Pode ser que no resto da semana apareçam alguns casos lamentáveis.
Mas a primeira impressão, apesar de a democracia no Brasil ser uma
planta tenra, é que tivemos uma eleição tranquila e aparentemente
civilizada. Com poucas surpresas, a estrutura do Tribunal Superior
Eleitoral passou mais uma vez na prova.
A urna eletrônica funcionou sem graves problemas e mais uma vez o Brasil
mostrou que, em matéria de eleição e apuração, está mais azeitado do
que muitos países, como os Estados Unidos, por exemplo. Não faz muito
tempo, houve até um escândalo, falaram até em anular a eleição.
No passado mais ou menos recente, eleição era um caso de polícia.
Roubavam-se cédulas e urnas lacradas, tudo se resolvia no bico de pena e
no coronelismo mais selvagem. Não chegamos ainda ao ponto máximo em
termos de eleição.
Já contei em crônica bem antiga, o exemplo da Suíça. Um brasileiro
ilustre, o grande crítico literário Álvaro Lins, na época chefe do
gabinete civil do governo JK, pernambucano escolado na seara política,
fora convidado pelo governo suíço a assistir a eleição num dos cantões
daquele país.
Acompanhado por um funcionário graduado do governo local, Álvaro Lins
visitou alguns postos eleitorais que, aliás, não existiam. Admirado, não
viu filas nem policiais nas ruas. Perguntou ao acompanhante se era
mesmo dia de eleição. O funcionário confirmou, e explicou que em cada
quarteirão havia uma caixa igual a dos bombeiros, bastava apertar alguns
botões e o voto do cidadão era automaticamente registrado. Nenhum
fiscal, nenhum guarda.
Álvaro Lins perguntou se algum eleitor, entusiasmado, apertasse diversas
vezes os botões relativos a seu candidato. O funcionário estancou na
calçada, perplexo:
"Doutor Álvaro, quem faria isso?"
Texto de Carlos Heitor Cony, na Folha de São Paulo.
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