo turno. É uma quantidade exuberante de participações
negadas ou impossibilitadas, mas, como de outras eleições, logo se ouvem
as corridas em busca de apoio dos derrotados, e nenhuma preocupação em
atrair as multidões disponíveis de trânsfugas.
Esperada por muitos já para amanhã, em reunião a ser conduzida por
Marina, a escolha do PSB por Aécio Neves seria menos simples, na prática
partidária, do que aparenta. Como legenda socialista, o PSB é um
partido considerado e que se considera de esquerda, e, com a adesão ao
candidato do PSDB, estará apoiando a proposta de um governo com política
econômica neoliberal e arrochante em muitos sentidos, por exigência de
uma inflação de 3%, como pretendida pelo projeto de Arminio Fraga/Aécio.
O PSB tem parlamentares e governantes, em exercício e agora eleitos,
identificados com o (pequeno) simbolismo expresso no nome do partido. E
alguns já emitiram os sinais de que puderam acompanhar a candidatura de
Marina, um tanto amorfa em política econômica, mas não iriam além disso.
Para prevenir tais reações, logo entrou em discussão a cobrança de um
compromisso formal de Aécio, protegendo as conquistas sociais
existentes. Mas a forma de garanti-lo, para que não seja mero
facilitador da adesão, continua em aberto. Caso exista.
O mais cobiçado dos apoios individuais está nos quadros do PSB e, do
monumento dos 4,6 milhões de votos para tornar-se senador pelo Rio, o
craque Romário avisa que decidirá por si a sua adesão. E lembra: "Sou um
favelado que se torna senador". Não apoiou Dilma, o que não quer dizer
que tenha dado apoio real a Aécio. Nem que esteve entre as mal
disfarçadas traições a Dilma, que teve o apoio declarado dos quatro
disputantes ao governo e não o recebeu, de fato, de nenhum deles. O foi
mais grave no PMDB, que pôde chegar à campanha com bastante a mostrar
graças, sobretudo, à contribuição federal.
No Rio, aliás, Marina deixa disponíveis 31%, que teve contra apenas 27%
de Aécio e os 36% que comprovam o abandono de Dilma. Onde menos ocorre a
dualidade PT-PSDB é no Rio, ambos fracos. Mas outra multidão de votos
tende a discutir sua adesão: os evangélicos, que vão ao segundo turno
com o arguto bispo Crivella. Se os evangélicos se aliarem para valer,
serão capazes de um salto de gigante rumo ao seu objetivo –o poder. Não
só o do Rio. Os católicos assistem em silêncio.
Os próximos dias serão de negociações por baixo e boatos por cima. Os
prefeitos que preparem os ouvidos, nos Estados sem segundo turno, porque
os governadores eleitos sabem o quanto já são fortes com o poder que
ainda não têm.
Por fim, com Eduardo Suplicy, outra perda histórica a mudar a fisionomia do Senado: Pedro Simon, vencido no Rio Grande do Sul.
Reprodução de texto de Jânio de Freitas, na Folha de São Paulo.
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